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Sem verba, PF abandonou área meses antes do conflito

FSP, Brasil, p.A8
21 de Abr de 2004

Sem verba, PF abandonou área meses antes do conflito
Saída de policiais foi no fim de 2003; Bastos sabia de riscos

Por falta de verba, no final do ano passado um grupo de dez policiais federais coordenados pela direção da corporação, em Brasília, foi retirado da terra indígena Roosevelt, em Rondônia. Eles eram remanescentes de uma operação especial da PF no local para evitar um confronto entre índios cinta-larga e garimpeiros.
Na mesma época, a CPI do Garimpo da Assembléia Legislativa de Rondônia e o governador do Estado, Ivo Cassol (PSDB), pediram ao ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) uma "intervenção federal" para impedir conflitos na área. Cassol, também por meio de ofício, fez o mesmo pedido ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, falando em risco de "derramamento de sangue".
Em conflito ocorrido no dia 7, na disputa pela extração de diamantes, pelo menos 29 garimpeiros foram mortos por cinta-larga.
Ontem, o ministro admitiu que o governo federal já sabia dos riscos de conflito na região. "O governo tem há muito tempo informações das dificuldades e dos problemas dos riscos do garimpo Roosevelt. É uma situação séria. É uma situação que veio de outros governos e agora nós temos um trabalho constante feito ali [na reserva, em Espigão d'Oeste, 534 km de Porto Velho]."
Em seguida, Bastos reafirmou que o trabalho do governo na região tem sido constante desde o início da gestão. "Nós tínhamos consciência da dificuldade que havia naquele garimpo. Mas estamos trabalhando constantemente desde o primeiro dia que assumimos o governo."
De acordo com o coordenador-geral de defesa institucional da PF, delegado José Milton Rodrigues, a presença de policiais federais na região de conflito ajudava a "inibir" a entrada de garimpeiros na terra indígena. "É evidente que apenas a presença da Polícia Federal na região não seria suficiente para evitar os conflitos. Mas o grupo permanente que atuava na área ajudava a inibir a entrada dos garimpeiros", disse.
Segundo ele, os policiais federais foram retirados por causa da falta de verbas para sua manutenção. Entre janeiro, quando a PF enviou agentes para a retirada de 5.000 garimpeiros, e o final de 2003, a presença da PF na área foi permanente. "Por causa da falta de recursos, em novembro tivemos de retirar os policiais [oriundos de diferentes superintendências regionais da corporação]."
O Sindicato dos Servidores da Polícia Federal de Rondônia e a Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais) afirmam que há 60 dias a PF retirou dois postos que eram mantidos na região -um em Pimenta Bueno e outro próximo à reserva indígena. Assim, o efetivo foi reduzido para cinco agentes no início do ano e, finalmente, desmontado.
Segundo as entidades, o governo foi informado também em fevereiro pelo Serviço de Inteligência da PF que a área precisava de reforço. Procurada pela Folha, a superintendência da Polícia Federal em Rondônia não ligou de volta para falar sobre o caso até a conclusão desta edição.
A reportagem teve acesso a ofícios enviados ao governo. No documento direcionado a Bastos, Cassol afirmou que a situação na reserva indígena era "triste, de revolta e de miséria". No ofício enviado a Lula, solicitou "providências para evitar um novo conflito com derramamento de sangue".

Sobrevivente diz que índio liberou entrada
Da Agência Folha, em Espigão DOeste (RO)
Um dos sobreviventes do massacre dos garimpeiros em Rondônia, Antônio Rosa, 48, disse ontem que os garimpeiros tinham autorização de um grupo de índios cinta-larga para entrar na terra indígena Roosevelt, desde que não fossem ao garimpo principal, chamado Baixão do Laje.
O ataque ao grupo de 150 garimpeiros ocorreu depois de terem explorado por pelo menos dez dias diamantes em um local conhecido como Grotinha.
Segundo ele, os índios atacaram, por volta de 11h, atirando com espingardas calibre 12, revólveres e pistolas. Três homens morreram no local, e 26 foram amarrados, levados para uma área a 2 km dali e assassinados.
Polícia Federal e garimpeiros confirmam a versão. Segundo PF, Funai e garimpeiros, os 29 mortos teriam sido mortos por índios contrários à extração de diamantes. Parte dos guerreiros veio da aldeia dos cinta-larga em Juína (MT) para o massacre dos garimpeiros, disse ontem o delegado federal Mauro Sposito, que investiga as mortes.
Coordenador da Funai em Rondônia e acusado pelo governador Ivo Cassol (PSDB) de envolvimento no massacre, Walter Blós disse ontem que rompeu o "elo" entre índios e financiadores do garimpo e devolveu a acusação: Cassol estaria tentando explorar a extração de diamantes da reserva indígena. O governador disse que Blós está enganado. (HC)
Colaborou o enviado especial a Porto Velho

Polícia monta barreiras para revistar índios

Do enviado especial a Porto Velho
Da Agência Folha, em Pimenta Bueno

Uma força-tarefa composta por membros da Polícia Federal, Exército e Força Aérea ocupa desde ontem a reserva indígena Roosevelt, em Rondônia, para impedir a extração de diamantes da jazida existente na área.
Foram montadas três barreiras nas entradas da reserva Roosevelt. Índios cinta-larga que saírem das aldeias de camionetes serão revistados. Se forem encontrados diamantes com eles, os cinta-larga serão presos por extração ilegal de minério, afirmou o delegado Mauro Sposito, coordenador da força-tarefa, que vai mobilizar cerca de 480 homens.
A Operação Mamoré, que irá durar quatro meses, vinha sendo planejada desde o início do ano passado, quando o governador Ivo Cassol (PSDB) solicitou uma intervenção federal no Estado.
"Queremos evitar a invasão da reserva e suspender toda a atividade garimpeira na região, seja por garimpeiros, seja por índios", disse o delegado Marcos Aurélio Moura, superintendente da PF em Rondônia.
No início da noite de ontem, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, Jorge Armando Félix, chegou a Porto Velho, a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Félix é o coordenador da Operação Rondônia, que envolve 23 órgãos federais e estaduais no combate ao crime organizado no Estado. (IURI DANTAS e HUDSON CORRÊA)

FSP, 21/04/2004, p.A8

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