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Senadores querem fim de operação antidesmate

OESP, Vida, p. A21
25 de Abr de 2008

Senadores querem fim de operação antidesmate
Pressionado por lobby de madeireiros, grupo diz que ação causa desemprego

Christiane Samarco,

Um grupo de parlamentares da subcomissão de Meio Ambiente do Senado, presidida por Flexa Ribeiro (PSDB-PA), quer acabar com a Operação Arco de Fogo, da Polícia Federal (PF), deflagrada em fevereiro para combater a exploração ilegal de madeira na Amazônia.

Pressionados de um lado pelo lobby dos madeireiros, que movimentam a economia de várias cidades e financiam campanhas eleitorais, e de outro por prefeitos que se queixam do "desastre econômico" produzido pela Arco de Fogo, que paralisou o setor a seis meses da eleição municipal, os senadores cobram do governo federal a fatura dos prejuízos.

Para esses parlamentares, o "grande desmatador" não é o madeireiro que atua irregularmente na região, mas o governo federal, com seus programas de assentamento. Eles contestam os números do desmatamento crescente na região, levantados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), acusam a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, de divulgá-los com estardalhaço só para garantir mais verbas para seu ministério e o governo de ignorar a questão social paralisando a única atividade econômica de muitos municípios, sem distinguir madeireiras legais das ilegais.

'MADEIREIRO NÃO É BANDIDO'

"Não precisamos da força-tarefa de centenas e centenas de agentes federais da Força Nacional. Precisamos de uma força-tarefa para buscar a regularização fundiária e fazer com que o Estado brasileiro esteja presente naquelas comunidades, buscando soluções", protestou o senador Jayme Campos (DEM-MT) no plenário do Senado. "Não é o madeireiro que destrói o meio ambiente. Madeireiro não é bandido", concorda o senador Expedito Júnior (PR-RO), destacando que não teve recurso de madeireiro financiando sua eleição.

Ele e Campos participam do grupo das inspeções locais aprovadas pela subcomissão de Meio Ambiente para acompanhar o trabalho da PF nos quatro Estados onde a operação foi deflagrada (AM, PA, RO e MT). Na semana passada, os dois estiveram no Pará com Flexa Ribeiro e Sibá Machado (PT-AC). Ontem estiveram em Rondônia, onde cumpriram agenda de visitas a alguns dos 36 municípios da lista dos que mais desmataram em 2007, elaborada pelo Inpe.

Os números do instituto apontam Mato Grosso como responsável por 77% dos 145,5 quilômetros quadrados de novos desmatamentos registrados pelo Sistema de Detecção em Tempo Real (Deter) no mês de março. O levantamento mostra que só o município de Marcelândia, no norte do Estado, engrossou as estatísticas com 45% do total de desmatamento da Amazônia Legal no período.

Preocupado com a forte reação à Arco de Fogo dentro e fora do Congresso, o líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES), adverte que "a subcomissão corre o risco de resolver mais os interesses da atividade ilegal do que o problema do desmatamento". "A operação é um tratamento de choque necessário", afirma.

Fiscalização completa 2 meses

Um grupo de 300 integrantes da Polícia Federal, Força Nacional de Segurança e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) deu início, em 26 de fevereiro, à Operação Arco de Fogo, maior ofensiva contra o desmatamento na Amazônia Legal.

As ações conjuntas, previstas para durar mais de um ano, começaram pelo município de Tailândia (ao sul de Belém). Os agentes devem passar também pelos 36 municípios apontados pelo governo federal como os que mais desmataram no ano passado. Os Estados mais problemáticos são Mato Grosso, Pará e Rondônia.

Até o final de março, já haviam sido apreendidos 23,3 mil metros cúbicos de madeira e aplicado multas no valor de R$ 23,1 milhões.

Em 7 de abril, a operação chegou ao município de Paragominas, sudeste do Pará, onde já foram aplicadas multas que somam R$ 9,7 milhões.

Até o início desta semana, em Paragominas, 19 estabelecimentos - entre serrarias, madeireiras e áreas pertencentes a pessoas físicas - haviam sido vistoriados. Desses, 8 foram lacrados e todos multados. Mais de 6,5 mil m³ de madeira foram apreendidos.

OESP, 25/04/2008, Vida, p. A21

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