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Sites do governo, de ONGs e de grupos independentes mostram trabalho e contam história de tribos

Folha de São Paulo - São Paulo - SP
Autor: Marcelo Grimberg
18 de Abr de 2001

Rede ajuda a preservar cultura indígena

Quando Cabral chegou ao Brasil, em 1500, toda a terra era ocupada por índios. Hoje, 501 anos depois, os povos indígenas estão em número menor e em uma área menor, mas têm começado a ocupar um ambiente que, até alguns anos atrás, era restrito a universidades e outros grupos fechados: a internet. O espaço virtual e a informática, aos poucos, têm ganhado o toque do índio, principalmente com sites que apresentam números, novidades, informações históricas e culturais, projetos e estudos relacionados à cultura indígena. Na rede mundial, um ponto de partida, em português, para encontrar informações sobre povos indígenas é o site da Funai (Fundação Nacional do Índio), em www.funai.gov.br. Nele é possível conhecer, por exemplo, quais etnias estão presentes por Estado e por quantas pessoas cada uma delas é formada. O site também apresenta uma série de links para páginas de temas relacionados, incluindo a do Museu do Índio (www.museudo indio.org.br). Segundo estimativas do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), com dados do IBGE, a população indígena no Brasil, atualmente, é de cerca de 620 mil. De acordo com a Funai, 330 mil vivem em localidades isoladas. Para levar a informática a eles, geralmente é necessária a iniciativa de grupos independentes, mas há quem consiga, de maneira independente, entrar em contato com o computador e criar com ele. Esse é o caso de Jesus Tserenhihi, xavante que, no ano passado (na época com 16 anos), fez um CD-ROM, "A'unê Uptabi" (índio verdadeiro, em xavante), sobre seu povoado -a aldeia Dom Bosco, em Poxoreó (MT)- e a cultura de sua etnia.

Dia do Índio
Amanhã, 19 de abril, é o Dia Nacional do Índio. A internet também explica, para quem não sabe, por que essa data foi escolhida. Indo a páginas como a www.pr. gov.br/prindigena/dia.html e a www.museudoindio.org.br/cri/ tema2.htm, o internauta descobre que a data, instituída no calendário brasileiro em 1943, foi definida em 1940, quando, na cidade de Patzcuaro (México), foi organizado o primeiro Congresso Indigenista Interamericano. O dia 19 de abril foi a data em que, depois de dias relutando, representantes de povos indígenas começaram efetivamente a participar do congresso.

Uso restrito
Para representantes de ONGs que trabalham com a causa indígena com quem a Folha entrou em contato, a internet tem importância de exposição e divulgação de idéias e trabalhos, mas não é possível utilizá-la de forma muito intensa, principalmente por problemas técnicos. "Índios têm muita vontade de se comunicar com outros índios. Se houvesse maior quantidade e qualidade de linhas telefônicas no interior do país, a internet poderia ser usada para ajudá-los nessa comunicação", diz Marina Kahn, coordenadora de projetos do ISA (Instituto Socioambiental). Mas isso não significa que o uso da rede em causas sociais não seja válido. "Desde que o nosso site foi ao ar, houve um aumento sensível no contato de pessoas que querem se tornar voluntárias ou que procuram informações para divulgar em seus Estados. Esse é o poder de mobilização que a internet tem e que ainda não foi muito explorado", afirma Kátia Vasco, assessora de imprensa do Cimi.

Criança xavante cria página em projeto
No ano passado, um grupo de crianças xavantes, por meio do Ideti (Instituto de Desenvolvimento das Tradições Indígenas), foi convidado pela oficina de sites do projeto Aprendiz (www.aprendiz.com.br) a criar uma página na internet. O programa -que é realizado pelo Aprendiz em parceria com ONGs- deu-se da seguinte forma: com monitoria, as crianças desenvolveram, ao longo do ano, trabalhos tratando de questões sociais e políticas. Simultaneamente, a página foi sendo montada. No final, os resultados, que também deveriam refletir a cultura xavante, foram condensados na página. Para Angela Pappiani, coordenadora de cultura do Ideti e uma das coordenadoras do trabalho com as crianças, o resultado foi um sucesso. "Durante o projeto, houve bastante integração entre as crianças e outras pessoas da aldeia. Todos queriam que aquela página ficasse com sua cara", diz. Quem possui acesso à rede pode ver o resultado. A página está no endereço www.uol. com.br/aprendiz/design social/xavante. Mas ela ainda apresenta alguns problemas de visualização. Segundo Pappiani, a página, em breve, também poderá ser vista no site do Ideti, em www.ideti.org.br . (MG)

Veja origem de tribos
Você sabe algo da cultura e da história das populações indígenas? Se a resposta for negativa, a rede mundial é uma aliada para conhecer o assunto. No Terra Almanaque, em www. terra.com.br/almanaque/index indios.htm, há uma página sobre o Brasil indígena. Fala de índios famosos e apresenta um panorama com algumas das principais etnias indígenas. Ela traz até um pequeno dicionário tupi-guarani, em que é possível descobrir a origem de termos indígenas utilizados na língua portuguesa, como açaí, carioca e tiririca. Um outro site com bastante informação sobre os índios brasileiros é o Amazonlife (www.ama zonlife.com), que tem a proposta de ser uma enciclopédia da Amazônia. Clique no item Índios do Brasil e conheça a origem dos povos indígenas, sua condição atual, personagens e instituições envolvidas no tema. As seções do site estão recheadas de imagens. Há também sites dedicados a etnias indígenas específicas. No endereço www.djweb.com.br/ historia, por exemplo, você encontra diversos textos a respeito dos índios guaranis e fotografias. Assim como acontece na maioria dos sites que trazem imagens de índios, as oferecidas nesse site estão em preto-e-branco. Veja também o site www.cosmo.com.br/provedor/unesco . Lá você conhece a história e a localização dos camaiurá e dos urubu-caapor. Mas o site não traz apenas isso. Ele também tem sons e fotografias dos índios dessas etnias e apresenta características específicas de cada uma. (MG)

ONGs apresentam seus trabalhos
Organizações não-governamentais que trabalham com a causa indígena não restringiram sua atuação apenas ao mundo concreto. A internet tem sido, no mínimo, uma aliada para divulgar suas propostas e atrair voluntários dispostos a trabalhar nas causas propostas. O ISA (Instituto Socioambiental) é uma ONG que trabalha com o estímulo ao desenvolvimento de um local, preocupando-se com a interação da natureza com sociedades tradicionais e indígenas -que normalmente possuem maneira sustentável de lidar com o ambiente. No site do instituto, em www.socioambiental.org , você pode conhecer os tipos de trabalho desenvolvidos. Em www.socioambiental.org/ website/povind/lista/lista.html , há uma lista com os povos indígenas contemporâneos do Brasil. Cerca de 50 deles, como o bororo, o crenaque e o tupiniquim, têm páginas com informações específicas. O endereço deve servir de referência para quem está interessado em uma boa fonte de informação sobre etnias do Brasil. Outra ONG que utiliza a internet para expor seus trabalhos é o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), órgão ligado à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Em seu site (www.cimi.org.br ), o internauta pode, por exemplo, ler os textos da publicação mensal "Porantim", cujas propostas refletem as do grupo: apoiar a questão indígena nas áreas de saúde, educação, luta pela demarcação e garantia de terras e segurança dos povos indígenas. O site da CCPY (Comissão Pró-Yanomami), em www.uol.com.br/yanomami, também deve ser visitado. Além de ensaios e informações relativas ao povo ianomâmi, a página traz uma seção com ilustrações feitas por índios dessa etnia e cinco salas virtuais com fotografias de Claudia Andujar. A instituição foi fundada em 1978 com o nome de Comissão pela Criação do Parque Yanomami. Entre os sites dedicados à temática indígena, o da CCPY é um dos mais bem organizados e visualmente agradáveis. O Ideti (Instituto de Desenvolvimento das Tradições Indígenas) é uma instituição formada por representantes das etnias xavante, mundurucu, carajá e guarani e por pessoas não-índias. Seu site (www.ideti.org.br ) explica trabalhos que o instituto realiza com o objetivo de preservar e divulgar suas culturas, como o Rito de Passagem. (MG)

Sites falam de índios do exterior
O dia 19 de abril pode ser uma oportunidade para conhecer um pouco mais os índios dos países americanos em que a população indígena tem participação social mais intensa do que no Brasil. Mas há um problema. Não é fácil encontrar na internet grandes centros de informação sobre povos indígenas de países pouco desenvolvidos economicamente. Para saber de índios do Peru, por exemplo, uma das poucas fontes é a página da Coppip (Conferencia Permanente de los Pueblos Indígenas del Peru), em www.rcp.net.pe/ashaninka/coppip . A página apresenta os povos e fala dos problemas que eles enfrentam. Sobre a cultura dos guaranis do Paraguai, um site bastante completo está em www.uni-mainz. de/lustig/guarani. Já para conhecer pela internet os índios dos EUA é um pouco mais fácil. Os oneidas e os cheroquis, por exemplo, possuem sites oficiais, em www.oneida-nation.net e www.cherokee.org . O site destes últimos traz notícias, fala da cultura e da história da etnia e oferece a fonte (para PC e Mac) para o internauta escrever com sua tipologia. Ambos os grupos são célebres por ter se aproveitado de uma brecha na legislação dos Estados Unidos e construído cassinos em áreas indígenas, em que essa atividade é liberada -mesmo se estiver em um Estado que proíba o jogo. Para ver informações gerais a respeito de culturas indígenas de países variados, visite o site NativeWeb, (www.nativeweb.com ). Do outro lado do mundo Outro país com uma população indígena grande é a Austrália. Segundo dados de 1996 do Australian Bureau of Statistics (www.abs.gov.au), o país conta com 390 mil aborígen es, cerca de 2% da população, que é de 18 milhões. Para saber mais sobre eles, visite o site da ATSIC (The Aboriginal and Torres Straight Islander Comission), em www.atsic.gov.au , uma das principais fontes de informação sobre questões e programas com temática aborígene. Como acontece em outros países, esse grupo populacional tem representantes na internet. O grupo musical Youthu Yindi, que mistura ritmos tradicionais com instrumentos modernos, é um deles. Em seu site (www.yothuyindi.com ), a banda coloca, além de trechos de músicas, fotografias e exemplos de arte aborígene. (MG)

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