Rodoanel

A propósito do editorial Ambientalistas atacam (26/10, A3), no qual expressamente se afirma que o Ministério Público do Estado de São Paulo é utilizado por ambientalistas para paralisar as obras do Rodoanel viário metropolitano, temos a esclarecer que é demasiado simplista reduzir o tema a aspectos meramente econômicos, como se fez. O assunto é grave e requer serenidade na sua apreciação. Sabe-se, por ser notório, que o adensamento das cidades e populações historicamente se dá às margens de rios e rodovias. No caso do Rodoanel, que tem inegável caráter rodoviário, poderá ele ser um forte fator indutor de adensamento na única região de mananciais hídricos de abastecimento da população da Região Metropolitana de São Paulo. O déficit de água disponível impõe ao governo do Estado, à sociedade (nela incluídos os ambientalistas) e ao Ministério Público muita cautela na tomada de decisões. Sem embargo de outras considerações, achamos muito oportuna a discussão proposta pelo jornal de se utilizar a tecnologia empregada na Rodovia dos Imigrantes (túneis e viadutos) como forma de diminuir os impactos do adensamento populacional

N. da R. -'Simplismo, na opinião do Estado, é tratar a questão como se fosse apenas um problema ambiental, deixando de lado os aspectos sociais e econômicos que se agravam pela falta do Rodoanel. Demonstrasse o Ministério Público, com a desocupação das áreas de manancial ilegalmente tomadas, o mesmo empenho com que cria obstáculos para a construção do Rodoanel, São Paulo teria mais água e menos poluição.
Daniel R. Fink, procurador de Justiça, coordenador do CAO de Urbanismo e Meio Ambiente do MP-SP, e Cláudia Cecília Fedeli, promotora de Justiça do Meio Ambiente da capital São Paulo

OESP, 01/11/2004, p. A3 (Fórum dos Leitores)