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Rota definida

O Globo, Tema em Discussão, p. 6
Autor: DAVID, Sagrado Lamir
21 de Mai de 2007

Rota definida

Nossa opinião

Está ficando claro, como já manifestou recentemente o ministro de Minas e Energia, que precisamos construir mais usinas nucleares, para afastar definitivamente o risco de apagão. É verdade que, em comparação com os países ricos, temos ainda um grande potencial hidrelétrico a explorar; o problema é que este não é um caminho desimpedido.

A defesa do meio ambiente é habitualmente o maior obstáculo. Com ou sem razão, órgãos ambientais criam empecilhos e retardam indefinidamente o início de obras de geração de energia.

Por outro lado, é inaceitável a alternativa de criar novas e poluidoras termelétricas, a carvão ou a petróleo, num momento em que o mundo enfrenta a ameaça do efeito estufa e do aquecimento global.

Enquanto isso, os países que utilizam a energia nuclear em larga escala, como Japão ou França, não enfrentam problemas, não têm acidentes sérios nem sofrem danos ambientais devido à opção que fizeram. O fato é que, com o progresso técnico dos últimos anos, o risco em todas essas áreas foi reduzido a níveis insignificantes. O que aqui mesmo, aliás, já ficou claro, com o desempenho de Angra 2.

O risco de adiar a adoção de uma nova tecnologia está em perder o timing e deixar escapar a oportunidade. Na França, por exemplo, já começou a construção do projeto de usina de fissão nuclear, patrocinado por uma notável associação entre União Européia, EUA, China, Rússia, Coréia do Sul e Japão, a entrar em operação em 2016. É um esforço por controlar a energia muito mais eficiente do sol.

O fato é que, no Brasil e no mundo, está nos átomos a energia do futuro. Sempre haverá quem queira dominá-la com propósitos bélicos; mas para isso foram criados órgãos como o Conselho de Segurança da ONU e a AIEA.

A demanda por energia cresce indefinidamente, e aos poucos as opções disponíveis estão se estreitando. Não se deve permitir que equivocadas considerações ambientais ou visões conspiratórias bloqueiem o rumo para a grande saída que é a tecnologia nuclear.

O futuro agora

Outra opinião
Sagrado Lamir David

O presidente Lula disse que, na impossibilidade de novas hidrelétricas, a opção nuclear teria que ser levada em conta. Quando se sabe do risco do efeito estufa trazido pelo petróleo, e do progresso na segurança do uso do átomo e no controle do seu lixo, só resta perguntar: de fato, por que não recorrer à energia nuclear? A marca trágica dos cogumelos que arrasaram Hiroshima e Nagasaki parece que criou um estigma de destruição para a mais importante das energias criadas por Deus. Mas a culpa não é dos átomos, é dos homens que os usam mal.

A desnuclearização da maioria das nações, e a permissão nuclear hipócrita para apenas algumas, é a prova de que vivemos um novo tipo de tirania: o absolutismo pela ciência. Usar a ciência para o progresso é direito de todas as nações. Mas para que todos se beneficiem, é preciso instituir uma extrema e transparente vigilância por órgãos competentes e democráticos.

A Coréia do Norte já faz parte do grupo de países privilegiados. É a nona potência nuclear, ao lado de EUA, Rússia, China, Índia, Paquistão, Reino Unido, Israel e França.

Quem pode garantir que uma, ou várias, dessas nações não fará uso criminoso da energia nuclear? Ou que o Irã vai utilizar pacificamente o urânio que está enriquecendo, ou não vai vendê-lo com intenções agressivas? Muito mais do que um Conselho de Segurança constituído por cinco nações suspeitas - por deterem o poder nuclear, com direito de veto -, por que não criar uma Assembléia da Ética e da Paz, com representantes de todas as nações, para fiscalizar e punir o uso indevido da energia?

Mas sem impedimento para qualquer nação desenvolver e aplicar energia nuclear para fins pacíficos.
Essa liberdade, fiscalizada por todos, somente ajudará a tornar realidade o admirável apelo "O futuro agora!" que fez Schiller há mais de 200 anos, ao abrir os cursos na Universidade de Jena.

O Globo, 21/05/2007, Tema em Discussão, p. 6

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