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Soja cai no mercado e tambem no samba com enredo da Tradicao

FSP, Dinheiro, p.B12
20 de Jan de 2005

Produto vai ser tema deste ano da escola do Rio
Soja cai no mercado e também no samba com enredo da Tradição
Mauro Zafalon
Da redação
Tudo começa pela Bahia. Descobrimento, samba e soja. No final do século 19, um estranho grão aparece em um sítio baiano. Sem conhecer ainda todas as propriedades desse misterioso grão, esse sitiante começa a espalhar o que colhe para os vizinhos.
Inicia-se a aventura de um produto que, 120 anos depois, seria literalmente a "salvação da lavoura" no Brasil. Ficou tão importante que, após ocupar 47% das terras destinadas a grãos, deixa o cerrado e cai no samba.
É isso mesmo. No momento em que modernas colheitadeiras avançam nas terras do Centro-Oeste anunciando o início da maior safra prevista para o país, a soja entra na Sapucaí pelos "pés" da Tradição. "E entra para ganhar", anuncia Nésio Nascimento, presidente da escola.
"Tudo foi muito bem planejado", diz Nascimento. Ele destaca também a alegria que esse tema vai trazer à avenida. Só nos ensaios, a escola já consegue levar 30 mil foliões. "Estou feliz", diz.
A felicidade do presidente da Tradição não foi sempre compartilhada com a soja nessa caminhada pelo Brasil. O começo não foi fácil. O produto entrou no país até com uma séria crise de identidade. Seria "o" soja ou "a" soja. Seria feijão-soja ou simplesmente soja. Venceu "a soja", segundo Geraldo Hasse no livro "O Brasil da Soja".
Após uma incursão pela Bahia, a soja começou a dar certo no Rio Grande do Sul. Chegou ao Estado no início do século passado, mas ganhou força na década de 50.
Na década de 60, já estava no Paraná e na de 70, no Centro-Oeste, atual líder de produção. Nos anos 80 volta à Bahia.
A Tradição escolheu o tema soja quando os preços ainda atingiam patamares recordes devido à falta de produto no mercado internacional. Repostos os estoques, os preços caíram.
A soja é utilizada há 5.000 anos pelos chineses, mas a notoriedade no Brasil ocorreu há poucas décadas. A oleaginosa "plantou" cidades pelo Centro-Oeste, "cultivou" novos ricos, criou reis (alguns já destronados), entrou na pauta de discussão do Congresso via transgênicos, congestionou estradas e portos, ocupou a área de outras culturas, empurrou a pecuária para as bordas das florestas e atiçou a ira dos ambientalistas.
Esse produto passou a ser um termômetro da economia brasileira, que depende cada vez mais dele. Neste ano a soja deverá trazer para o país US$ 10 bilhões, 30% do saldo comercial. Nascimento diz que a Tradição vem homenagear toda essa cadeia.
A Tradição vai à avenida com a parceria de várias empresas que apoiaram esse projeto-soja, que tem como enredo "De sol a sol, de sol a soja... um negócio da China".
Nascimento destaca a participação da New Holland, do setor de implementos agrícolas. Foi importante também, segundo ele, a participação técnica de Blairo Maggi, governador de Mato Grosso, principal produtor de soja.
Milton Rego, da New Holland, diz que a idéia de uma participação no Carnaval ocorre há dois anos. E destaca dois motivos. Primeiro, "fazer o Brasil urbano entender melhor o agronegócio". Segundo, a repercussão mundial do Carnaval do Rio permite a exposição da New Holland -uma empresa global- para o mundo.
As parcerias com as empresas renderam R$ 1,5 milhão à Tradição, o que permitiu trazer profissionais de ponta para a escola, como o carnavalesco Mário Borrielo e o intérprete Preto Jóia.
A Tradição entra na avenida com carros alegóricos que mostram todos os estágios da soja: relação com a China, mecanização, transporte e o avanço para o Centro-Oeste.

FSP, 20/01/2005, p. B12

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