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Roubo investigado

CB, Cidades, p. 21-22
02 de Nov de 2007

Roubo investigado
Polícia Civil abre inquérito para investigar captação irregular de água em córregos e nascentes do Distrito Federal. Pena para quem for flagrado cometendo esse crime ambiental chega a um ano de cadeia mais multa

Érica Montenegro e Daniel Lansky
Da equipe do Correio

A Delegacia Especial do Meio Ambiente (Dema) abriu inquérito para investigar os casos de captação irregular de água denunciados ontem pelo Correio. Os policiais vão procurar os donos dos veículos e vistoriar as áreas onde a reportagem flagrou caminhões-pipa puxando água sem autorização. "Vamos verificar se houve dano ambiental aos córregos e às matas de galeria nos pontos indicados. Se houve dano, buscaremos os responsáveis", afirmou o delegado-chefe da Dema, Antônio Anapolino de Souza. Retirar água da natureza sem autorização é crime previsto no artigo 55, da Lei no 9.605, que tipifica os crimes ambientais. Os que forem apanhados na prática podem pegar até um ano de prisão, mais multa proporcional ao dano causado.
De acordo com o delegado Antônio Anapolino, ontem à tarde, os investigadores já estavam a procura do caminhão da Orca Mineradora que, na terça-feira, às 17h08, foi fotografado puxando água do Córrego do Bananal, às margens da Estrada Parque Indústria e Abastecimento. A construtora, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que o motorista do caminhão foi afastado da função.
Segundo a companhia, Ninguém recebe orientação para buscar água em córregos ou nascentes. Quando entrevistado pelo Correio, o funcionário da Orça disse que sabia que estava fazendo algo errado, mas que agia a mando dos chefes.
A Delta Engenharia divulgou nota dizendo que os funcionários da empresa só estão autorizados a buscar água no Viveiro da Novacap, onde tem licença para fazê-lo. A empresa foi citada por um motorista de caminhão-pipa como compradora da água que estava sendo retirada do Córrego do Palha, nas proximidades do Varjão, às 16h44 da última terça-feira. Segundo o motorista, a água seria usada para regar o balão de acesso ao Varjão e canteiros próximos.
Na tarde de ontem, a reportagem do Correio encontrou quatro caminhões-pipa fazendo captações de água irregulares. A dupla motorista/ajudante de um dos caminhões usava uniformes da empresa Campo da Esperança, que administra os cemitérios do Distrito Federal. O caminhão estava estacionado ao lado da manilha que está aberta na área da Floresta Nacional e sugava 15 mil litros de água. "A administração do cemitério diz que eu devo me virar para arranjar a água. Eu venho aqui", afirmou o motorista, que não quis se identificar. Administrador da empresa Campo da Esperança, Rodrigo Macedo disse que a firma compra água de fornecedores diversos.
Na Avenida Elmo Serejo, localizada entre Taguatinga e Ceilândia, três caminhões particulares, com capacidade de 10 mil litros cada, faziam fila para abastecer os reservatórios embaixo da linha do metrô. Questionado sobre a captação irregular, Paulino Sobrinho, dono de um deles, disse que a água seria levada para áreas da Colônia Agrícola Vicente Pires, Samambaia, Recanto das Emas e Riacho Fundo, onde ainda não tem rede pluvial. "Não estamos roubando, alguém tem que fazer a água chegar as casas que a Caesb não abastece. Além disso, não existe nenhum tipo de regra de como ou aonde ela pode ser retirada. Não queremos trabalhar irregularmente, queremos que as normas sejam estabelecidas", afirmou.
Omissão
O professor da Universidade de Brasília (UnB) Sérgio Koide afirmou que é urgente que a Agência Reguladora de Água e Saneamento (Adasa) defina as regras para a captação de água com caminhões-pipa em córregos e riachos do Distrito Federal. "A partir do momento em que as pessoas estão pegando água em qualquer lugar e a qualquer hora e para qualquer uso, coloca-se em risco a disponibilidade na cidade", afirmou ele, que é especialista em meio ambiente e recursos hídricos. Segundo ele, são necessários estudos técnicos detalhados para avaliar os locais, a quantidade e a época do ano em que a água pode ser captada. "Há locais onde não há prejuízo ambiental, mas, em outros, a fragilidade é maior", afirmou Koide. "Ao não definir como pode ser feita a captação, a agência reguladora se omite", concluiu.
Na quarta-feira, o superintendente de Fiscalização da Adasa, Plínio Cícero Machado, afirmou que os estudos técnicos que estabelecerão essas regras ainda estão sendo realizados. Segundo ele, por enquanto, todas as empresas e particulares que usarem caminhões-pipas e bombas d'água para retirar água de cursos d'água do Distrito Federal estão agindo irregularmente. Para esse tipo de infração administrativa, a pena vai de advertência a aplicação de multa.

Como denunciar
Quem flagrar captação irregular de água em córregos e nascentes deve ligar para a Delegacia Especial do Meio Ambiente. O telefone é o 3234-5481.

Mistério na Asa Norte
Água usada por donos de lanchonetes e restaurantes da 702/703 sai das torneiras avermelhada há uma semana. Caesb analisa amostras

Ary Filgueira
Da equipe do Correio

Comerciantes da Entre quadra 702/703 Norte não usam a água encanada que abastece os prédios não residenciais da região desde segunda-feira. O motivo é que, quando a torneira é aberta, em vez de incolor, o que sai dos canos é um líquido espesso e avermelhado. O problema tem tirado o sossego dos proprietários de estabelecimentos comerciais. Até agora, eles são os únicos prejudicados, garante a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb). Técnicos da Caesb estiveram nos blocos e recolheram amostras em galões para analisá-las em laboratório.
A demora deu vazão a um volume maior de reclamações dos comerciantes nos canais de atendimento ao consumidor da companhia, que reclamavam, da poluição na água que usam. Os mais prejudicados são os estabelecimentos que vendem produtos alimentícios e bebidas, como restaurantes e lanchonetes. Com receio de a água estar contaminada, muitos proprietários evitam usá-la. Por enquanto, a comida está sendo feita com água mineral, o que aumenta as despesas.
Providências caras
Dona da Pastelaria Chinesa, no Bloco F, Ângela Marmo, 58, diz que compra em média dois galões de 20 litros por dia de água mineral desde que o problema apareceu.
Na quarta-feira ela teve de reforçar o estoque com outros 10 recipientes de dois litros. "Liguei para a Caesb e me garantiram que dentro de alguns minutos o fornecimento será normalizado. Mas até hoje isso não aconteceu. Além de pagar a conta normal de água, terei prejuízos com a água mineral", reclamou ela, outra vez, ontem à tarde.
O problema também tem comprometido o atendimento do Cyber Café, que fica no Bloco A da mesma quadra. A exemplo da pastelaria, os alimentos são cozidos com água mineral. "Tivemos de trocar as velas do filtro porque preferimos não correr o risco de contaminar a água pura", disse a responsável pela loja, Regineide Fonseca, 30.
O laudo que apontará o motivo da água encanada nos blocos comerciais da entrequadra ter ficado vermelha ainda não está pronto. A companhia não divulgou a data em que sairá o resultado da análise na água. Com base em depoimentos de técnicos, a assessoria da Caesb acredita que o problema decorre de um defeito nos sistemas hidráulicos dos edifícios comerciais da entrequadra.
Má conservação
Um dos principais fatores apontado como a causa do fenômeno pode ser a falta de conservação dos hidrantes. Segundo os técnicos, a terra entra pelo vazamento na tubulação, o que faz com que a água fique avermelhada. A Caesb não soube informar também por que coloração vermelha da água não atingiu a rede hidráulica das residências.
A Caesb, por meio de sua assessoria, garante que o problema está resolvido. Mas, até ontem, a água continuava a sair das torneiras dos estabelecimentos comerciais avermelhada. O dono de uma agência de publicidade, situada no Bloco A, disse que a tonalidade está mais fraca, mas continua "estranha". Ele acredita que deve ser porque a caixa-d'água do prédio está suja. "A Caesb tem de fazer uma limpeza em nossa caixa", cobra o publicitário, que preferiu não se identificar. A empresa também não soube dizer se a cor da água tem a ver com a chegada da chuva.

CB, 02/11/2007, Cidades, p. 21-22

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