OESP, Nacional, p. A11
26 de Out de 2005
Sem socorro, flagelados comem jacarés no Pará
Governador diz que não tem como distribuir sozinho alimentos nos locais mais distantes
Carlos Mendes
Com fome e ainda à espera dos alimentos que demoram a chegar em 9 dos 12 municípios atingidos pela seca, moradores de algumas comunidades do oeste do Pará estão indo para mata com suas espingardas à caça do jacaré, cuja carne é o único alimento diário para muitas famílias. Os pescadores alegam que vivem sitiados dentro das casas à espera de ajuda, enquanto seus barcos continuam encalhados em imensos bancos de terra e lama provocados pela seca de rios e lagos da região.
"O jeito é comer jacaré, que não custa nada. Não faturo nada há mais de 20 dias. Meu barco está parado e meu prejuízo é grande", contou Francisco Bentes, do distrito de Curuaí.
O governador Simão Jatene declarou que o Estado não tem condições de sozinho fazer a distribuição dos alimentos para as comunidades mais distantes. Ele pediu que os prefeitos mobilizem servidores para levar as cestas básicas em caminhões e barcos. Na comunidade de Caraubal, distante 108 quilômetros de Santarém, 20 famílias isoladas devido à seca do Rio Arapiuns receberam alimentos de homens da Defesa Civil que chegaram de helicóptero.
A forte estiagem resultou num triste cenário: o rio deu lugar a um solo seco e rachado, os barcos e canoas estão encalhados e os animais procuram água na lama que se espalha pelo leito do rio. Os moradores de Caraubal, a maioria pescadores, contam que, com a falta de peixes, a única alternativa é caçar jacarés ou se alimentar das galinhas que resistiram à seca.
"Não estamos pegando nada. A água está muito suja, tudo virou lama", desabafou o pescador Antonio Mendes.
OESP, 26/10/2005, Nacional, p. A11
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