VOLTAR

Sem Tekoá não há Tekó

Rede Solidaria de Entidades e Movimentos Sociais
Autor: Elaine Tavares
04 de Abr de 2001

Quem passa pela BR 101, na altura do Morro dos Cavalos, não pode deixar de ver os barracos de lona que anunciam um crime. São as moradas dos índios Guarani Mbya, que se acotovelam em uma pequena faixa de terra, lugar árido, cheio de rochas e com um intermitente vento incomodativo, que não permite o cultivo sequer do milho. Esse pequeno grupo de quase 100 pessoas é só uma amostra da situação dos indígenas que vivem em Santa Catarina. Eles ainda não  precisaram entrar em guerra, como os Xokleng no oeste do Estado, mas isso pode não demorar. A miséria os obriga a vender artesanato pelas ruas, quando sua cultura é de povo agricultor. Mas como plantar se não há terra?

No Museu Universitário da UFSC todo dia é dia de índio, seja através do  trabalho de Dorotéa Darella ou de Aldo Litaiff, dois técnico-administrativos que têm projeto de pesquisa e que dedicam suas vidas à causa indígena. Dorotéa está na discussão da duplicação da BR e Aldo vem batalhando pela implementação de uma idéia que pode ajudar os Guarani a viver melhor.

O projeto Sem tekoá não há Tekó ( sem terra não há cultura), já apresentado à Fapeu e à representante do Banco Mundial, tem valor irrisório: 50 mil  reais. Mas os efeitos podem mudar a vida de quase 200 índios que vivem nas aldeias de Massiambu, Morro dos Cavalos e Imaruí. A idéia surgiu depois de uma caminhada de mais de 15 anos com os índios Guarani. "Fiquei uns quatro anos pesquisando em Angra dos Reis e Ubatuba, quando implementamos, em terras indígenas, a correção de solo para o plantio de feijão, batata-doce, milho e mandioca, o reflorestamento e a criação de três tanques de tilápia. Isso deu
certo e hoje eles tem capacidade de se auto-sustentarem", conta Aldo.

Com base nessa experiência ele apresentou, junto com o cacique das três  reservas, Augusto Karai, um projeto para área de Imaruí, que é a maior, com 80 hectares. A proposta de sustentabilidade prevê a recuperação do solo a partir da adubação orgânica, o reflorestamento, o cultivo das árvores frutíferas e a criação de tanques para a criação de peixes típicos da região ou tilápias e carpas. "Queremos fazer isso em Imaruí porque lá é maior e todas as aldeias giram em torno daquela terra agora, que é a menos ruim que eles têm para plantar. Também está no projeto a sugestão para a aquisição de mais terra no entorno da reserva para eles tenham mais condições de vida. "Isso poderia tirar os índios deste estado de mendicância. Eles querem trabalhar, plantar. Não têm o costume de vender artesanato. Só o fazem porque não podem plantar. Dando condições eles podem viver melhor".

Aldo lembra que, enquanto em outros países a diferença é uma riqueza, aqui é tratada como problema, e que praticamente ninguém se preocupa em resolver. "O governo do Estado, por exemplo, criou com grande estardalhaço um Conselho de Povos Indígenas, fez uma grande festa, duas reuniões burocráticas e pronto. Mais nada. Não têm mais dinheiro. Se tivessem usado o dinheiro da festa para um projeto como esse, as coisas não estavam como estão", finaliza.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.