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Risco de seca

O Globo, Rio, p. 10
07 de Nov de 2014

Risco de seca
Quatro reservatórios do Rio Paraíba do Sul estão com o nível mais baixo da sua história

O Rio não está longe de enfrentar problemas com os reservatórios de água ao longo do Rio Paraíba do Sul, se a estiagem se prolongar. Dados da Agência Nacional de Águas (ANA), que faz o acompanhamento da bacia, mostram que o nível de água disponível nos quatro reservatórios do principal rio que abastece o estado - Paraibuna, Santa Branca e Jaguari, estes localizados fisicamente em São Paulo, e Funil, em Itatiaia, no Rio - está hoje em 6% de sua capacidade. Essa média, chamada de reservatório equivalente, é a menor em 36 anos, desde 1978, quando todos esses reservatórios passaram a operar juntos, com a conclusão do Paraibuna. Se voltarmos ainda mais no tempo, um nível tão crítico só foi registrado em 1955, quando os três reservatórios então existentes chegaram a funcionar com apenas 12% da capacidade.
E a situação pode piorar. De acordo com o especialista em meio ambiente e representante da Firjan no Comitê de Integração da Bacia do Rio Paraíba do Sul (Ceivap), Jorge Teron, a previsão é que os reservatórios desçam a um nível de até 4,5% no final deste mês. O quadro crítico preocupa especialmente após chegar à ANA a proposta de São Paulo de passar a transferir cinco metros cúbicos de água por segundo de Jaguari para o reservatório de Atibainha, a 15km de distância, para abastecer a Região Metropolitana do estado, que enfrenta uma grave crise de abastecimento.
- Estamos num momento de exceção. A quantidade de chuva no último verão foi a pior dos últimos 80 anos. Se chover a média histórica de novembro, teremos 4,5% (nível de água nos reservatórios). Mas pode chover mais ou menos. Não sabemos o que nos espera - afirma Teron, acrescentando que o quadro tem mudado muito rapidamente, já que, em abril, o nível estava entre 38% e 40%.

PROJETO DE TRANSPOSIÇÃO PREOCUPA
O projeto de transposição de parte da água do Paraíba do Sul para atender a Região Metropolitana de São Paulo, em discussão na ANA, preocupa os membros do comitê, especialistas e prefeitos de cidades banhadas pelo rio. O temor é que sua aprovação, sem medidas compensatórias, como a construção de novas represas, possa trazer a crise para o Paraíba do Sul. Segundo a vice-presidente do Ceivap, Vera Lúcia Teixeira, a medida sem compensações "afetaria muito o Paraíba do Sul". Além de uma eventual falta de água, ela alerta para o perigo de propagação de bactérias nocivas à saúde do rio.
- Hoje, no Funil, já temos uma concentração de cianobactérias preocupante, por conta da estiagem. Elas não desceram o rio. Mas, com a chegada do verão, a tendência é o problema avançar. Além disso, se o nível da represa descer mais três metros, já poderá comprometer a geração de energia na Barragem de Santa Cecília, em Barra do Piraí, que atende o Estado do Rio - diz Vera Lúcia.
O Ceivap é composto por 60 membros do Rio, de São Paulo e Minas Gerais. O comitê participa das discussões na ANA sobre a transposição e quer esclarecimentos técnicos sobre os possíveis impactos da medida.
Teron diz que qualquer alteração de vazão do Paraíba do Sul terá impacto no fornecimento para uma população de 13,5 milhões de pessoas e para indústrias. Segundo ele, para contornar o problema, foi feita uma diminuição da captação de água para o Rio Guandu na Barragem de Santa Cecília. Em março, era de 120 metros cúbicos por segundo; hoje, é de 110.
O geólogo e especialista em recursos hídricos Edilson de Paula Andrade, que estuda os impactos na Bacia do Paraíba do Sul há duas décadas, diz que, se a capital paulista conseguir êxito na transposição, a medida vai significar impactos no coração do sistema que abastece a Região Metropolitana do Rio:
- Se essa retirada estivesse acontecendo, já estaríamos no chamado volume morto do Paraíba do Sul. O que não quer dizer que o sistema entraria em colapso, mas indica um alerta. Se o Guandu passar a receber menos água, inevitavelmente isso exigirá um esforço de todos.
No meio da polêmica da água, o governador Luiz Fernando Pezão voltou a adotar, ontem pela manhã, um tom conciliador sobre a decisão que está para ser tomada pela ANA. Pezão disse que o "espírito é de conciliação" e que não fará do estado "uma trincheira para briga". Ele afirmou ainda acreditar que "nenhuma autoridade tomará decisão que prejudique o Rio".
- Sempre tive da ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) a garantia de que o Rio não será prejudicado. Tem que se confiar em quem regula e legisla sobre o rio. Sempre falei que o espírito é de conciliação - afirmou o governador. - O momento é de ter calma e tranquilidade e de torcer para que chova nos lugares certos. A Cedae garante que dá para abastecer (o Rio), e estamos começando o período das chuvas.
Pezão disse, no entanto, que cidades do Norte e Noroeste fluminenses já sofrem com a estiagem:
- Fui a São Fidélis, e está tudo muito seco. Em Itaperuna também. Alguns prefeitos já decretaram estado de emergência, e há perda de gado. É uma das maiores secas da história.
A possibilidade de a crise da água chegar à capital do Rio é menor porque o Sistema Guandu opera com folga. Ele recebe 110 metros cúbicos de água por segundo do Paraíba do Sul, enquanto o consumo da Cedae é de 45 metros cúbicos.
O presidente da Cedae, Wagner Victer, garante que a captação do sistema Guandu não foi afetada, mas afirmou que não há estudos sobre o impacto da transposição de água para São Paulo:
- Há dois anos estamos fazendo nosso trabalho de casa. Nos preparamos, investimos. Fizemos mudanças no sistema de captação de água. Ele é adaptável: a captação muda conforme o nível dos rios.

PREFEITO: MUNICÍPIOS TÊM DE RECEBER GARANTIAS
O prefeito de Volta Redonda, Antônio Francisco Neto, disse que hoje a cidade não enfrenta problemas de abastecimento, mas afirmou que os municípios têm de ser "informados das discussões" e receber "garantias de que não serão prejudicados". Para ele, a decisão sobre a transposição "não pode ser política, mas técnica".
- Todos têm preocupação com o ser humano, com o que está acontecendo com São Paulo. Mas o Rio não pode ser prejudicado - defende.
O secretário municipal do Meio Ambiente de São Fidélis, Leandro Peixoto, disse que o município decretou situação de emergência no último dia 30 de outubro, sobretudo por conta de sua zona rural, onde a produção de legumes e a pecuária já estariam sendo afetadas. Segundo ele, não há racionamento na área urbana:
- A seca é tremenda na área rural.

O Globo, 07/11/2014, Rio, p. 10

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