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Solução sustentável pode salvar árvore de extinção

O Globo, Razão Social, p. 17
19 de Out de 2010

Solução sustentável pode salvar árvore de extinção
Extração do óleo de pau rosa pode ser a partir de folhas e galhos

Camila Nobrega
camila.nobrega@oglobo.com.br

Depois de ganhar o mundo em vidrinhos do famosíssimo Chanel o 5, perfume da Coco Chanel, o óleo extraído do pau rosa ganhou status de vilão aqui no Brasil, quando se descobriu que a árvore estava a caminho da extinção. Entrou na mira do Ibama em 2000, já que para extraí-lo era necessário derrubar o pau rosa, e este ano a árvore amazônica foi parar na lista da Convenção Internacional sobre Espécies da Flora e Fauna Ameaçadas de Extinção (Cites, na sigla em inglês). Resultado: queda de produção e exportação, redução de empregos e falta de incentivo para se buscar alternativas.
Mas experiências recentes mostram que a extração do óleo não precisa ser uma atividade predatória. Há produtores brasileiros prontos para exportar, sem derrubar uma única árvore. Mas o mercado está parado há quase um ano, por falta de regulamentação.
O segredo está nas folhas e galhos do pau rosa, já que eles também contêm o óleo. Só que são poucos os produtores que se arriscam à novidade, pois os incentivos ao cultivo sustentável da espécie ainda são pequenos e os resultados a partir das folhas são demorados. Um deles é Zanoni Magaldi, dono da Magaldi Agrocomercial e Industrial Ltda, que produz o óleo principalmente para exportação. Com sede na cidade de Maués, no Amazonas, sua empresa compra madeira para extração do óleo de fornecedores que tenham plano de manejo florestal aprovado pelo Ibama.
Mas ele e o filho, seu sócio, resolveram apostar na retirada do óleo a partir das folhas e galhos e iniciaram um experimento, em parceria com especialistas da Unicamp e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Este ano conseguiram comprovar que dá certo: - Só compramos de fornecedores que têm certificado, mas mesmo assim temos que ter muito cuidado. Nem sempre a madeira vendida está na área de manejo, por exemplo.
Por isso, resolvemos plantar alguns hectares e testar a extração pela poda, sem derrubar.
Dá certo, e é um produto ansiosamente aguardado no mercado, porque é bem mais sustentável. O problema é que não há legislação ainda, e por isso a produção está parada - explicou Carlos Magaldi, filho do precursor da empresa.
Foram mais de seis anos de plantio, até que as árvores pudessem ser podadas e o óleo retirado sem risco. Mas não podem ser feitas negociações antes que a regulamentação seja definida, tanto para a extração por galhos e folhas, quanto para o manejo sustentável. Nesse meio tempo, centenas de produtores e seus funcionários estão parados, segundo Magaldi, e muitos sem renda alguma.
A produção sustentável é uma esperança para a própria espécie, que tem sido deixada de lado por muitos produtores que não conseguiram se adequar às exigências do Ibama, impostas no ano 2000. Segundo o especialista em cultivo sustentável de pau rosa Lauro Barata, do laboratório de Química de Produtos Naturais da Unicamp, faltaram incentivos e capacitação. Um dos pesquisadores envolvidos na experiência dos Magaldi, Barata diz que a produção do linalol a partir da poda é a mais correta, pois mantém a floresta de pé:
- O preço do óleo obtido da folha e do galho do pau rosa será de 30% a 50% mais caro. Já tem empresas oferecendo isso. O rendimento da extração é o mesmo da madeira em si, só é preciso investimento no processo, e uma espera de anos para que a plantação possa ser explorada. Mas isso pode ser feito em paralelo ao plantio de outras espécies. É só dar incentivo aos produtores, como linhas de crédito, e regulamentar. Do jeito que está, até nós já fomos acusados de biopirataria. É preciso separar o joio do trigo.
Até os anos 1990, a exploração da espécie era insustentável e arrancou da floresta cerca de dois milhões de árvores em aproximadamente quarenta anos, de acordo com a Embrapa. Nos anos 2000 isso acabou, mas o nível de emprego caiu junto, assim como o interesse de novos produtores no cultivo de pau rosa.
Agora, Barata ressalta a importância de se dar atenção à espécie, em sério risco de extinção, apesar do alto valor econômico agregado.
- É uma espécie importante economicamente, que pode gerar renda na floresta. E a extração sustentável é viável, já está provado. Desde 2000, quando dei consultoria para a Chanel, disse que funcionaria.
Mas eles não apoiaram porque o retorno seria a longo prazo.
Hoje, as perfumarias estão fugindo de pau rosa de madeira sem manejo e pagariam bons preços no óleo da folha.
Segundo ele, nos anos 1970 a produção batia na casa das 500 toneladas exportadas por ano, enquanto hoje o número é de cerca de 20 toneladas.
Em paralelo, os empregos saíram da casa dos cerca de seis mil para cerca de apenas mais de 300 atualmente.

O Globo, 19/10/2010, Razão Social, p. 17

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