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SP abriga 14 das 15 cidades mais desenvolvidas do país

FSP, Cotidiano 1, p. C4
26 de Set de 2010

SP abriga 14 das 15 cidades mais desenvolvidas do país
Indicador criado pela Firjan põe Araraquara no topo do ranking em 2007
País vive interiorização do desenvolvimento e mantém desigualdades regionais; 413 das 500 piores são do Nordeste

Pedro Soares
Do Rio

Bons indicadores em saúde e educação e um maior dinamismo no mercado de trabalho formal em 2007 levaram Araraquara (SP) ao topo do ranking das cidades mais desenvolvidas do país, segundo o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal.
Também num patamar de alto desenvolvimento em relação à realidade nacional, as igualmente paulistas Indaiatuba e Vinhedo ficaram em 2 e 3, respectivamente.
Dos 15 mais altos índices municipais, 14 estavam, em 2007, em São Paulo e apenas um no Rio: Macaé (11 lugar).
Lançado em 2005, o IFDM abarca três dimensões do desenvolvimento (emprego e renda, saúde e educação) e se assemelha ao IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Usa indicadores oficiais como mortalidade infantil, consultas de pré-natal, abertura de vagas formais e matrículas no ensino infantil.
Líder em 2006, São Caetano do Sul caiu para 13 pela piora do mercado de trabalho. "As 15 primeiras estão muito parelhas e qualquer evolução muda a posição", diz Luciana Sá, diretora de Desenvolvimento Econômico da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do RJ). Todas as cidades no topo estão no interior. Mais bem classificada entre as capitais, Curitiba surge em 47 lugar.
O país, como um todo, avançou 1,4%, na esteira principalmente da evolução em educação (alta de 4,4%).
Das 500 cidades com pior desenvolvimento, 413 estavam no Nordeste. Já SP concentrava 263 das 500 mais desenvolvidas. A única cidade da região Norte entre as 500 primeiras é a paraense Parauapebas (311ª), em razão dos empregos na mineração.
Entre as capitais, a distância se repete: as mais desenvolvidas eram Curitiba (PR), Vitória (ES) e São Paulo, que perdeu o 2 lugar devido ao menor dinamismo do mercado de trabalho; Rio Branco (AC) tinha o pior índice.
Pouco menos de um terço da população (56 milhões de pessoas ou 31%) vivia, em 2007, em cidades com alto grau de desenvolvimento, contra só 0,9% em 2000.
O grande salto se deu com o ingresso de Rio e São Paulo -17 milhões vivem nas duas cidades-, entre 2000 e 2005, no rol dos municípios mais desenvolvidos graças à melhora do emprego e renda.
Outros 40 milhões viviam em condições precárias. SP, PR e RJ lideraram em 2007. Alagoas era o pior Estado.
Para a economista Sônia Rocha, do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), índices como o IDH e o da Firjan "comparam realidades incomparáveis" ao usarem os mesmos critérios de avaliação para cidades como São Paulo e Araraquara.
Mas ela reconhece avanços. "Estamos, desde 2004, num período de ouro. Aos indicadores sociais, que vinham melhorando de forma sustentada, se juntaram excelentes resultados em criação de postos de trabalho, nível e distribuição de renda e formalização do emprego."

FOLHA.com
Veja ranking completo:
folha.com.br/sa804495

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2609201007.htm

Índices têm a sua utilidade, mas são vulneráveis a críticas

Hélio Schwartsman
Articulista da Folha

O que se pode dizer em favor de índices como o IFDM é que eles traduzem numa medida objetiva diferentes aspectos do desenvolvimento que julgamos relevantes. E consubstanciar essas várias dimensões num único número é útil quando se pretende acompanhar a evolução de uma cidade ou compará-la com a de outros municípios.
Trata-se, como quer o site da Firjan, de uma "ferramenta de gestão pública e de "accountability" democrática".
A moda dos índices começou nos anos 90, depois que, a pedido da ONU, um grupo de economistas, entre os quais o indiano Amartya Sen, criou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
A ideia era reduzir o peso excessivo que se dava à economia -o principal indicador usado era o PIB "per capita"- e incluir outras dimensões. Assim, o IDH leva em conta, além do PIB, expectativa de vida e educação. De lá para cá, foi uma verdadeira febre. Surgiram índices para medir democracia, sustentabilidade, igualdade de gênero e até qualidade de morte.
O problema com essas estatísticas compósitas é que elas são, por sua natureza, muito vulneráveis a críticas. Para cada item que incluem, deixam de fora um número muito maior de variáveis que poderiam perfeitamente ser consideradas uma medida de desenvolvimento. O IDH, por exemplo, é censurado por não trazer nenhum dado da dimensão ambiental.
Mesmo os tópicos que constam da fórmula podem ser contestados. A parte de educação do IFDM considera apenas dados da educação infantil e fundamental. Assim, os ensinos médio e superior, que tendem a tornar-se cada vez mais importantes no futuro, ficam de fora.
Na saúde isso é ainda pior. Das três variáveis utilizadas pelo IFDM, duas dizem respeito a maternidade/infância. Um município no qual a população esteja tão doente que as mulheres não conseguem engravidar e ter filhos teria bom desempenho.
Tal gênero de dificuldade parece ser uma limitação do próprio método. Como o economista Bryan Caplan jocosamente escreveu sobre o IDH: "Isso significa que um país com imortais e PIB infinito teria nota de 0,666 (menor que a da África do Sul e do Tadjiquistão), se sua população fosse analfabeta e não frequentasse a escola". Países escandinavos vêm sempre no topo, conclui o autor, "porque o IDH é basicamente uma medida de quão escandinavos são os países".

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2609201008.htm

FSP, 26/09/2010, Cotidiano 1, p. C4

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