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Risco de racionamento é zero

OESP, Economia, p. B11
01 de Mar de 2008

Risco de racionamento é zero

Com nível das represas em 65%, diretor da Aneel diz que não há mais motivo de preocupação
Alberto Komatsu e Alaor Barbosa
Após ter admitido a possibilidade de racionamento de energia elétrica no País, no início de janeiro, o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman, afirmou ontem que esse risco, em fevereiro, é zero. De acordo com ele, no primeiro mês do ano havia 22% de chance de racionamento e 33% de déficit na oferta de energia. "Em janeiro, havia motivo para preocupação. Agora, não. Choveu copiosamente em fevereiro", respondeu Kelman, ao ser questionado se ele havia mudado de opinião.

Para 2009, Kelman afirmou que o ideal é esperar o início do período chuvoso, em novembro, para definir o panorama de oferta de energia. Apesar do risco zero de racionamento de energia elétrica, Kelman afirmou que a opção por manter as usinas termoelétricas funcionando por mais algumas semanas teve o objetivo de garantir conforto aos consumidores. Isso porque o nível dos reservatórios das hidrelétricas da Região Sudeste está em 65%, sendo que o limite mínimo para não haver risco de déficit de oferta é de 63%.

Em janeiro, Kelman chegou a afirmar que era possível que o País sofresse novamente um racionamento de energia elétrica, a exemplo do que aconteceu em 2001, por causa do crítico nível dos reservatórios naquela época. "Não estou dizendo que vai ter problema. Não é impossível haver um racionamento este ano, mas o mais provável é que não tenha", disse o diretor da Aneel, na ocasião.

PREÇO

A melhora no cenário energético vem se refletindo nos preços da eletricidade no mercado atacadista. Após duas semanas em alta, os preços de referência caíram 35,4% no subsistema da Regiões Sudeste e Centro-Oeste para os negócios a serem concluídos da semana que vem, com o megawatt hora (MWh) médio valendo R$ 140,01, segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). No Sul do País os preços médios caíram para R$ 140,08 (queda de 35,4%) e para R$ 135,19 por MWh nas Regiões Norte e Nordeste, com redução de 37,7% e 45,3%, respectivamente, em relação ao patamar atual.

A redução nos preços reflete a recuperação no nível dos reservatórios das hidrelétricas, que subiram para 65,2% na Região Sudeste, com variação de 14,4 pontos porcentuais em relação ao registrado no fim de janeiro. Esse patamar fica próximo à meta de 68% prevista pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para ser atingida no fim de abril.

Mesmo com a queda na semana, os preços atuais do mercado atacadista estão muito acima do observado em igual período do ano passado, quando o MWh estava em apenas R$ 17,59 nas quatro regiões.

Em 2006, os preços do MWh no Sudeste/Centro-Oeste e Nordeste estavam em R$ 40,02; em R$ 45,06 no Sul e em R$ 16,92 no Norte. Nos anos anteriores os preços estavam pouco acima dos R$ 18 por MWh nos quatro submercados.

Brasileiros devem rezar para chover, diz o 'FT'

Daniela Milanese

Os brasileiros, especialmente o governo, devem rezar para que chova e assim o País consiga se livrar da possibilidade de racionamento de energia, conforme reportagem de ontem do "Financial Times". O Brasil é o tema desta sexta-feira da série de especiais do jornal sobre os problemas do setor elétrico na América Latina.

O "FT" lembra do apagão ocorrido entre 2001 e 2002, conseqüência da falta de chuvas e má administração nessa área durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Agora, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva quer evitar qualquer impressão de que uma restrição no uso da energia possa ocorrer novamente.

O presidente do Operador do Sistema Nacional, Hermes Chipp, descartou essa possibilidade recentemente, mas outros especialistas discordam, diz o "FT". O analista Rowe Michels, do Bear Stearns, afirmou que os próximos meses serão críticos e, caso os reservatórios não se recuperem para a estação seca, entre maio e outubro, um racionamento preventivo poderia ser implementado. Conforme o jornal britânico, há quem diga que a restrição de energia já está em curso no País. "Nenhum corte foi anunciado, mas a forma como o mercado de energia está estruturado resulta em elevações tão altas de preços que forçaram pelo menos duas grandes empresas (Coteminas e Novelis) a paralisar atividades e dispensar trabalhadores.'

Novos projetos de hidrelétricas, que hoje respondem por 85% da eletricidade produzida, enfrentam atrasos e dificuldades, como a demora para a obtenção de licenças ambientais, diz o jornal. Para compensar, o governo está acelerando a construção de térmicas, mas nesse campo esbarra na falta de gás.

Os atrasos nos projetos trazem um balanço perigoso entre oferta e demanda e deixa a segurança do fornecimento novamente na dependência da chuva, conclui o jornal britânico.

OESP, 01/03/2008, Economia, p. B11

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