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Seita tem áreas de coca na fronteira, diz PF

FSP, Cotidiano, p. B4
12 de Mar de 2017

Seita tem áreas de coca na fronteira, diz PF

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO A ISLÂNDIA (PERU)

Vestidos em túnicas como na época de Jesus Cristo, os fiéis da igreja peruana Missão Israelita do Novo Pacto Universal pregam que a Amazônia é o lugar ideal para sobreviver ao fim do mundo.
Para a Polícia Federal e especialistas em narcotráfico, porém, são eles os principais responsáveis pelo avanço do cultivo da coca ao longo da fronteira com o Brasil.
Vindos do altiplano peruano, os israelitas, como são conhecidos, chegaram nos anos de 1990 a essa despovoada parte da Amazônia peruana, onde criaram comunidades agrícolas e se isolaram da violência do conflito entre a guerrilha Sendero Luminoso e o Estado peruano.
Somente às margens do Javari, que separa o Peru do Brasil, existem quatro grandes assentamentos com cerca de 9.000 fiéis, segundo o pastor José Cordova Calderón, que prega em Islândia, povoado de cerca 1.500 moradores erguido sobre palafitas em uma ilha do rio.
Os israelitas também têm pequena presença no lado brasileiro, com duas igrejas em Tabatinga e outra em Benjamin Constant.
"No fundo do rio, há tremendas cobras, e são esses animais que vão proteger o povo de Deus", explicou Calderón, sobre a opção dos israelitas pela Amazônia.
De acordo com investigações da PF, são essas comunidades as principais responsáveis pela propagação da coca na fronteira, a partir de meados dos anos 2000. Até então, a produção se restringia a áreas mais altas e secas.
As folhas de coca seriam compradas por pequenas organizações criminosas peruanas, responsáveis pelo processamento. O transporte e a venda têm participação de colombianos e, do lado brasileiro, precisam do aval da facção Família do Norte (FDN).
Calderón nega com veemência o envolvimento com a produção de coca. "Há plantio de coca nas margens de todos os rios peruanos, mas nós, como pregadores da doutrina de Cristo, a rechaçamos", afirma. "A planta de coca é como um câncer para a sociedade", completa.
PRODUÇÃO DE COCA
O auge do cultivo da planta na região fronteiriça ocorreu em 2013, quando havia 3.070 hectares plantados de coca, de acordo com monitoramento do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).
A partir de 2014, com apoio do Brasil, para onde se destina a produção fronteiriça, e dos EUA, o governo peruano iniciou um programa de erradicação manual. No ano seguinte, a última medição disponível, a área cultivada caiu para 370 hectares.
A situação, no entanto, é volátil, principalmente devido à notória ausência do Estado peruano na região -as forças de segurança brasileiras afirmam que inexiste colaboração em nível local com autoridades do país vizinho. As ações conjuntas, explicam, precisam ser negociadas diretamente em Lima.
Sob anonimato, um especialista em drogas peruano afirmou à Folha que a principal preocupação no curto prazo é que a pouca presença do Estado atraia guerrilheiros da Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) que não participam do processo de paz em curso.

FSP, 12/03/2017, Cotidiano, p. B4

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/03/1865769-seita-peruana-do…

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