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Sombras na Dinamarca

FSP, Editoriais, p. A2
30 de Set de 2009

Sombras na Dinamarca

Iniciou-se em Bangkok, Tailândia, a penúltima rodada da negociação pelo novo tratado sobre a mudança do clima. Certa exasperação com a ausência de progresso, patente após o resultado pífio da cúpula da semana passada na ONU, se infiltra nas declarações diplomáticas.

O ceticismo cerca o objetivo de chegar a um tratado sobre clima em Copenhague, na Dinamarca, em dezembro. É o prazo-limite para adotar novas metas de redução de emissões de gases agravadores do efeito estufa, como o CO2, que a ciência aponta como fator do aquecimento global. O documento viria para substituir o fracassado Protocolo de Kyoto, que expira em 2012.

Frustra-se, a cada dia, a expectativa de que os Estados Unidos de Barack Obama -ainda o maior emissor do mundo, ao lado da China, e maior responsável pela inoperância do tratado anterior- abandonem o imobilismo da administração Bush.

O Congresso americano se engalfinha na reforma do sistema de saúde e deixa de lado o plano Obama de cortar emissões domésticas, criando um teto para elas, associado à concessão de permissões comercializáveis para emitir. A lógica é que empresas lucrem com a venda de permissões não utilizadas, caso consigam poluir menos, para outras que não atingiram suas metas.

Não surpreende que os Estados Unidos tenham ido de mãos vazias à ONU. Deixaram aberto espaço político que vem sendo ocupado pela China. A delegação chinesa admite buscar reduções, mas só em termos de eficiência (quantidade de CO2 emitida por unidade de produção). A China é o país onde mais cresce o uso do ultrapoluidor carvão para produzir eletricidade.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mais uma vez, vangloriou-se do fato de 45% da energia brasileira provir de fontes renováveis. Propôs reduzir o desmatamento -nossa maior fonte de emissões- em 80%, até 2020, e falou em levar "compromissos precisos" a Copenhague, sem adiantar quais serão.

Está tudo pronto, ao que parece, para reeditar-se o velho impasse entre ricos e pobres que paralisou Kyoto. Talvez o roteiro seja inevitável, nas tratativas em que duas centenas de nações precisam decidir por consenso.

FSP, 30/09/2009, Editoriais, p. A2

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