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Rõnõré Gavião, de 105 anos, foi primeira indígena vacinada no Pará e recebeu a dose de sua neta enfermeira

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Autor: NUNES, Mônica
20 de Jan de 2021

Rõnõré Gavião, de 105 anos, foi primeira indígena vacinada no Pará e recebeu a dose de sua neta enfermeira

Mônica Nunes
20 de janeiro de 2021

A imunização contra a covid-19 no Pará começou ontem, 19/1, com as enfermeiras do Hospital de Campanha, em Belém. Em seguida, foi a vez dos idosos de um asilo estadual de Santarém, no Baixo-Amazonas e, depois, do povo indígena Gavião, na aldeia Mãe Maria, no município de Bom Jesus do Tocantins, no sudeste do estado.

Lá, a primeira indígena a receber a primeira dose da Coronavac foi Rõnõré Gavião, de 105 anos. Quem aplicou a vacina foi sua neta Haká-kwyi ou Puruprama Gavião, enfermeira da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).

Em sua língua nativa, a idosa disse: "Agradeço pela vacina que trouxe esperança para nós".

O Pará recebeu 173.140 doses da CoronaVac para vacinação prioritária, sendo 48.680 doses apenas para os grupos indígenas do estado.

Até ontem, 90 pessoas de três aldeias da etnia Gavião foram imunizados na reserva Mãe Maria: Gavião Akrãtikatêjê (da Montanha), Gavião Kykatejê e Gavião Parkatêjê.

Autorizado pela Funai, o governador Helder Barbalho acompanhou o início da imunização.

"Nós devemos ter solidariedade com aqueles que perderam entes queridos na pandemia, e nos perdemos 61 indígenas, mesmo com todos os esforços. Mas agora, com a vacina, renova-se a esperança da proteção à vida de cada comunidade indígena do nosso Estado. Serão vacinados mais de 23 mil índios e isso significa respeito e cuidado com as pessoas", declarou à reportagem do UOL.

Resultado de muita luta
A inclusão dos povos indígenas no grupo prioritário da vacinação está sendo possível graças às mobilizações das organizações que os representam, como a Articulação dos Povos Indígenas, APIB. Em julho de 2020, a APIB lançou o plano de ação Emergência Indígena para impedir o avanço da Covid-19 e pressionar o governo, como contamos aqui.

Como parte das ações desse plano, em 29 de junho, a APIB acionou o STF - Supremo Tribunal Federal contra o governo por meio de Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 709), junto com seis partidos: PSOL, PT, PC do B, Rede, PSB e PDT.

Em 7 de julho, Bolsonaro sancionou o PL 1422/2020 com 16 vetos que a enfraqueciam quase que completamente. O projeto de lei estabelece medidas preventivas contra o coronavírus em povos indígenas, quilombolas e outros comunidades tradicionais durante a pandemia.

Rapidamente, a APIB e outras organizações como o Instituto Socioambiental começaram a se articular, mas, no mesmo dia, o STF divulgou decisão do ministro Luís Roberto Barroso, que concedeu liminar (por decisão individual) em resposta à ADPF 709: a decisão do ministro Barroso sobre ações urgentes de proteção reivindicadas pelos indígenas na pandemia foi acatada por unanimidade.

Até agora, 46.190 indígenas de 161 povos foram contaminados e 927 morreram.

Alguns dos primeiros indígenas vacinados
Ontem, pelas redes sociais, se espalharam rapidamente os registros de indígenas que receberam a primeira dose da vacina contra Covid-19. Muito simbólico e também importante para a divulgação entre os próprios indígenas, já que muitos são os "parentes" que se recusam a aderir à campanha.

Vanuzia Costa Santos, da etnia Kaimbé, a primeira indigena vacinada em São Paulo, como mostramos aqui, falou sobre isso:

"Quero dizer para os meus parentes: 'vamos nos vacinar!'. Vacinar é um ato de amor, de esperança. Eu sou um exemplo. Sou indígena, uma mulher de fé, sou uma pessoa que preserva os ensinamentos do meu povo, a minha ciência, a minha ancestralidade, minha crença. Mas sei que só a minha crença e a minha ancestralidade não são suficientes para combater este vírus, que é um inimigo feroz que destrói vidas em questão de minutos ou segundos".

Assim que recebeu a primeira dose, Sonia Guajajara, coordenadora executiva da APIB, declarou: "Me sinto emocionada por ser a primeira mulher da região tocantina a ser vacinada com a Coronavac em Imperatriz, Maranhão. Agradeço pela honra concedida através da Unidade Gestora Regional de Saúde e Secretaria de Direitos Humanos do Maranhão".

Usando a máscara criada pela artista Néle Azevedo para a campanha de 5 anos do 'Acordo de Paris', em dezembro de 2020 (que mostramos aqui), ela acrescentou:

"Dedico esta vacina a todos que perderam entes queridos para o coronavírus. Para esta fase, temos duas grandes batalhas: garantir o acesso à vacina para todos os indígenas, independente da localização geográfica, e que o governo disponibilize quantidades de vacina suficiente para toda a população. Não tenham medo! Somente a vacina permitirá que nos abracemos e juntos possamos vencer mais este mal".

Sonia não foi a primeira indígena do Maranhão a receber a vacina. Esse registro histórico ficou com Fabiana Guajajara, da Terra Indígena Araribóia (a mesma de Sonia), que foi um dos territórios mais afetados pela pandemia da Covid-19 e pelo aumento das violências contra os povos indígenas e ao ambiente".

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