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Samarco pede fim do cadastramento de atingidos por desastre de Mariana

FSP, Cotidiano, p. B3
11 de Nov de 2019

Samarco pede fim do cadastramento de atingidos por desastre de Mariana
Dona de barragem que se rompeu há 4 anos diz que cresce número de solicitações fraudulentas

Fernanda Canofre
BELO HORIZONTE

Um dia depois de completar quatro anos do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), a Samarco -empresa controlada pela Vale e pela BHP Billiton- pediu na Justiça que o cadastramento de atingidos seja encerrado até o próximo dia 15 de dezembro.

O rompimento, ocorrido em 5 de novembro de 2015, é considerado a maior tragédia socioambiental do país, deixou 19 mortos e causou danos por 700 km ao longo do rio Doce, com impactos em Minas Gerais e no Espírito Santo.

O pedido é citado em uma decisão do juiz Mário de Paula Franco Júnior, da 12ª Vara Federal em Belo Horizonte, também da quarta (6), que acatou a separação das discussões sobre cadastros e indenizações dentro do processo. Uma audiência foi marcada para o dia 11 de dezembro, onde todas as partes poderão se manifestar a respeito dos cadastros.

Em trechos citados na decisão, a Samarco afirma que "é expressivo e crescente o número de solicitações de cadastro [...] que configuram fraude" e que o tempo de atividade do programa já permitiu a manifestação de quem poderia pedir indenização.

A empresa não respondeu à Folha sobre números ou estimativa de fraudes. Diz que realizou busca ativa no território após o rompimento e cadastrou famílias que se declaravam impactadas, o que seguiu com a Fundação Renova, criada pelas mineradoras para executar ações de reparação.

A empresa alega que a medida é necessária para que a avaliação dos dados possa ser concluída e os pagamentos sejam "finalizados com celeridade", e que 170 mil pessoas fizeram cadastros nestes quatro anos.

No documento entregue ao juiz pela Samarco, a Renova alega que "a natureza das demandas registradas a partir de 2018" se concentra em pedidos sem indicativo mínimo "quanto à efetiva verificação do dano alegado".

O pedido pegou de surpresa a força-tarefa que negocia as reparações com as empresas e que reúne Ministérios Públicos e Defensorias Públicas dos dois estados. Procurador do MPF no Espírito Santo, Malê Frazão diz que participou de uma reunião no início do ano onde a Renova já sondava a respeito do encerramento.

"Estão buscando um último recurso para conseguir o fechamento do cadastro, já que o Ministério Público não concordou, a Defensoria não concordou, nem atingidos, nem o Comitê Interfederativo (CIF), formado pelos governos de Minas Gerais, Espírito Santo e pela União", diz ele.

A preocupação com o encerramento dos cadastros é com as pessoas que podem ficar invisíveis no processo. Entre os problemas identificados, diz Frazão, estão a metodologia usada na linha 0800, que induz as respostas, tem perguntas invasivas e filtros que dificultam chegar ao fim do cadastro. Foram identificadas ainda falhas na captação de dados. A questão é debatida em reuniões com as empresas.

Ainda não há dado preciso do número total de atingidos -uma estimativa calcula que possa chegar a 750 mil pessoas. Segundo a força-tarefa, o cálculo só pode ser feito com a contratação das assessorias técnicas que auxiliam atingidos em seus direitos, o que vem sendo dificultado pelas empresas. Dos 21 territórios mapeados, apenas três têm assessoria hoje.

A BHP diz que das 18 assessorias requisitadas, 16 já enviaram propostas que superam o valor de R$ 630 milhões e a empresa avalia se o escopo apresentado está condizente com o trabalho que será executado.

O processo de cadastramento começou tarde, na avaliação do defensor público do Espírito Santo, Rafael Mello Portella Campos. O litoral do ES só foi reconhecido como área impactada no final de 2017, e o artesanato, como atividade atingida, no ano passado.

Em campo, a Defensoria identificou mulheres que não conseguiram se cadastrar e diz que não há dados de que a Renova tenha efetuado cadastros de artesãos, o que aponta para a dificuldade no reconhecimento de pessoas atingidas que estavam na informalidade.

"Todo mundo tem interesse em terminar o mapeamento para a gente avançar na reparação", diz Campos.
Procuradores e defensores alegam ainda que há falta de transparência. O MPF diz que a Renova não reconhece o fato de que a população atingida tinha diversas atividades econômicas, o que prejudica reparação da renda total que a pessoa tinha antes do desastre.

Dados apresentados pela Renova, segundo o MPF, apontam que das 60.602 solicitações de cadastro feitas, 29.072 esperam por análise. O MPF diz que detectou pelo menos 1.600 casos de pessoas que a Renova considerou não atingidas, mas que se encaixam nos requisitos. Dos 30.062 núcleos familiares cadastrados até agora, apenas 9.329 receberam indenização.

A Samarco afirma que até agosto deste ano foram destinados R$ 6,68 bilhões para ações de reparação e compensação. Segundo a Renova, no mesmo período, R$ 1,84 bilhão foram pagos em indenização e auxílios financeiros emergenciais, que alcançaram 319 mil pessoas.

A fundação lembra ainda que no TTAC (Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta) que a criou estava previsto que o cadastramento ficasse aberto por oito meses, e que com o fim dos cadastros, pessoas poderão procurar outros programas oferecidos por ela, como o Programa de Indenização Mediada (PIM).

FSP, 11/11/2019, Cotidiano, p. B3

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/11/samarco-pede-fim-do-cada…

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