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Seca fora de época no país faz 93 cidades cortarem a água

FSP, Cotidiano, p. C1-C3
12 de Jan de 2015

Seca fora de época no país faz 93 cidades cortarem a água
Racionamento atinge municípios de médio porte do Nordeste, Minas e ES
Moradores ficam até 3 dias da semana sem abastecimento; locais turísticos são afetados a um mês do Carnaval

PAULO PEIXOTO DE BELO HORIZONTE JOÃO PEDRO PITOMBO DE SALVADOR

Gerente de uma pousada de Olinda, em Pernambuco, Diego Fernandes, 26, não dorme direito. O município enfrenta um inesperado racionamento de água em plena época de chuvas e a pouco mais de um mês do Carnaval.
Oficialmente, o racionamento prevê que as casas fiquem três dias por semana sem água. Mas, diz Diego, não dá para confiar. "Chegamos a ficar cinco dias sem água."
Bem em janeiro, quando a chuva começa a chegar ou atinge seu pico em várias partes do país (incluindo grande parte do semiárido), a escassez de água atinge municípios de Minas, Espírito Santo e dos Estados do Nordeste.
São 93 cidades oficialmente em racionamento --mesmo número do ano passado. Mas agora a medida atinge não só os pequenos municípios mas também os de médio porte --inclusive fora do semiárido. No total, são 3,9 milhões de pessoas afetadas.
Em São Paulo, que vive a maior seca em 84 anos, não foi decretado racionamento, mas a pressão da água tem sido reduzida à noite e, nesta semana, foi aprovada uma sobretaxa na conta de água para quem aumentar o consumo. Ela está em vigor desde a última quinta-feira (8).
Já em Juiz de Fora (MG), os moradores ficam sem água uma vez por semana. No Grande Recife, Olinda, Paulista e Abreu e Lima (PE) enfrentam cortes de água que chegam a três dias por semana.
Em Campina Grande, segunda maior cidade da Paraíba, o fornecimento de água está suspenso aos fins de semana --medida rara também para esta época do ano. A previsão é de que a situação persista até novembro.
Segundo o Ministério da Integração Nacional, 907 municípios estão em situação de emergência ou calamidade pública em razão da seca.
Mesmo onde não há oficialmente racionamento, a falta de água é rotina. É o caso de Guarapari (ES), cidade de 118 mil moradores que recebe cerca de 1 milhão de visitantes nas férias, onde as torneiras secam sempre, apesar de não haver racionamento.
Os moradores já saíram às ruas para protestar duas vezes desde o Natal. A seca de três rios da região reduziu em 20% a captação de água para abastecer o município.
"É melhor ficar sem luz que sem água. Gosto de tudo limpo. Sem luz, só ia ficar chateada se não tivesse o celular", diz Ravania Santos, 29.
Na Bahia, cidades como Vitória da Conquista, Itabuna e Juazeiro têm interrupções constantes no abastecimento, mas, oficialmente, também não há racionamento.

Previsão para os próximos meses também preocupa
Dezembro teve chuvas abaixo da média na região; janeiro tem situação parecida
No RN, abastecimento entrou em colapso em cidade do interior; em MG, turismo sofre efeitos da crise hídrica

DE BELO HORIZONTE DE SALVADOR

Em motos ou jumentos transportando galões, lavradores da pequena São Miguel, no Rio Grande do Norte, fazem uma peregrinação até a casa do agricultor Saraiva Cesário Viana, 35.
É do poço em seu terreno que ele capta água e distribui para as famílias da região -- com um limite de 200 litros por dia para cada uma. "Numa situação dessas, um tem que ajudar o outro do jeito que dá", afirma Viana.
Morador da cidade distante 433 km de Natal, Viana já está acostumado com a falta de água. Em São Miguel, o açude que abastece a região atingiu 1% do seu volume. O sistema entrou colapso e a água não chega às torneiras desde o dia 1o deste ano.
Antes, a cidade também estava em sistema de racionamento, com cortes no fornecimento durante a noite.
ESTADO DE ALERTA
Se a situação já está ruim, as previsões não são otimistas para os próximos meses.
Meteorologista do Instituto Mineiro de Gestão das Águas, Adelmo Correia diz que a situação é "preocupante". Dezembro e janeiro são os meses de chuva mais intensa, mas choveu abaixo da média histórica até agora --65% do previsto em dezembro e, até agora, só 9% do de janeiro.
"Em janeiro não choveu nada, só em forma de pancadas, que não ajudam no acúmulo da água", diz o meteorologista Claudemir de Azevedo.
O Inmet projeta também quadro ruim em Pernambuco. Nas regiões de Cabrobó, Ouricuri e Petrolina, área de influência do rio São Francisco, o volume de chuvas deve ser de até 40% da média.
O reservatório da usina hidrelétrica de Três Marias, no rio São Francisco, na região central de Minas, preocupa a Cemig, porque está com apenas 10,4% da capacidade.
Há 55 dias, o volume era de só 2,5%, mas, em plena época das chuvas, encheu pouco.
O esvaziamento da represa de Três Marias fez o movimento turístico cair cerca de 50%, segundo a empresa municipal de turismo.
O movimento de bares, restaurantes e hotéis do entorno é fraco. Gilberto Silva, gerente do Grande Lago Hotel, diz que desde 2007, quando começou no trabalho, nunca tinha ocorrido algo parecido.
Com a usina soltando menos água, o histórico barco a vapor Benjamin Guimarães não navega mais com turistas em Pirapora (MG).

Outro lado
Empresas dizem investir contra a seca

As empresas que atendem as cidades com racionamento dizem estar investindo. A Cesama, de Juiz de Fora, diz que antecipou a inauguração de um reservatório; a Cesan, de Guarapari, diz que investiu R$ 60 milhões; a Compesa, de Pernambuco, que "está construindo um dos maiores sistemas integrados do mundo". A Cagece, do Ceará, diz que adota medidas para prevenir o racionamento. Já a Embasa, na Bahia, diz que o racionamento será solucionado em julho de 2015.

FSP, 12/01/2015, Cotidiano, p. C1-C3

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/203522-seca-fora-de-epoca-no…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/203521-previsao-para-os-prox…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/203523-empresas-dizem-invest…

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