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Solução é sair da dependência estrangeira

Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br/fbv/noticia.php?id=77035
Autor: ANDREZZA TRAJANO
24 de Dez de 2009

O racionamento que vai afetar Roraima em decorrência da crise energética enfrentada pelo governo da Venezuela, que reduzirá o fornecimento de energia para o Estado em quase pela metade, só será resolvido se o Estado sair da dependência estrangeira e assumir o controle do sistema energético construindo uma hidrelétrica no rio Cotingo, no Uiramutã, e investindo na hidrelétrica de Jatapu, em Caroebe. Esta é a tese defendida pelo economista Gilberto Hissa, em entrevista à Folha.

A Venezuela informou na semana passada que vai reduzir em 41% o abastecimento da energia elétrica que Roraima importa pelo Linhão de Guri. Mesmo assim, a Eletronorte sustenta que o roraimense não sofrerá com racionamento nem desabastecimento.

O déficit será completado pela Usina Termelétrica (UTE) de Floresta, no bairro Jardim Floresta, que tem capacidade instalada apenas para gerar o valor exato do decréscimo. Na hipótese de o governo de Hugo Chávez suspender o total fornecimento, a usina instalada em Boa Vista não conseguiria abastecer nem metade da capital.

De acordo com Hissa, ainda que a Eletronorte negue que possa existir racionamento, "não dá para confiar em Chávez, que há meses vem impondo medidas de racionamento ao seu próprio povo, nem na UTE Floresta, pela capacidade limitada de gerar energia".

"Temos potencial energético e precisamos colocá-lo à disposição. A hidrelétrica de Cotingo tem que ser construída em caráter de urgência. É uma obra que demanda tempo para ser concluída, mas que se não sair agora do papel, não sairá nunca. E a topografia do local, já dito por técnicos, favorece a obra. Teríamos capacidade suficiente para gerar energia para nosso Estado e ainda abastecer Manaus [no Amazonas]", destacou o economista, referindo-se à previsão feita por especialistas de que a hidrelétrica de Cotingo poderá gerar até 600 megawatts de energia, em três quedas d'água, com impacto mínimo ao meio ambiente.

Com relação à hidrelétrica de Jatapu, que abastece os municípios do sul do Estado, ele enfatizou que é preciso investir maciçamente nos equipamentos, "colocando-os em sua carga máxima, para que gerem energia farta".

Jatapu tem capacidade final de 10 megawatts, em quatro turbinas, mas só funciona com duas, gerando 3,5 megawatts. A vida útil das máquinas está no limite, e o governo do Estado anunciou que está buscando, junto ao Banco Nacional do Desenvolvimento Social (BNDES), empréstimo de R$ 99 milhões para recuperar as máquinas.

Sobre a possibilidade também anunciada pelo Executivo estadual de resolver a questão interligando Roraima à Usina Hidrelétrica de Tucuruí (PA), o que anexaria Roraima ao Sistema Elétrico Nacional, ou utilizar a energia produzida pela Guiana, depois que a parceria público-privada (PPP) prometida pelo governo brasileiro se firmar, para a construção de uma usina hidrelétrica no país vizinho, com capacidade de geração de 800 megawatts, Gilberto Hissa reprovou.

"Não vamos sair de uma dependência energética para cair em outra. Temos que criar autonomia. É preciso ainda que o governo federal nos olhe com mais respeito e atenda as nossas necessidades, pois estamos abandonados", observou ele.

Com relação ao rio Cotingo estar inserido na terra indígena Raposa Serra do Sol, ele disse não haver temor para construção da hidrelétrica. "O pré-requisito é o potencial energético, uma decisão do governo federal que não passa pela questão indígena. Também não teremos que pagar royalties aos índios, como ficou expresso nas ressalvas do ministro Menezes Direito, quando da validação do processo homologatório da reserva", acentuou.

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