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Secretário do Meio Ambiente de MT culpa os índios por desmatamentos

O Globo, O País, p. 4
03 de Jun de 2008

Secretário do Meio Ambiente de MT culpa os índios por desmatamentos
Segundo ele, rituais com fogo também provocam incêndios nas florestas

Soraya Aggege e Anselmo Carvalho Pinto

O secretário de Meio Ambiente de Mato Grosso, Luís Henrique Daldegan, disse ontem que parte da culpa pelos desmatamentos em seu estado é dos índios, que fariam rituais com fogo e causariam incêndios nas áreas de floresta. Mas ele admitiu que a outra causa é mesmo o avanço da fronteira agrícola. Para Daldegan, é bom que o governo federal tenha medidas de fomento para reduzir a pressão sobre a floresta.
- Enquanto a floresta valer menos em pé (que tombada), isso vai continuar - admitiu.
Enquanto o secretário culpou os índios, o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), minimizou os novos números do Inpe e preferiu se queixar da falta de nuvens para atrapalhar os satélites do Inpe:
- De fato, Mato Grosso aparece em primeiro lugar. Mas, em abril, fomos o estado que teve a maior cobertura do satélite. Tivemos apenas 14% do território com nuvens. Diferentemente de outros estados, como o Pará, onde havia só 11% de áreas com céu aberto.
Daldegan lembrou até que há casos de queimadas por combustão natural, além das provocadas pelos índios.
- Eles mesmos (os indígenas) colocam fogo na mata, durante os seus rituais. Isso é uma realidade de lá (de Mato Grosso) - disse o secretário, acrescentando serão necessárias muitas pesquisas para comprovar que os agricultores estão avançando sobre as áreas de floresta.
Maggi diz que vai embargar áreas de corte raso
Maggi disse concordar com a forma como os números foram divulgados desta vez, com a separação do corte raso da degradação progressiva da vegetação:
- É isso o que tenho pedido, que os números sejam separados. Assim, há como o governo agir quando há degradação progressiva. Se você consegue detectá-la a tempo, há como recuperar a vegetação.
Se já foi derrubado, no corte raso, isso é impossível.
O governador disse ainda que a fiscalização da Secretaria estadual de Meio Ambiente vai a campo nos próximos dias fiscalizar o corte raso na floresta:
- Vamos embargar as áreas. Nenhum estado da Amazônia tem estrutura de fiscalização e as disponibilidades de gente e financeira como Mato Grosso.
Na avaliação de Maggi, os dados que valem mesmo são os do sistema Prodes, com os números consolidados do desmatamento, que serão divulgados no fim do ano. Por esse sistema, o desmate em Mato Grosso caiu de 11.814 quilômetros quadrados em 2004 para 2.476 no ano passado. No último levantamento do Inpe, quando Mato Grosso também comandou o desmatamento, Daldegan contestou os dados do Inpe. Mas os dados foram reafirmados pelo Inpe no mês passado:
- Nós iremos a campo aferir tudo novamente. E temos certeza de que o Prodes vai mudar toda essa imagem negativa sobre o nosso estado. Inclusive, muitas áreas apontadas pelo Inpe são áreas de manejo, autorizadas pela secretaria.
A Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso consome, segundo Daldegan, R$ 54 milhões por ano na fiscalização sobre a área de floresta. Em 2007, gastou R$ 7 milhões com o sistema de rechecagem do Inpe, além de aplicar 700 autos de infração.

O Globo, 03/06/2008, O País, p. 4

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