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Seringais acreanos são alvo da cobiça da "Máfia do Mogno"

O Rio Branco-Rio Branco-AC
Autor: Ana Sales
20 de Jul de 2003

Os seringais acreanos estão na mira das madeireiras sediadas no sul do País, responsáveis pela exportação ilegal de mogno. Elas são mais conhecidas, pela imprensa nacional e pelo Green-Peace como "Máfia do Mogno". Técnicos do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac) verificaram, durante toda a semana, se estas empresas estariam planejando atuar no Acre. Oficialmente, ninguém fala sobre o assunto.

Técnicos que pedem para não terem seus nomes revelados informam que o mesmo grupo madeireiro que está atuando no Seringal Oriental, no município de Boca do Acre (AM), onde caiu um helicóptero do Ibama, já possuem projeto protocolado no Imac, para exploração, através de Plano de manejo, de 20 mil hectares de terras, em um seringal às margens do Rio Iaco. Outros três seringais, localizados na região do Purus, também já foram comprados para retirada de madeira. Um dos técnicos que pede para ter sua identidade preservada, informou que o grupo descreve apenas cinco espécies madeireira para serem exploradas mas que, "na realidade, o que eles fazem é uma garimpagem da área, de olho principalmente no mogno que, por lei, não pode ser abatido".

As informações é que o mesmo grupo madeireiro já instalou uma vila há seis quilômetros de Sena Madureira. Além de casas e infra-estrutura urbana, existe uma serraria com capacidade para beneficiar 10 mil metros cúbicos de madeira por ano. "Coincidentemente, a mesma previsão de produção dos primeiros cinco mil hectares a serem retirados do seringal de Boca do Acre", afirma a fonte. Os profissionais da área de meio ambiente estão preocupados porque afirmam que todos os empregos gerados são para profissionais de Rondônia, Mato Grosso e Paraná, não ficando nenhum centavo da exploração, para gerar riqueza e desenvolvimento no Acre. Sem se detalhar para o prejuízo social, com expulsão de seringueiros, e ambiental, que causará para o Acre. "O pior de tudo é que eles, ao acabarem as madeiras do sul do Amazonas, planejam transferir toda a sua estrutura para Manoel Urbano, explorando os seringais acreano, provocando expulsão, desagregação familiar e até mortes". Questionado se não estaria fazendo um grande drama, um dos técnicos informou que, agora, os madeireiros utilizam outra tática de expulsão de seringueiros: "Eles promovem uma festa, regada a cachaça, convida os seringueiros, levam algumas prostitutas instruídas para provocar ciúmes e intrigas entre eles, a ponto de, já embriagados, travarem briga corporal e até mortes. Esta tática é para provocar a desagregação do lar, o abandono da posse e deixar o caminho aberto para os madeireiros agirem sem terem de pagar indenizações", diz a fonte.

GTA vai averiguar e acionar MPF e MPE

A coordenadora nacional do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), Maria Araújo Barbosa de Aquino, ficou preocupada com as denúncia e disse que vai dedicar atenção especial ao assunto e investigar o que realmente está acontecendo. Ela disse ter notícias de que as madeireiras estão, de fato, articulando-se para explorar as reservas de madeira das florestas acreanas. "O movimento social vai fazer o seu papel de denunciar e auxiliar o governo no seu papel fiscalizador", disse Maria Araújo.

Ela acrescentou que os ministérios públicos Federal e Estadual são fundamentais para colocar os limites desta exploração. "Recentemente, tivemos problemas com a empresa estatal Vale do Rio Doce e a atuação dos ministérios Públicos foram fundamentais para coibir explorações predatórias dos recursos naturais", informou. (A.S.)

SOS Amazônia propõe a
suspensão dos desmatamentos

O secretário Geral da Fundação SOS Amazônia, geógrafo Miguel Scarcello, disse que é momento de ser mais rigoroso nos critérios para autorização de planos de manejo. "Tem que se considerar a redução do impacto como fator decisivo para os planos de manejo", afirma.

Ele diz que os planos de manejo estão se constituindo apenas numa forma das madeireiras legalizarem uma exploração predatória que, por conta de um projeto, passa a ser legal, escondendo diversas irregularidades. Scarcello se diz preocupado com as deficiências da fiscalização, argumentando que o poder público tem que ter a capacidade instalada para monitorar todos os projetos. Defensor da política de preservação ambiental, Scarcello, que também é professor da Universidade Federal do Acre, afirma que, para barrar o aumento da exploração irregular e ilegal das reservas de madeira das florestas acreana ,"é preciso que o governo pare tudo durante um ano", diz, referindo-se à suspensão das atividades dos planos de manejo.

Somente desta forma, diz o ecologista, é possível o Estado investigar quem está certo e quem está agindo errado, ao mesmo tempo em que cria uma estrutura eficiente de fiscalização, de monitoramento. "Se formos esperar por cinco, dez anos, por esta estrutura eficiente, não haverá mais o que fiscalizar, pois os madeireiros já tiveram tempo de explorar tudo", observa.

Scarcello analisa que o Estado, ao não se manifestar para solucionar a problemática, estimula a exploração irregular. Ele defende que o poder público tem que tomar conta do bem público. "O governo tem que ter gente para coibir", argumenta. Ele se diz preocupado com o caos social que a atuação das madeireiras, em seringais acreanos, possam causar. "Vai acontecer o que aconteceu em tempos passados, com expulsão de posseiros, resistência, empates e até mortes. Isso é inadmissível e não podemos assistir a tudo de braços cruzados", fala indignado. (A.S.)

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