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Rituais indígenas inspiram coreografia contemporânea

FSP, Ilustrada, p. E3
30 de Jan de 2014

Rituais indígenas inspiram coreografia contemporânea
Criação da Cia. Oito Nova Dança está em cartaz no Sesc Pinheiros, em SP
Em trabalho conjunto com a Companhia Livre de Teatro e um antropólogo, grupo pesquisou mitos

IARA BIDERMAN DE SÃO PAULO

Guarani, carajá, caiapó. Waja, awá guaja, marabu. Tucano, kaxinawa. Ianomâmi.
Oito artistas da companhia Oito Nova Dança e da Companhia Livre de Teatro escolheram essas tribos para uma jornada coreográfica em busca de seu corpo ancestral --que se movimenta como um pássaro, por exemplo, conforme características pessoais e história de vida.
No espetáculo "Xapiri Xapiripë", em cartaz no Sesc Pinheiros, em São Paulo, os bailarinos-atores-músicos transformam mitos indígenas em dança contemporânea, movimentos em novas formas de se ver o corpo. Como num ritual xamanista, a dança é um corpo que se transforma em outros seres.
O nome da obra vem da mitologia ianomâmi. "Xapiripë' são pequenos seres da floresta, duplos de todas as coisas vivas, que dançam sobre espelhos que refletem só luz", conta Lu Favoreto.
A coreógrafa trabalha com a diretora Cibele Forjaz, da Cia. Livre, há mais de cinco anos. Para montar "Xapiri Xapiripë", foram quase dois anos de pesquisa, com a orientação do antropólogo Renato Sztutman, professor da USP e pesquisador do Centro de Estudos Ameríndios.
"O conteúdo chegou via antropólogo: imagens, audiovisuais, textos. E a gente percebeu como ainda se conhece muito pouco desse universo dos índios", diz Favoreto.
O tema abre um mundo de possibilidades para a pesquisa coreográfica, segundo Favoreto. Assim como, há tempos, a dança descobriu a África e criou toda uma linha de trabalho a partir disso, chegou a hora de se (re)descobrir a América.
"É coerente descobrir a América agora", diz a coreógrafa. "Nos índios, não se sabe o que é dança e o que é movimento cotidiano. O corpo que dança é igual ao que cuida, caça, come."
Esse corpo integrado tem tudo a ver com o trabalho de coordenação motora e movimento consciente que orientam muito da criação contemporânea de dança --e boa parte do imaginário do ser urbano dos dias de hoje.
"A gente retoma uma coisa primordial no ser humano, essa integração entre corpo e mente que acabou se fragmentando no processo evolutivo", diz Favoreto.
PAJELANÇA
O espetáculo começa com a apresentação de um mito de origem dos povos do Alto Rio Negro (Amazonas).
Segundo essa lenda, o mundo é criado a partir de uma cobra que, conforme serpenteia pelas águas do rio, vai depositando em suas margens cada um dos povos que povoarão a Terra.
No tablado montado sobre o palco do teatro, são as tribos escolhidas pelos bailarinos que ganham forma para, então, começarem o seu processo de transformação.
A pajelança coreografada é dividida em três partes, definidas pelos "detonadores da transformação", segundo Forjaz: fumaça (cachimbos, incenso), comida (que envolve a caça e a luta pela sobrevivência) e finalmente, canto e dança, a parte mais coletiva e festiva do espetáculo.

XAPIRI XAPIRIPË
QUANDO terças e quartas, às 20h30; até 26/2
ONDE Sesc Pinheiros, r. Paes Leme, 195, tel. (11) 3095-9400
QUANTO de R$ 2 a R$ 10
CLASSIFICAÇÃO livre

FSP, 30/01/2014, Ilustrada, p. E3

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/149903-rituais-indigenas-ins…

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