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Soja atrai população e eleva padrão de vida

FSP, Dinheiro, p. B4
26 de Nov de 2004

Soja atrai população e eleva padrão de vida
Dados do IBGE revelam que municípios produtores crescem até 13 vezes a média do país e pessoas vivem melhor

Antonio Góis
Da sucursal do Rio

A produção de soja, além de contribuir para o aumento das exportações do Brasil, atrai população para os principais municípios produtores numa velocidade de crescimento que é até 13 vezes o ritmo de crescimento da população no país.
Acusada de gerar poucos empregos (por causa da alta mecanização do trabalho), dados de pesquisas agrícolas de 2003 divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram também que, em 19 das 20 maiores cidades produtoras de soja, o IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, calculado pela ONU), é superior à média do Brasil.
De 1991 a 2000 (anos de Censo Populacional, portanto, único intervalo em que é possível calcular a taxa de crescimento por município), o Brasil cresceu a uma taxa média anual de 1,64%, ou seja, a cada ano, nesse período, o número de pessoas aumentou 1,64%.
No município de Sapezal (MT), segundo maior produtor de soja, no entanto, essa taxa de crescimento foi 13 vezes a verificada no país, chegando a 21,6% por ano.
O maior produtor é o município de Sorriso (MT), que cresceu a 9,94% ao ano. Apenas quatro desses 20 maiores municípios produtores de soja tiveram crescimento inferior ao verificado no Brasil.
A comparação do crescimento do IDH-M de 1991 a 2000 mostra, no entanto, que os efeitos da soja na melhoria das condições de vida da população variam de acordo com o município. Em 11 municípios, o índice variou num patamar superior ao da média brasileira. Nos demais, a variação foi menor do que a verificada em todo o país.
Em 1991, a maioria dessas 20 cidades já apresentava IDH-M maior do que a média brasileira e apenas três estavam abaixo da média. Em 2000, apenas uma cidade ficou abaixo do padrão brasileiro: São Desidério (BA), que teve IDH-M de 0,610. A média brasileira foi de 0,766.
Fator de melhoria
O IDH-M é um índice internacional da ONU para avaliar as condições de vida da população. Ele leva em conta dados de educação, renda e longevidade e varia de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total).
Na avaliação do coordenador de agropecuária do IBGE, Carlos Alberto Lauria, a comparação do crescimento populacional e do IDH-M dos maiores produtores de soja mostra que a agricultura pode também ser um fator de melhoria das condições de vida.
"Realmente, a soja cultivada no Estado de Mato Grosso é toda mecanizada e exige menos mão-de-obra. Mas, em compensação, o dinheiro que ela gera acaba sendo gasto na própria região. Isso faz com que a indústria e o comércio se desenvolvam e passem a olhar com outros olhos para aquela região. Tudo isso faz com que o município cresça", diz Lauria.
Líder do ranking
A rentabilidade da soja no mercado externo continua mantendo o produto em primeiro lugar no ranking dos principais produtos agrícolas, em área plantada. Em toneladas produzidas, o maior produto é a cana-de-açúcar.
A soja lidera desde 2002 esse ranking, em área plantada, e teve produção de 51,9 milhões de toneladas em 2003, com aumento de 23% em relação a 2002.
Os técnicos do IBGE destacam, no entanto, que o crescimento da produção de milho também foi significativo, atingindo 48,3 milhões de toneladas. Esse crescimento afastou o risco de desabastecimento do produto, que vinha perdendo espaço na produção agrícola para outras culturas mais rentáveis.
A principal explicação para esse crescimento do milho, de 2002 para 2003, foi a boa distribuição das chuvas, que melhorou a produtividade da safra em 2003.
Apesar de ter peso relativo na produção agrícola menor do que o da soja e o do milho, a pesquisa do IBGE mostra que a produção brasileira de trigo quase dobrou (crescimento de 98% em relação a 2002) e chegou a 6,1 milhões de toneladas em 2003.

País tem 5 galináceos e 1 bovino por pessoa

Da sucursal do Rio

Se, numa hipótese absurda, a população de aves para produção de ovos e para corte fosse contada no censo populacional do IBGE, os brasileiros seriam uma minoria num país de galinhas, galos, frangas, frangos e pintos. A Pesquisa Pecuária Municipal de 2003 mostrou que há no país 921 milhões dessas aves. Como a população brasileira no ano passado foi contabilizada em 174 milhões, dá cinco aves para cada habitante.
A comparação da pesquisa de 2002 com a do ano passado confirma também que o efetivo do rebanho bovino brasileiro, que já é o maior rebanho comercial do mundo, continua crescendo, impulsionado pelas exportações. De 2002 para 2003, esse crescimento foi de 5,5% e o país chegou a 195 milhões de animais -ou 1,1 boi por habitante.
Os maiores Estados produtores de bovino no Brasil são Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, que, juntos, respondem por um quarto da produção total. Só no município de Corumbá (MS) o número de cabeças de gado foi calculado em 1,8 milhão, o que dá 19 bois para cada habitante.
Apesar da concentração da produção bovina nos Estados do Centro-Oeste brasileiro, a pesquisa do IBGE detectou que os maiores aumentos proporcionais de 2002 para 2003 no número de rebanho bovino aconteceram nos Estados da região Norte, particularmente no Amazonas (25% de crescimento) e em Rondônia (17%).
Curiosidades
As pesquisas agrícolas do IBGE, por permitirem a análise da situação em todos os municípios e Estados brasileiros, trazem algumas curiosidades.
O Estado de São Paulo, por exemplo, já foi o maior produtor de café do Brasil e, por causa disso, chegou a batizar a política do café-com-leite, que marcou a alternância das oligarquias de São Paulo e Minas na Presidência até 1930. Hoje, no entanto, dos 20 principais municípios produtores de café, nenhum é de São Paulo. Todos são de Minas ou do Espírito Santo.
A pesquisa mostra ainda que o maior Estado produtor de dendê, produto famoso na culinária baiana, é o Pará. Em compensação, o guaraná, típico da floresta amazônica, tem hoje como maior produtor a Bahia.
Outra curiosidade: apesar de o Estado com maior produção de mel ser o Rio Grande do Sul (responde por 23% da produção), o município de Picos, no Piauí, aparece como segundo maior produtor, atrás apenas de Içara, em Santa Catarina. O terceiro maior também é do Nordeste: Limoeiro do Norte, no Ceará.

Cidade do MT tem a maior área plantada de soja do mundo; 80% de seus habitantes são migrantes
Grão faz de Sorriso terra do "sonho realizado"
Referência na produção de soja, a cidade de Sorriso (462 km de Cuiabá, MT) é formada essencialmente por migrantes. Segundo a prefeitura, cerca de 80% dos 55 mil habitantes vieram da região Sul do país, especialmente Rio Grande do Sul e Paraná.
Para muitos que chegaram em busca de prosperidade, o crescimento econômico de Sorriso, hoje o município com a maior área plantada de soja do mundo (590 mil hectares), simboliza a "realização de sonhos". Há condomínios de luxo em construção na cidade e o número de lojas de grife está em crescimento.
Filho de pequenos produtores rurais de Getúlio Vargas (358 km de Porto Alegre), Sadi Beledelli, 44, foi um dos muitos migrantes que resolveram deixar a cidade natal e se arriscar na cidade mato-grossense há cerca de 20 anos. Lá, construiu sua família e ampliou uma área inicial de 968 hectares de soja para 2.800 hectares próprios.
De acordo com ele, "naquela época, a pessoa vendia uma área no sul e comprava 10 ou 20 na região porque a terra ainda era muito desvalorizada". Na safra passada (2003/2004), o produtor, que é vice-presidente do Sindicado Rural do município e presidente de uma cooperativa de crédito para produtores, colheu 56 sacos de soja por hectare. Na região, o hectare de soja tem produtividade média de 55 sacas (cada uma cotada em R$ 35).
Beledelli também planta milho e, esporadicamente, aveia, mas foi com a soja que conseguiu elevar seu padrão de vida. Além dos quase 3.000 hectares de soja, é proprietário de 900 hectares de milho. (ADRIANA CHAVES)

FSP, 26/11/2004, Dinheiro, p. B4

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