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Autor: CAFÉ, Valeria
19 de Nov de 2024
Rumo à governança climática
Queimadas e enchentes no Brasil cobram de conselhos de administração compromisso com ações integradas e sustentáveis
Valeria Café
Diretora-geral do IBGC, também atua como conselheira de empresas e professora convidada
19/11/2024
Em um cenário em que a responsabilidade com a pauta ESG (sustentabilidade ambiental, consciência social e governança) se torna algo mandatório, é crucial que conselheiros e conselheiras estejam munidos de ferramentas que consolidem a governança climática em suas organizações - contribuindo deste modo para sua própria resiliência corporativa.
O assunto é urgente. Dados do Monitor do Fogo, do MapBiomas, apontam que entre janeiro e setembro de 2024, foram queimados 22,38 milhões de hectares, um salto de 150% em relação aos dados já alarmantes de 2023. Pouco mais da metade dessa área queimada, 51%, ou 11,3 milhões de hectares, fica na Amazônia.
Já as fortes chuvas no Rio Grande do Sul no primeiro semestre do ano também demonstraram algo que a ciência evidencia há tempos: perda de vidas, destruição ambiental e da biodiversidade, além de crises na saúde pública e na economia. Tudo isso, inevitavelmente, repercutiu nas organizações com atuação no Estado - e nos evidenciou o quanto as empresas precisam estar prevenidas e preparadas, sem dúvida, para uma postura combativa.
Na perspectiva dos conselhos de administração, o conceito de governança climática é o conjunto de estratégias, processos e práticas que visam a incluir aspectos climáticos nas estruturas e nos processos do conselho. Com isso, busca-se melhorar as orientações sobre os riscos e as oportunidades que as mudanças climáticas trazem para os negócios.
A governança climática conta com parâmetros bastante definidos e que podem apoiar os colegiados em sua implementação. O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) lançou em 2022 a publicação "Como estabelecer uma governança climática efetiva nos conselhos de administração: Perguntas e princípios norteadores", tradução de material publicado pelo Fórum Econômico Mundial. Esse guia compila e detalha os oito princípios da governança climática: responsabilização; domínio do tema; estrutura do conselho; análise de materialidade; integração estratégica; incentivos; relatórios e divulgação; e intercâmbio.
Todos esses itens são importantes e renderiam, individualmente, reflexões neste espaço. Mas gostaria de me atentar ao primeiro deles: para além de toda a pertinência de tratarmos do tema a partir do que vivenciamos no nosso dia a dia, como no caso das queimadas ou das chuvas extremas, o conselho de administração é responsável pela resiliência da organização no longo prazo, e tem, em última instância, o dever fiduciário de prestar contas sobre questões relacionadas ao ESG aos acionistas. Portanto, não cumprir com essa responsabilidade é algo que pode significar uma violação nos deveres de um conselheiro ou conselheira.
Há cerca de um mês, o IBGC também emitiu um posicionamento oficial ao lado de outras dez instituições, manifestando preocupação com os incêndios florestais que se espalham pelo Brasil em 2024. O texto reforçou que o país precisa adotar uma abordagem integrada, sustentável e baseada em princípios robustos de governança climática para enfrentar os desafios ambientais que se apresentam - e que, como observamos diariamente, não são poucos.
Na via de oportunidades destaco o cumprimento do Acordo de Paris - que prevê reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEE), limitando o aumento da temperatura a 1,5oC acima dos níveis pré-industriais. O foco pela neutralidade de carbono até 2050 - o chamado "net zero" - exige soluções coletivas e inovadoras e o mundo depende de países emergentes como o Brasil para alcançar esse objetivo, em um cenário que pode gerar aumento de US$ 34 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) e criar 3,8 milhões de empregos no país. É disso que estamos falando quando nos referimos às possibilidades a serem trabalhadas em meio à governança climática nos conselhos.
O caminho que incorpora os princípios de governança climática, portanto, constitui uma das perspectivas cruciais para a consolidação de uma economia mais sustentável e de um meio ambiente cada vez mais preservado. E é isso que todos nós queremos.
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