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Sob a proteção de Marina, a floresta ficou menor

JB, Sete Dias, p. A16
Autor: NUNES, Augusto
29 de Mai de 2005

Sob a proteção de Marina, a floresta ficou menor

Augusto Nunes

Nem ferozes governistas podem contestar os números. Foram extraídos de um estudo organizado por técnicos federais. E divulgados pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, petista acima de qualquer suspeita. A coragem demonstrada pela moça do Acre no combate a devastadores da Amazônia levou-a, primeiro, ao altar dos santos protetores dos povos da floresta. Depois, ao Senado e, com a vitória de Lula, ao ministério desejado.

Hoje, como a selva que jurou preservar, também o mito exibe cicatrizes e equimoses perturbadoras. Foram ampliadas pelas conclusões do estudo, nenhuma das quais melhora a biografia de Marina Silva. No período 2003- 2004, o desmatamento da Amazônia cresceu 6,23 em relação ao período anterior. A amputação atingiu 26.130 quilômetros quadrados.

A área é do tamanho de Alagoas. No campeonato da destruição do verde, só fica atrás do período 1994-1995, que opero u o sumiço de 29.059 quilômetros quadrados. Uma proeza.

Um segundo lugar já não é pouca coisa. Torna-se ainda mais vistoso por comprovar que, nos dois primeiros anos da Era Lula, o ritmo do desmatamento foi duplicado. A liderança está logo aí.

Se a catástrofe tivesse ocorrido em outros tempos, a combativa Marina estaria reivindicando a demissão de meio mundo. Mas hoje o Brasil é outro. Mudou o governo. Mudou o ministério.

Mudou a Amazônia, cada vez menor e mais indefesa. Também Marina mudou muito. Mas os números não deixaram indignada a antiga combatente. "São inaceitáveis", concedeu. "Mas é impossível reverter em dois anos um processo de séculos". Fiel à cartilha forjada pelo ministro do Otimismo, Luiz Gushiken, exibiu o lado positivo da catástrofe. O aumento anual da devastação teria sido extraordinariamente maior no período 2001-2002. "Caiu bastante", alegrou-se.

No elenco dos culpados, Marina não figura entre os protagonistas. Vive reivindicando verbas jamais liberadas, pede funcionários em vão, formula projetos ignorados. Tornou-se uma relíquia de um PT que acabou.

Deveria examinar o conselho que a Marina sem ministério daria à ministra sem poderes: renuncie, companheira.

JB, 29/05/2005, Sete Dias, p. A16

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