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Saneamento entra no radar de investidor e pode atrair aportes de até R$ 35 bilhões

OESP, Economia, p. B1, B3
10 de Jul de 2017

Saneamento entra no radar de investidor e pode atrair aportes de até R$ 35 bilhões
Grandes empresas como a gestora canadense Brookfield, as japonesas Itochu e Mitsui e o fundo Vinci Partners estão se estruturando para disputar concessões no setor de água e esgoto em 18 Estados brasileiros; BNDES coordena projetos de investimentos

Renée Pereira e Mônica Scaramuzzo, O Estado de São Paulo
10 Julho 2017 | 05h00

Setor mais atrasado da infraestrutura brasileira, o saneamento básico entrou no radar de investidores bilionários espalhados pelo mundo. Desde que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) iniciou a contratação de estudos para desenhar um programa de concessão para 18 Estados, grandes empresas como a gestora canadense Brookfield, o fundo de private equity Vinci Partners, a empresa brasileira Aegea, as japonesas Itochu e Mitsui e a sul-coreana GS Corporation começaram a se estruturar para disputar os ativos estatais.
As concessões ou Parcerias Público-Privadas (PPPs) podem movimentar entre R$ 20 bilhões e R$ 35 bilhões, de acordo com um relatório feito pelo BTG Pactual. Porém, os aportes vão depender especialmente da modelagem econômico-financeira em andamento e da situação macroeconômica do País. Dez Estados já tiveram os estudos técnicos contratados: Alagoas, Amapá, Maranhão, Pará, Pernambuco, Sergipe, Acre, Ceará, Rondônia e Santa Catarina. Os próximos a entrar para essa lista serão Amazonas, Bahia, Paraíba, Paraná, Piauí, Rio de Janeiro e Tocantins.
"Nunca houve uma iniciativa como essa (do BNDES), que cria inteligência para o setor", afirma Hamilton Amadeo, presidente da Aegea, segunda maior empresa privada do segmento e que quer ampliar sua participação no País. A estruturação dos estudos combinada aos indicadores negativos que atormentam milhares de brasileiros sem acesso aos serviços básicos explicam o forte interesse dos investidores nacionais e estrangeiros.
Após décadas de abandono - e desprezo - do setor público, hoje metade da população não tem coleta de esgoto e quase 20% não é atendida pela rede de água. Pior: mais de um terço de toda água distribuída se perde no meio do caminho por falta de investimento.
De acordo com o plano do governo federal, para universalizar os serviços de saneamento básico até 2033, o País teria de investir R$ 20 bilhões por ano. Mas, de 2010 a 2015, o investimento médio ficou na casa de R$ 11 bilhões - quase a metade do necessário, segundo dados da GO Associados. Nesse ritmo, a meta de universalização atrasaria 20 anos para ser alcançada.
O quadro caótico, no entanto, virou uma grande oportunidade de negócios para empresas e fundos com muito dinheiro em caixa para gastar e que querem aumentar sua posição no Brasil - ou estrear no setor. Embora a crise política tenha se agravado nas últimas semanas, gerando mais incertezas sobre o cenário econômico, os potenciais investidores olham o longo prazo e acreditam que, em algum momento, esse cenário será revertido.
Hoje boa parte do setor de saneamento é administrado por empresas estatais estaduais, cuja situação financeira é bastante complicada. Algumas empresas têm patrimônio líquido negativo, dívidas elevadas, problemas trabalhistas e um serviço de péssima qualidade, afirma o sócio da BF Capital, Renato Sucupira. "Trata-se de um projeto que tem dimensão enorme e com muitas possibilidades de concessão, PPPs e subconcessões."
Na avaliação do sócio da gestora de recursos Vinci Partners, José Guilherme Souza, a carência de investimentos e os avanços que podem surgir por meio de uma gestão eficiente (com a redução de perdas)

Tamanho do investimento vai depender de modelo
Estudos técnicos vão definir apetite dos investidores por ativos estatais de saneamento básico

Renée Pereira e Mônica Scaramuzzo, O Estado de São Paulo
10 Julho 2017 | 05h00

O apetite dos investidores nacionais e estrangeiros pelos ativos de saneamento básico vai depender da modelagem que sairá dos estudos técnicos que estão sendo estruturados pelo mercado e da aprovação dos Estados. Apesar de o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ser o gestor do programa, são os governos estaduais que devem bater o martelo.
"Nosso apetite vai depender mais da modelagem do que da geografia do projeto", diz o presidente da Aegea, Hamilton Amadeo. Segundo ele, como os estudos estão sendo feitos por vários consórcios e empresas, a tendência é que o País tenha modelos tarifários diferenciados dependendo da realidade de cada Estado.
"E é desejável que seja assim. A legislação de concessão e PPPs abrange várias alternativas", afirma o executivo, que tem investido por ano cerca de R$ 400 milhões no setor - montante que pode aumentar com as concessões. Criada em 2010, a empresa do grupo Equipav tem entre os acionistas instituições, como International Finance Corporation (IFC), Fundo Soberano de Cingapura (GIC) e Fundo Global de Infraestrutura (GIF), gerenciado pelo IFC.
Outra consolidadora será a Brookfield, dona da Odebrecht Ambiental. A aquisição, concluída em fevereiro, colocou a gestora como uma das favoritas para avançar nesse segmento. Mas ela não está sozinha. A gestora Vinci Partners tem interesse em disputar os ativos estaduais, mas diz que os riscos regulatórios precisam ser entendidos e mitigados. O sócio do fundo, José Guilherme Souza, acredita que os negócios só devem virar realidade a partir de 2018.
Na lista de ativos que interessam aos investidores, a Compesa, de Pernambuco, diz que a ideia não é privatizar a companhia. "Queremos trazer um investidor forte, como foi o caso da Brookfield, que está presente em 15 municípios", afirma o gestor da estatal, Roberto Tavares. Segundo ele, uma das soluções seria dividir os outros 172 municípios sob domínio da empresa em três pacotes, separando por regiões.
Empresas asiáticas também estão atrás de projetos nesse setor, como as japonesas Itochu, Mitsui e a sul-coreana GS, segundo fontes. São empresas que atuam no Brasil e que não decidem investimentos pelo clima de Brasília, diz um executivo de banco que acompanha de perto o assunto.
Procuradas, Brookfield e Mitsui não comentam. Itochu, GS Energy não retornaram o pedido de entrevista.

OESP, 10/07/2017, Economia, p. B1, B3

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