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Sob Lula, mortes no campo crescem 31 porcento

FSP, Brasil, p. A8
23 de Fev de 2005

Sob Lula, mortes no campo crescem 31%
Nos últimos 3 anos do governo FHC foram 44 crimes; entre 2003 e 2004, foram 58; Norte tem maior número de vítimas

Do enviado a Sidrolândia (MS)

O número de assassinatos decorrentes de conflitos fundiários nos dois primeiros anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva cresceu 31% em relação aos três últimos anos da gestão Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), avançando de 44 para 58 casos. Além disso, de 2003 a 2004, a quantidade de invasões de terra cresceu 47% no país, passando de 222 para 327 casos.
Em relação às mortes, segundo relatório final de 2004 divulgado ontem pela Ouvidoria Agrária Nacional, a maioria delas, no ano passado, ficou concentrada na região Norte, com 6 dos 16 casos. Em 2003, dos 42 assassinatos no campo, 31 ocorreram na região, sendo 19 deles apenas no Pará.
O interior paraense, aliás, é o recordista de mortes entre janeiro de 2003 e dezembro de 2004. Dos 58 casos registrados pela ouvidoria neste intervalo em todo o país, 23 (ou seja, 39%) ocorreram no Estado em que a freira Dorothy Stang e pelo menos três sindicalistas e dois fazendeiros foram mortos nos últimos dez dias.
A repercussão da morte da freira levou o governo a enviar o Exército para o Estado e anunciar um pacote ambiental com uma série de medidas para a região.
Em 2004, porém, o Pará (com quatro mortes) aparece na vice-liderança do ranking de assassinatos que a ouvidoria comprovou terem ligações com conflitos agrários. No topo ficou Minas Gerais, por causa dos cinco mortos da chacina de Felisburgo, ocorrida no final do ano.
Em 2004, segundo a ouvidoria (ligada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário), além das 16 mortes que integram o balanço divulgado ontem, existem outras 19 ocorridas no campo (9 delas no PA) que ainda estão sob investigação policial, o que impede cravá-las no relatório como "motivadas" por conflitos fundiários.
No ano passado, depois do Norte (6), aparecem as regiões Sudeste (5), Sul (3) e Nordeste (2). No Centro-Oeste não houve mortes com tal motivação.

Invasão de terra
Em relação às invasões de terra, o governo Lula tem batido seguidos recordes. O número de 327 casos registrados no ano passado é o mais alto já apontado pela ouvidoria, criada em 1999 mas que publica seus balanços desde 2000. Antes, os dados do governo eram elaborados pela CPT (Comissão Pastoral da Terra), cuja metodologia é diferente.
Em 2003, por exemplo, o braço agrário da Igreja Católica registrou 73 mortes, contra 42 divulgadas pela ouvidoria agrária.
Nos dois primeiros anos do governo Lula, a cada mês ocorreram em média 22,8 invasões de terra, contra 13,8 nos três últimos anos do governo de Fernando Henrique Cardoso. Sob Lula, no ano passado, há também o registro do chamado "abril vermelho", onda de ações lideradas do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) com a marca recorde de 109 invasões num único mês.
No ano passado, o Estado de Pernambuco aparece com 76 invasões de terra, seguido de São Paulo (49), Minas Gerais (31), Paraná (26) e Bahia (24). O Pará, por exemplo, teve apenas oito casos entre janeiro e dezembro de 2004.
Antes da divulgação dos números, o ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) disse, durante evento em Sidrolândia, no Mato Grosso do Sul, que o governo tem feito uma reforma agrária de qualidade. Afirmou, porém, que é preciso trabalhar muito mais na área. Eduardo Scolese

FSP, 23/02/2005, Brasil, p. A8

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