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Soja perde espaço para eucalipto

JB, Economia, p. A18
10 de Out de 2005

Soja perde espaço para eucalipto
Retorno com plantio de floresta é duas vezes maior

Neila Baldi

O mesmo grão que não dá renda para o produtor está provocando uma corrida para o reflorestamento. Agricultores de Mato Grosso, maior produtor de soja do país, estão trocando áreas de cultura do grão pelo plantio de eucaliptos, fornecendo lenha para aquecer os silos da commodity.
Só nesta safra, a superfície destinada ao reflorestamento crescerá 8% e chegará a 103 mil hectares - considerando-se somente os projetos financiados. A baixa rentabilidade da soja na região e a proibição do desmatamento - por um período de seis meses - estão influenciando a mudança de atitude dos produtores. Em Mato Grosso, estima-se que a área de soja vai encolher 17,5%, ou 1 milhão de hectares.
- É uma oportunidade de negócio. Há grande necessidade de madeira para a secagem dos grãos em Mato Grosso - diz Haroldo Klein, presidente da Associação de Reflorestadores do Estado de Mato Grosso (Arefloresta-MT).
Além disso, segundo Rogério Monteiro da Costa e Silva, supervisor da Secretaria de Desenvolvimento Rural de Mato Grosso, as áreas de florestas naturais - cujo desmatamento está proibido temporariamente - ficam longe da região produtora.
Nesta safra, cujo cultivo das lavouras se inicia neste mês, a Agroverde Insumos Agrícolas, de Nova Mutum, vai destinar 16% de sua área de soja para o plantio de eucaliptos. E, em dois anos, 40% da superfície cultivável mantida pela empresa serão tomados por florestas. Hoje, a empresa tem 12 mil hectares destinados à soja.
- Plantar floresta é duas vezes mais rentável do que plantar soja - explica Renato Alves de Freitas, gerente da Agroverde. Segundo ele, um hectare de eucaliptos rende o equivalente a 26 sacas (60 quilos) de soja, enquanto a renda obtida com o grão, na mesma superfície, corresponde a 10 sacas. A empresa tem atualmente uma área de 60 hectares com eucalipto.
Por exigência da legislação, as empresas que usam lenha precisam ter um equivalente do consumo em árvores plantadas. Quando não têm como cumprir a lei, pagam produtores para isso.
Segundo Fábio Meneghin, analista da Agroconsult, considerando-se os custos de produção e os preços médios para a soja na próxima safra em Mato Grosso, a rentabilidade do grão será negativa em 5%. Outro fator determinante, na opinião de Gilberto Goellner, principal executivo da Sementes Girassol, é que, mesmo sendo um investimento de longo prazo, a rentabilidade é certa. A empresa está procurando parceiros para financiar um projeto de cultivo de 5 mil hectares de florestas para os próximos cinco anos em Jaciara (MT).
- Vamos oferecer o projeto para investidores externos que queiram capturar carbono, atendendo à exigência do Protocolo de Kyoto - diz Goellner.
Não só pequenas empresas estão apostando no reflorestamento. A Bunge pretende ter 70 mil hectares - próprios ou de produtores parceiros - nos próximos cinco anos. A meta da empresa é ter 100% de sua necessidade de lenha com cultivo de florestas. Atualmente, pouco mais da metade do consumo da empresa tem o equivalente plantado. O restante é adquirido de áreas reflorestadas.

JB, 10/10/2005, Economia, p. A18

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