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Só se salvam os bonitinhos

Veja, Geral, p. 86-87
14 de Mar de 2007

Só se salvam os bonitinhos
A reprodução em cativeiro visa a prevenir a extinção de animais, mas nem todos são eleitos para sobreviver

Rosana Zakabi

Com 7 quilos e 3 meses de vida, o filhote de urso-polar chamado Knut, o mais novo habitante do zoológico de Berlim, tornou-se uma celebridade. O bichinho ganhou homenagens no festival de cinema berlinense, virou mascote de um time de hóquei e arrancou declarações derramadas do prefeito. Diariamente os jornais locais dão notícias sobre seu desenvolvimento. O que tem Knut de especial, além da fofura explícita? Ele é um dos raros ursos-polares nascidos em cativeiro. Fazia trinta anos que o zôo de Berlim tentava a reprodução da espécie, sem sucesso. Além disso, há três meses os ursos-polares entraram para o rol dos animais ameaçados de extinção. O aquecimento global vem diminuindo rapidamente a calota de gelo onde eles vivem, no Ártico. A reprodução em cativeiro de animais em risco de extinção é sempre celebrada pelos cientistas e veterinários. Considera-se que essa é a maneira mais eficiente de garantir a preservação de uma espécie no planeta. Mas não se trata de um processo fácil. Primeiro, é preciso reproduzir com a maior fidelidade possível o habitat dos animais. Com isso, busca-se reduzir o stress provocado pelo confinamento. "O excesso de cortisol, o hormônio do stress, no organismo pode provocar perda de libido e redução na produção de espermatozóides", diz o veterinário Ronaldo Morato, do Centro Nacional de Pesquisa para Conservação dos Predadores Naturais do Ibama.

Os animais em cativeiro também perdem a capacidade de socialização. Em vez de se sentirem atraídos um pelo outro, macho e fêmea se estranham e lutam entre si. Para contornar esse problema, é cada vez mais comum o uso da inseminação artificial. Nesse processo, os zoólogos coletam fezes das fêmeas diariamente para monitorar seus níveis hormonais. Quando a quantidade de estrógeno aumenta, é sinal de que elas estão no cio e é hora de proceder à inseminação artificial. Esse processo tem garantido o sucesso da reprodução dos pandas na China - 130 animais da espécie nasceram em cativeiro desde 2000. No Brasil, o procedimento é realizado em vários zoológicos pela Universidade Federal do Paraná e pela Universidade de São Paulo para tentar salvar da extinção os lobos-guarás e as onças-pintadas.

Em todo o mundo, governos e ONGs investem gordas verbas na conservação das espécies, financiando pesquisas e programas para salvar animais em extinção. As espécies contempladas, de modo geral, são aquelas que despertam encantamento pela beleza, como os pandas, ou pelo porte monumental, como os rinocerontes. São raros os que se importam com a sorte dos bichos que despertam repulsa (veja o quadro abaixo). Outros dois exemplos de animais ameaçados de extinção que se reproduziram em cativeiro recentemente são o tigre de Sumatra e o orangotango. Os filhotes de ambas as espécies nasceram no zoológico Taman Safari, na Indonésia, e curiosamente se tornaram amigos. Na vida selvagem, os tigres são predadores dos primatas. Nos jardins do zôo indonésio, brincam juntos o dia inteiro. A amizade, segundo a veterinária Retno Sudarwati, responsável pelos animais, terá vida curta. "Eles terão de ser separados em no máximo dois meses, quando o tigre começará a comer carne", diz ela. O nascimento em cativeiro pode alterar o comportamento mas não a natureza dos animais.

Dos feiosos ninguém quer saber

A estranha criatura ao lado chama-se aye-aye, é um tipo de primata e vive na ilha de Madagáscar, na África. Ele está ameaçado de extinção, mas os moradores da ilha não pensam em salvá-lo, e sim em exterminá-lo. O bicho, tido como um demônio que atrai maus presságios, é morto sempre que aparece. Um novo projeto da Sociedade Zoológica de Londres pretende salvar uma série de animais bizarros, incluindo o aye-aye. É a única chance de o bicho feioso não sumir de vez do planeta

Veja, 14/03/2007, Geral, p. 86-87

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