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Séries produzidas no Estado destacam índios como protagonistas

Correio do Estado- http://www.correiodoestado.com.br
25 de Mar de 2016

Dois projetos aprovados no edital "Brasil de Todas as Telas" colocam os indígenas de Mato Grosso do Sul como protagonistas. "Guateku", que tem direção de Thiago Rotta, e "Fronteiras Fluidas", de Mariana Fagundes e Joel Pizzini, foram os selecionados para receber aporte financeiro. Os trabalhos, apesar de distantes, dialogam a partir da escolha de representar o universo indígena em séries para canais de TV públicos.

"Guateku" se vale da ficção para retratar o surgimento do grupo de rap Brô MC's, formado por quatro jovens das aldeias Jaguapiru e Bororo, em Dourados. Bruno, Clemerson, Kelvin e Charlie - que misturam Português e Guarani nas canções - são os protagonistas da história. "Optamos pela ficção, por poder ter um olhar mais livre e poético sobre o surgimento do grupo. Mas também há um fundo documental, já que estamos trabalhando com pessoas das aldeias, que não são profissionais", explica a produtora executiva, Ana Paula Ostapenko.

Depois de 33 dias, as filmagens foram finalizadas na terça-feira. Segundo o diretor, cerca de 90% do material foi colhido nas aldeias. Serão produzidos cinco episódios, de 26 minutos cada um. "Vamos fazer a primeira montagem. Talvez seja necessário refilmar uma cena ou outra. Depois, passaremos à pós-produção", explica. Para a realização da série, foram disponibilizados R$ 650 mil.

"Ainda não existe um mercado profissional de cinema em Dourados, mas decidimos contar com profissionais daqui. Os custos de locação de equipamentos, principalmente importados, dificultaram e elevaram os custos", afirma Thiago. De acordo com ele, o interesse pelo tema foi imediato. "Conheci a história dos meninos. É algo perfeito para virar um produto audiovisual. Tudo estava lá, nós só tivemos que lapidar", comenta.

Olhar poético

Criado em 2014, o Programa Brasil de Todas as Telas é considerado o maior programa de desenvolvimento do setor audiovisual já construído no País. Desenvolvido pelo Ministério da Cultura, por meio do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), a ação permitiu a realização de projetos em todas as regiões. Para o Centro-Oeste, por exemplo, foram destinados mais de R$ 12 milhões para viabilização de séries audiovisuais.

O projeto "Fronteiras Fluidas" foi outro que conseguiu aporte governamental para sua realização. Com 13 episódios, a proposta é promissora e curiosa. De acordo com Mariana Fagundes, jornalista especializada em cinema, a série pretende explorar as fronteiras físicas, simbólicas e espirituais que se colocam entre índios e não índios. Ao seguir lideranças indígenas, a série documental apresentará a fluidez desses laços e se aprofundará no universo de etnias como a dos guaranis-kaiowás, os yanomamis, entre outros.

A direção-geral é de Mariana, que convidou o cineasta Joel Pizzini para dirigir artisticamente o projeto. "Não queremos produzir uma série nos formatos de sempre. A ideia é explorar as possibilidades narrativas e estéticas, para fugir do comum e construir um produto audiovisual que promova o diálogo de forma e conteúdo", pontua Pizzini.

Mariana conheceu o cineasta sul-mato-grossense em Dourados, durante a realização do projeto "A Vulnerabilidade das comunidades indígenas no Brasil", que foi contemplado no edital "Direitos Difusos", do Ministério da Justiça. Nele, a diretora criou uma série de vídeos abordando a vulnerabilidade existente entre povos em diferentes estágios de contato com a sociedade majoritária: awá-guajá e guarani-kaiowá. As filmagens aconteceram na aldeia Arroio Korá.

"O Pizzini tem uma sensibilidade em relação à causa. Ele dirigiu o documentário '500 almas'. Gosto muito do olhar poético que ele oferece, é uma assinatura. Eu queria aquilo no projeto", comenta.

Atualmente, "Fronteiras Fluidas" está na fase de pré-produção. "Estamos levantando a agenda dos líderes que vamos acompanhar e realizamos entrevistas com consultores, entre eles, o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro", aponta Pizzini. Segundo ele, uma das frases do antropólogo captou a importância da série: "Ele apontou que é possível ser diferente sem ser desigual e que nem todo mundo quer viver como você vive. Mostrar essas outras possibilidades de existir é fundamental".

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