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Setor privado tem desafios inadiáveis

Valor Econômico, Caderno Especial, p. F4
28 de Ago de 2014

Setor privado tem desafios inadiáveis

Por Paulo Vasconcellos
Para o Valor, do Rio

Um dos desafios que as mudanças climáticas impõem às empresas e seus modelos de negócio é a necessidade de que elas definam os cenários ambientais mais realistas de acordo com seus planos estratégicos. O aumento na eficiência da transmissão e uso da energia na indústria, no transporte e nas edificações, o apoio ao desenvolvimento de estudos e iniciativas que minimizem os impactos das mudanças climáticas nas cidades em que as empresas têm operações, o incentivo à utilização de boas práticas agropecuárias capazes de ampliar os estoques de carbono e de diminuir as emissões de gases de efeito estufa e a implantação de inventários sobre a pegada florestal de produtos e serviços estão entre as receitas consideradas inadiáveis para o setor privado.
"Em vez de projetar um futuro otimista, as empresas devem investir em um futuro melhor com ações que dependem do tipo do negócio", diz o engenheiro florestal Tasso Azevedo. "As empresas que têm planejamento estratégico têm não apenas que internalizar as mudanças como usar seu poder para induzir a sociedade e os governos para a pegada de carbono", afirma Virgílio Vianna, superintendente da Fundação Amazonas Sustentável.
"As empresas não têm que ter só boas intenções, mas por a mão na massa. Nem todas parecem dispostas a fazer os investimentos necessários e o discurso verde em muitos casos não passa da pintura da fábrica. Cabe ao governo conceder incentivos fiscais para incentivar a mudança energética", diz José Marengo, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Em um cenário no qual a crise ambiental só aumenta, alguns especialistas sugerem um protagonismo maior das empresas. As iniciativas que já foram adotadas precisam ser aprofundadas. Os focos deveriam ser três: do portão para dentro da fábrica com a criação de mecanismos ecoeficientes, do portão da fábrica para fora olhando as cadeias de suprimento de valor para que os fornecedores também tenham preocupações ambientais e na promoção dos conceitos de cidadania, e em ações setoriais e de políticas públicas.
"Uma empresa não pode arcar sozinha com custos maiores que os da concorrente. É preciso acertos setoriais e definir os limites de emissões daqui para a frente. Isso é muito importante para que as empresas saibam para onde o mundo vai andar. As decisões precisam ser tomadas agora", afirma Vianna.
"O lucro ainda está acima dos desafios ambientais e algumas empresas não percebem que a adoção de energia renovável também aumenta o lucro", diz Marengo. Os dois principais dilemas, segundo ele, estão em energia e transportes. A mudança da matriz energética dos combustíveis fósseis por energia eólica e solar e a aposta no transporte público são receitas antigas que ainda dependem de vontade política. O incentivo à utilização de boas práticas agropecuárias teria impacto na ampliação dos estoques de carbono e na diminuição das emissões de gases de efeito estufa. Já a implantação de inventários sobre a pegada florestal de produtos e serviços ajudaria na redução da emissão dos gases de efeito estufa.
Os desafios e soluções variam segundo o tipo de negócio de cada empresa, mas para algumas as respostas não podem mais demorar. De acordo com os especialistas, o orçamento de emissões até o fim do século para assegurar que a temperatura aumente no máximo dois graus é de 20 gigatoneladas de carbono por ano, mas hoje o mundo emite 50 gigatoneladas por ano. Os negócios que dependem de água têm que se adaptar urgentemente ao regime de escassez ou excesso por causa dos desastres naturais. Na Síria a seca provoca a migração do campo para as cidades, enquanto em São Paulo a estiagem aumenta os custos de produção de alguns setores industriais. Siderúrgicas estão procurando outras rotas para evitar o uso de carvão mineral, que aumenta a emissão de gases do efeito estufa. A indústria de cimento busca o cimento sustentável com a redução de calcário. No verão da Alemanha cerca de 80% da geração energética no meio do dia já é proveniente da energia solar.

Valor Econômico, 28/08/2014, Caderno Especial, p. F4

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