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Soja sobe e dá alívio a produtor brasileiro

FSP, Agrofolha, p. B10
07 de Nov de 2006

Soja sobe e dá alívio a produtor brasileiro
Preço de vários grãos deixou de ser fixado só pela demanda de alimentos, mas também pelo volume à produção de etanol e biodiesel
Novos preços do mercado internacional já viabilizam ganhos até mesmo para regiões distantes de portos, como a de Sinop (MT)

Mauro Zafalon
DA REDAÇÃO

Deu a louca no mercado de soja. Os Estados Unidos, líderes mundiais na produção da oleaginosa, devem anunciar uma safra recorde neste mês, próxima de 90 milhões de toneladas. Os estoques por lá também são os maiores de todos os tempos e há equilíbrio confortável entre oferta e consumo mundiais.

Mesmo assim, em plena safra norte-americana, e surpreendendo a todos, a soja passa por um período de forte elevação de preços na Bolsa de Chicago, a meca da formação dos patamares de negociação da oleaginosa.
Bom para o Brasil. As nuvens negras que rondavam a cultura do produto começam a se dissipar, e os novos preços do mercado internacional já viabilizam ganhos até mesmo em regiões distantes, como a de Sinop (MT), onde antes a distância dos portos de exportação tornava o produto pouco competitivo.

Enquanto nos Estados Unidos a colheita avança e já atinge 90% da área plantada no Brasil o plantio cobre apenas 40% da área destinada ao produto. O cenário de preços bons dá novo ânimo aos produtores brasileiros, que, pela primeira vez nos últimos anos, têm clima favorável no período de plantio.

Por que sobe?
Mas por que a soja sobe se a demanda e a oferta mundiais estão equilibradas? É que a nova formação de preços dos grãos deixou de ser determinada apenas pela demanda de alimentos, mas também pelo volume destinado à produção de agroenergia: etanol e biodiesel, principalmente.

E é essa interligação entre a demanda de grãos para alimentos e para a agroenergia que está elevando os preços das commodities.

A soja sobe por falta de milho e de trigo. Os dois últimos, com os maiores preços em uma década, devem atrair os produtores na safra 2007/8, que vão aumentar a área plantada em busca de maior rentabilidade. A opção dos produtores por milho e trigo, principalmente nos Estados Unidos, deixa espaço menor para a soja.

Os números são impressionantes, segundo Fernando Muraro, da Agência Rural, de Curitiba (PR). Os norte-americanos vão colher 277 milhões de toneladas de milho neste ano, mas o consumo já supera 300 milhões de toneladas. Os estoques finais desta safra ficarão em 25,3 milhões de toneladas.

A relação de estoques e consumo cai para apenas 8%, ou seja, o suficiente para apenas 31 dias de consumo nos Estados Unidos. "Isso é muito perigoso", afirma Muraro. Há dois anos, a relação era de 20%, e os estoques garantiam 72 dias de consumo.
Essa relação de estoques e consumo cai perigosamente também nos números mundiais. A safra mundial de milho deste ano deverá ficar em 690 milhões de toneladas, com queda de 0,5%. Já o consumo sobe para 722 milhões de toneladas, com alta de 3%. Os estoques, que eram de 125 milhões no ano passado, recuam para 90 milhões, ou seja, apenas 12% do consumo total.

Oferta e demanda
O equilíbrio entre oferta e demanda de milho pode ficar ainda mais complicado se não houver aumento de produção por expansão de área e elevação da produtividade.

Leonardo Sologuren, da consultoria Céleres, de Uberaba (MG), diz que em 2002 os Estados Unidos destinavam 21 milhões de toneladas de milho para a produção de etanol.

Em 2010, esse volume sobe para 66 milhões de toneladas. Essa demanda maior e a previsível melhor remuneração aos produtores de milho vão exigir aumento de área para o produto em detrimento da área destinada à cultura da soja.
Mas a demanda por soja também é crescente com os programas de agroenergia. José Pitoli, da Coopermibra, diz que a produção de biodiesel vindo da soja cresce e que a demanda desse óleo vegetal será de 4 milhões de toneladas já nós próximos anos. Para a obtenção desse volume de óleo, serão necessários 20 milhões de toneladas de grãos de soja, acrescenta.

Trigo
Outro produto que deve atrair a atenção dos produtores é o trigo. A produção mundial da safra 2006/7 recua para 600 milhões de toneladas, 3% abaixo do consumo. Os estoques mundiais, que no ano passado estavam em 147 milhões de toneladas, caem para 119 milhões.

Esse novo cenário de preços pode provocar um rearranjo na área de grãos. Nos últimos dez anos, a soja ganhou 49% de novas áreas no mundo, passando para 94 milhões de hectares. O milho teve acréscimo de apenas 3%, e o trigo perdeu 7%.

Muraro diz que, na próxima safra norte-americana, atraídos pela maior demanda e por melhores preços, os produtores vão incorporar mais 3 milhões de hectares ao cultivo de milho. A soja pode perder 2 milhões de hectares.

Analista indica reservar uma parte da safra

DA REDAÇÃO

O ceticismo com relação à soja está diminuindo entre os produtores. Os mais beneficiados são os do Sul, que estão fechando negócios a US$ 13 por saca. Nas regiões mais distantes do Centro-Oeste, porém, a rentabilidade ainda não é tão clara. "A soja não deve dar prejuízo. No limite, empata", diz André Pessôa, da consultoria Agroconsult, referindo-se a essa região.

Anderson Galvão, da consultoria Céleres, diz que esse aumento de preços viabiliza a produção em muitas áreas antes inviáveis. Fernando Muraro, da Agência Rural, vai além e diz que, se o câmbio não tivesse tão depreciado, o novo patamar de preços da soja -próximo de US$ 7 por bushel (27,2 quilos)- poderia significar "o início do fim da crise do agronegócio". Para que isso acontecesse, o dólar deveria estar em R$ 2,40, segundo ele.

Todos os analistas são unânimes: os produtores devem vender um volume de soja suficiente para pagar as dívidas de curto prazo, que aparecem logo após a colheita, e reservar o restante para negociações futuras.

Na avaliação desses técnicos, eventuais problemas climáticos na América do Sul e a confirmação de redução de área nos Estados Unidos vão dar novos suportes ao preços da oleaginosa.

Grande parte desse aumento de preços se deve à pressão da agroenergia sobre os grãos. Essa pressão vai continuar e o Brasil deverá ser um dos mais favorecidos nesse novo cenário agrícola. "Essa forte demanda não é "bolha".

Simplesmente a conta não fecha", diz Muraro, ao analisar a demanda crescente por grãos e a oferta a curto prazo.
Pessôa diz que o cenário é de estabilidade ou até de restrição na oferta de oleaginosas, mas a demanda é crescente, principalmente devido aos novos programas de bioenergia.

Pessoa diz que a novidade é "a força com que está vindo a demanda por óleo desses novos programas de biocombustíveis". Eles estão sendo implantados por lei e, portanto, dão garantia contínua de consumo.

O programa de biodiesel da Europa está pronto. O dos EUA ganha força, e os da Malásia e da Indonésia devem consumir pelo menos 40% do óleo vegetal até 2010.

O programa do Brasil avança, já com taxas de mistura definidas, enquanto a Argentina está tributando menos o biodiesel do que o óleo normal.

Um dos poucos países que não devem desenvolver um programa de biodiesel é a China, diz Pessôa. Ao contrário, os chineses estão muito preocupados com esses programas, que são um novo concorrente na utilização de grãos. A China está mais propensa a entrar na linha do álcool do que na do biodiesel, diz o analista.

FSP, 07/11/2006, Agrofolha, p. B10

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