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Sobrepesca ameaça o pirarucu na Amazônia

O Globo, Ciência, p. 26
18 de Fev de 2010

Sobrepesca ameaça o pirarucu na Amazônia
Medindo até três metros, a espécie sofre também com erros de identificação

Carlos Albuquerque

Ele é um gigante pela própria natureza. Podendo medir até três metros de comprimento e pesar 200 quilos, o pirarucu é o maior peixe da Amazônia e uma das maiores espécies de água doce do planeta.

Apreciado pelo sabor de sua carne, o animal sofre, porém, com a pesca descontrolada e erros de identificação que fazem que esteja em perigo, apesar dos esforços para protegê-lo. É o que revela um estudo publicado na "Journal of Applied Ichthyology".

- O pirarucu está em perigo, embora ainda não esteja ameaçado de extinção. É uma diferença sutil - afirma Leandro Castello, do Woods Hole Research Centre e do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), um dos autores do estudo, em parceria com Donald Stewart, da Universidade do Estado de Nova York - Contra o pirarucu, pesam a sobrepesca e equívocos na sua identificação.
Um animal pode render até 25 quilos de carne.

Chamado também de o bacalhau da Amazônia, por causa da técnica de salgá-lo para a conservação de sua carne, o pirarucu - o nome, de origem indígena, "pira" (peixe) e "urucum" (vermelho), vem por causa de suas escamas vermelhas, - é uma presa fácil para os pescadores, independentemente de seu tamanho. Considerado por alguns especialistas um fóssil vivo (suas origens teriam sido há 190 milhões de anos), o pirarucu tem um sistema de respiração que o obriga a subir à superfície a cada dez minutos, em média. É quando vira um alvo para os pescadores, armados de arpões ou com a ajuda de redes.

- Os pescadores mais experientes da região usam o arpão, enquanto os demais usam redes para capturá-lo - explica Leandro.

Para defender o animal - que chegou a ter sua pesca totalmente proibida pelo Ibama em 1996 - existem algumas regras, como o período de defeso (no qual é proibida a sua captura), que varia entre cada região. No Acre, Amapá, Amazonas e Pará, esse período vai de dezembro até o final de maio.

- São regras que visam a defender a espécie e são efetivas quando cumpridas. Só que faltam mais recursos para que os pescadores mantenham essas regras. Falta também fiscalização para que elas sejam cumpridas. Muitas vezes, o Ibama não possui recursos humanos e financeiros para fazer a fiscalização de forma efetiva, evitando os excessos da pesca ilegal - afirma Leandro.
- Além do mais, para o pescador, que muitas vezes vem de outras regiões, esse é um animal valioso, já que um pirarucu de um metro e meio de comprimento pode render cerca de 25 quilos de carne.

No estudo, os pesquisadores afirmam que a procura pela carne do pirarucu é tão difundida na Amazônia que a maioria dos peixes é provavelmente capturada e vendida ilegalmente.

Além disso, erros anteriores na classificação da espécie não permitiram ver que o pirarucu está ameaçado. O estudo revela que apesar de ser considerado uma espécie única (Arapaima gigas), podem existir até quatro espécies desse animal, aumentando as chances de que algumas variações do pirarucu já estejam ameaçadas pela sobrepesca sem que ninguém saiba.

- A classificação do pirarucu aconteceu há 140 anos e persiste ate hoje. Só que, na verdade, existem pelo menos quatro espécies e ninguém parece ter prestado atenção a isso - conta Leandro. - Observamos animais em museus no Brasil, na Inglaterra e nos Estados Unidos e só encontramos uma espécie que é idêntica ao pirarucu que conhecemos. Há diferenças nas fileiras dos dentes, por exemplo. O restante são espécies não descritas. Precisamos estudálas, descrevê-las, saber onde vivem e quais suas características, para que possamos desenvolver formas mais eficazes de manejo e preservação desse animal.

O Globo, 18/02/2010, Ciência, p. 26

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