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Sobrevivência em cidades é difícil para os sertanejos

Jornal do Brasil - Rio de Janeiro - RJ
Autor: Marcus Fernando Fiori
18 de Mar de 2001

A pequena estrada que liga Amarante do Maranhão a Montes Altos, no Sul do Maranhão, não tem mais do que 65 quilômetros. Por ela, único acesso a centenas de pequenas e médias propriedades rurais, só passam veículos utilitários. Mais do que, uma estrada, é a própria representação do estado de ânimo e de espírito de milhares de pessoas que habitam a região. A pista está abandonada pelos homens e pelo tempo, o que também acontece com a maioria das propriedades rurais ao longo de seu trajeto.
O abandono, marca registrada do lugar, é conveniente para a Funai. O sertanejo é forte por excelência, mas não aguentou esperar. Trinta anos se passaram. Ao deixar para trás toda a história de sua vida, o sertanejo perde o direito até à reduzida indenização que o órgão federal está pagando pelas benfeitorias das propriedades rurais localizadas na Terra Indígena Krikati.
A terra é dos índios, comprovam estudos sociológicos e antropológicos realizados nos municípios de Amarante do Maranhão, Montes Altos, Sítio Novo e Lajeado Novo. Só que os sertanejos não estão ali por acaso. Eles foram levados para lá pelo governo imperial, no início do século 19.

Cidade - Ao tempo que é fácil para o governo despejar as famílias, o mundo que se apresenta a elas é cheio de mistérios. A maioria não estudou. Ninguém está preparado para concorrer no mercado de trabalho das cidades. A agricultura é a única atividade que o sertanejo do Sul do Maranhão sabe desempenhar. E com eficiência.
Naquela pequena estrada de 65 quilômetros que liga Amarante do Maranhão a Montes Altos, as primeiras propriedades rurais estão fora da terra indígena. Elas prosperam e recebem investimentos. Mas conforme se avança, o que se vê são currais construídos há mais de 30 anos sem receber uma única reforma, pois o sertanejo sabe que é investimento perdido, além de que, para a Funai, qualquer benefício acrescentado à terra a partir de 1982 eleva o agricultor à categoria de "posseiro de má-fé".
O pequeno distrito de Quiosque, em Montes Altos, agregava. 200 famílias de agricultores, todas despejadas. Alguns agricultores estão na cidade. Por enquanto, pagam aluguel para morar. Mas em poucos meses a indenização pelas benfeitorias estará gasta. Os sertanejos, na verdade, quase não fizeram benfeitorias. Sempre viveram com medo de perder tempo e dinheiro, pois cedo ou tarde o inimigo viria tirá-los de suas terras. O inimigo, nesse caso, se chamava União.

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