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Rodoanel e mananciais

OESP, Forum dos Leitores, p.A2-A3
Autor: PACINI, Gilberto
03 de Jan de 2006

Rodoanel e mananciais
A exemplo do leitor sr. Roberto Rodrigues dos Santos. também li com atenção o artigo do professor Paulo Nogueira-Neto em defesa do Rodoanel, mas li também, e espero que ele também, o editorial do Estadão sobre a degradação da Represa Guarapiranga e seu respectivo manancial, decorrente das ocupações irregulares ao longo dos últimos 30 anos. Os números são impressionantes, pois no período tivemos 37,7% da sua bacia invadida, com a conseqüente diminuição de 19% da sua capacidade de armazenamento e um acréscimo de 120% no custo do tratamento de água para a cidade.
O artigo do professor Nogueira-Neto não merece reparo na análise ambiental, mas não aborda o problema da ocupação irregular dos mananciais da Região Metropolitana de São Paulo, não só da Bacia da Guarapiranga, mas também as das Bacias das Represas Billings e Cantareira. E o problema do Rodoanel não é a atuação dos "ecochatos", como erroneamente os define o leitor, mas sim os trechos sul e norte da rodovia, que se situam nas áreas dos mananciais. É a escolha entre o que é mais importante para a população, o abastecimento de água ou o congestionamento de trânsito. Testemunhei ao longo dos anos as promessas de políticos sobre a solução do trânsito para a cidade por meio de grandes obras. Foi assim com a Via Anchieta, quando substituiu o velho Caminho do Mar. Idem, posteriormente, com a Imigrantes e, mais recentemente, com a Nova Imigrantes, todas com tráfego pesado tão logo inauguradas. 0 mesmo ocorreu com a inauguração da Marginal do Tietê, apresentada na época como a solução, por um longo período, para nosso trânsito.
Seis meses após a inauguração já se apresentava congestionada. E certamente ocorrerá com o Rodoanel. É lógico que o trânsito na cidade, assim como o transporte de carga, não pode continuar submetido ao caos atual, mas sua melhoria não deve implicar o comprometimento maior dos mananciais da Região Metropolitana. A situação atual dos mananciais, como bem descreve o citado editorial, não deixa nenhuma dúvida sobre o aumento das ocupações irregulares no entorno da nova rodovia. Os mesmos irresponsáveis que construíram sua carreira política agindo no sentido de regularizar as ocupações indevidas certamente vão continuar a pressionar os governantes para contemplar as novas ocupações. No histórico de nossa cidade não há como acreditar que essas invasões não ocorrerão, muito menos que haverá rigorosa fiscalização. No trecho oeste do Rodoanel, há pouco inaugurado, já surgem empreendimentos imobiliários em seu entorno, apesar da promessa de não se construir acesso à nova rodovia. Soluções alternativas, como a reforma da Avenida dos Bandeirantes, proposta pelo prefeito José Serra, assim como uma restrição de horários para o tráfego dos caminhões, devem ser avaliadas antes de se comprometerem ainda mais nossos mananciais. A implantação de um ferroanel, com a utilização maior do transporte ferroviário, também poderia contribuir de maneira mais racional para amenizar o trânsito da capital, sem implicar o sacrifício ainda maior dos mananciais. Não se trata aqui de discutir preferências ambientais ou outras quaisquer, mas apenas uma análise de custo/benefício entre o abastecimento de água e o congestionamento de trânsito.
Gilberto Pacini - bene.tazzo@bol.com.br São Paulo

OESP, 03/01/2006, p. A2-A3 (Fórum dos Leitores)

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