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Sistema vai monitorar operacao de hidrovia

OESP, Geral, p.A9
24 de Nov de 2003

Sistema vai monitorar operação de hidrovia
Projeto em teste na Tietê-Paraná permite melhor controle e acesso a dados em tempo real
Liana John
Está em fase final um projeto piloto na Hidrovia Tietê-Paraná que prevê benefícios ambientais e econômicos às operações de transporte fluvial. O Sistema Integrado de Gestão do Uso Múltiplo das Águas (Sigest), montado na região do reservatório de Bariri, no interior, processa dados relativos a segurança, logística, meteorologia e permite acesso a dados em tempo real.
Se for estendido a toda a hidrovia, o Sigest reduzirá impactos ambientais ao dar subsídios para melhor ordenamento territorial das áreas de influência da Tietê-Paraná. A partir da análise dos dados, pode-se impedir, por exemplo, a instalação de um distrito industrial em área de recarga de aqüífero ou, em caso de propriedades rurais, atividades que possam contaminar a água.
No âmbito econômico, a diminuição média dos custos por tonelada transportada pode chegar a 20% ou 30%, na comparação com as rodovias, e 10% ou 15%, com ferrovias. "Com um motor equivalente ao de três caminhões, um único comboio transporta uma carga que exigiria 200 veículos. Isso traz menos gasto de energia e emissões de poluentes", diz o engenheiro naval Carlos Padovezi, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT).
Outra inovação é o processamento de informações essenciais à navegação, como condições climáticas. As análises ficariam disponíveis tanto para monitoramento das operações na hidrovia como para os pilotos das embarcações. "A meta é chegar ao nível de sistemas europeus, onde um investidor acompanha o transporte da carga em tempo real, planejando melhor suas atividades", diz o coordenador do Sigest, Antônio Camargo.
O sistema começou a ser desenvolvido em 2001 e envolve equipe multidisciplinar de 40 pesquisadores, engenheiros e técnicos do IPT, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Também participam órgãos como a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) e o Instituto Florestal (IF). O projeto já consumiu R$ 300 mil do Fundo Setorial de Recursos Hídricos e R$ 600 mil de contrapartida das instituições parceiras. Até a conclusão, em 2004, receberá R$ 101 mil.
Parte dos recursos foi usada na montagem de um centro de controle para o Departamento Hidroviário da Secretaria Estadual de Transportes (DH-Sectrans). "A gestão integrada das águas interiores concilia as necessidades de energia, transporte, irrigação, abastecimento e ambiente.
Somos os maiores interessados em preservar os rios, porque é isso que garante a navegabilidade", diz o diretor do DH, Oswaldo Rosseto.
Para Camargo, uma das vantagens do Sigest é permitir atuação "proativa, e não reativa", em áreas de hidrovia. "Não vemos as hidrovias só como estradas de água, mas como eixos de desenvolvimento sustentável."

Plano interessa a todo o continente
O sistema integrado de gestão de hidrovias proposto por pesquisadores paulistas não interessa apenas a São Paulo. Uma série de negociações envolvendo usuários e pesquisadores está em curso desde setembro, quando foi realizado o 3.o Seminário de Transporte Hidroviário Interior, em Corumbá, Mato Grosso do Sul. Organizado pela Sociedade Brasileira de Engenharia Naval (Sobena), o evento mobilizou latino-americanos, europeus e chineses, com os quais vêm sendo estudados acordos de cooperação.
"O grande objetivo é aglutinar a comunidade técnica internacional, preocupada com a gestão integrada de recursos hídricos", conta Cláudio Sampaio, vice-presidente da Sobena. Ele acredita que as hidrovias permitem que o desenvolvimento sustentável, até agora muito voltado para a zona costeira, seja deslocado para o interior. "E também são vias de integração latino-americana, pois não é só o Brasil que tem um interior a ser explorado."
Os participantes do seminário produziram um documento com compromissos que direcionam as cooperações em estudo. Na declaração, eles se mostram dispostos a promover a integração dos países sul-americanos com o fortalecimento do setor hidroviário, além de apoiar as práticas de planejamento integrado e desenvolvimento sustentável a partir do uso responsável dos recursos hídricos.
Também se comprometeram a promover e compartilhar o conhecimento relativo às hidrovias com a sociedade e, ainda, a reivindicar uma postura mais atuante dos governos de cada país para a solução dos entraves e impasses que afetam as contribuições das hidrovias para o desenvolvimento sustentável da América do Sul. (L.J.)

OESP, 24/11/2003, p. A9

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