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Soluções para salvar a Terra

O Globo, Ciência, p. 36
Autor: BRITO, Lidia
30 de Mar de 2012

Soluções para salvar a Terra
ONU terá programa para descobrir como resolver problemas ambientais

Roberta Jansen
roberta.jansen@oglobo.com.br
Enviada especial LONDRES

O desenvolvimento de metas para medir a sustentabilidade e a criação de um PIB mais amplo - um índice que leve em conta, além do crescimento econômico, o valor do capital natural - estão entre as principais recomendações da conferência Planeta sob Pressão, que terminou ontem em Londres, uma preparação para a Rio+20. A conferência anunciou o lançamento de um programa científico global, chamado Terra do Futuro, cujo foco será a busca de soluções para os problemas ambientais. O consenso alcançado na conferência é que a atividade humana provocou alterações tão profundas no planeta que já se pode falar no início de uma nova era geológica, o Antropoceno.
A declaração "O Estado do Planeta", divulgada ao término do encontro, destacou a necessidade de criação de um Conselho de Desenvolvimento Sustentável na estrutura da ONU, que integre políticas sociais, econômicas e ambientais numa esfera global.
- Temos que prover um acesso mais aberto ao conhecimento, precisamos de uma nova forma de medir o progresso, e de novas maneiras de trabalhar para nos adequarmos ao século XXI - afirmou o codiretor da conferência Mark Stafford Smith. - A conferência ofereceu novas ideias e soluções práticas.
Smith frisou a necessidade de criação de novos modelos de desenvolvimento econômico, lembrando que os atuais foram moldados após a Segunda Guerra, numa sociedade diferente da atual, em que o planeta se encontra profundamente alterado pela ação do homem. Numa apresentação feita por vídeo, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que "as mudanças climáticas, a crise financeira,e a falta de segurança em alimentos, água e energia ameaçam o bem-estar da Humanidade e da civilização".
A coordenadora executiva da Rio+20, Elizabeth Thompson, afirmou que está em consonância com as sugestões de Londres. Insistindo num tema muito discutido na capital britânica, a crescente importância das ciências sociais e a compreensão do papel do indivíduo no processo de deterioração do planeta e na cobrança por soluções, Elizabeth frisou que a pressão sobre os governantes é crucial.
- O papel do cidadão, das ONGs, é pressionar os governos. Ocuppy Wall Street, a Primavera Árabe, são isso. Movimentos que fazem os governos responderem às necessidades do povo. O documento tem compromissos, mas a ONU não pode fazer nada sozinha, temos que fazer juntos - disse.
- Político ou servidor público, cientista ou cidadão, comunidade ou empresa, somos todos acionistas da empresa Terra e temos uma responsabilidade conjunta.

'O recurso mais escasso agora é o tempo'

Corpo a Corpo
Lidia Brito

Roberta Jansen
roberta.jansen@oglobo.com.br

Copresidente da Conferência Planeta sob Pressão, que terminou ontem em Londres, a moçambicana Lidia Brito, diretora de Políticas Científicas da Unesco, fez um balanço da reunião. Ela se diz otimista em relação a Rio+20.

O GLOBO: Que balanço a senhora faz da conferência?

LIDIA BRITO: Estou satisfeita, animada. Acho que a qualidade da interação que conseguimos aqui foi diferenciada. Não só trouxemos cientistas das mais diferentes áreas, como também representantes de governos, da sociedade civil, de empresas, todos engajadas num debate alternativo para encontrar soluções. Alguns pontos chamam a atenção. A questão da equidade social como forma de se alcançar a sustentabilidade. O papel do indivíduo nesse processo. E ainda a questão do PIB. Precisamos de novos indicadores para trazer para esta equação não só o lado econômico mas também o social e o ambiental.

O papel político da ciência sai reforçado?

LIDIA: Sim, acho que a ciência está mais visível frente à política.

Os cientistas estão mais ativistas, falando de forma mais aberta. Acho que há uma aproximação maior dos discursos políticos e científicos. E acho também que a ciência está mais apta a responder a necessidades específicas da sociedade. Ouvir suas demandas e achar respostas.

O que a conferência leva em junho para a Rio+20?

LIDIA: Todo este conhecimento e também o senso de urgência. A noção de que o recurso mais escasso agora é tempo. Estamos de fato na Era do Homem, o Antropoceno. Então, temos que estar atentos aos limites do planeta. Vamos levar para o Rio soluções, conhecimento e o compromisso da ciência de responder ao que for pedido.

A senhora tem esperanças de um bom resultado na Rio+20?

LIDIA: Sim, acho que é um momento importante, que deve ser visto em todo o seu contexto, no que acontece antes, durante e depois da conferência no Rio e também no resto do mundo, como esta conferência aqui. Já estamos mudando, abrimos um diálogo, buscamos soluções, buscamos novos indicadores econômicos.

Legado para a Rio+20
Os organizadores da Planeta sob Pressão selecionaram nove temas para a Rio+20. São eles:

ÁGUA: Vital e cada vez mais escassa.

COMIDA: Garantir a produção para 9 bilhões de pessoas até 2050.

GOVERNANÇA: Mesmo com mais de 900 tratados ambientais, o planeta está mais em risco do que nunca.

BIODIVERSIDADE E ECOSSISTEMAS: É preciso buscar asustentabilidade.
SOLUÇÕES: A ciência para evitar o colapso do planeta.

BEM-ESTAR: A sustentabilidade social.

ECONOMIA VERDE: A necessidade de um novo sistema econômico.

ENERGIA: Precisa ser limpa.

SAÚDE: Deve ser prioridade.

O Globo, 30/03/2012, Ciência, p. 36

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