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Riqueza da cultura indígena do Xingu é retratada em mostra fotográfica

Amazônia.org.br - http://www.amazonia.org.br/
Autor: Fabíola Munhoz
25 de Jun de 2010

"Ninguém ignora o que se passa com o índio. Mas, para mostrar seu drama, não é necessário expor só a degradação, a decadência. É igualmente importante deixar patente o quanto ele foi belo, digno e forte, e a grandeza do que está sendo destruído".

As palavras são do sertanista, estudioso e defensor de comunidades indígenas da região amazônica do rio Xingu, Orlando Villas Bôas. Mas, a tradução desse pensamento em imagens é resultado de um dos trabalhos da talentosa fotógrafa inglesa, Maureen Bisilliat, que, em parte de uma carreira interessada em retratar a diversidade da população brasileira, registrou o cotidiano de arte, luta e festa de alguns dos índios da Amazônia.

A convite do próprio Orlando, que havia se impressionado com a capacidade da artista para extrair poesia de cenas do sertão brasileiro, com inspiração na obra literária de Guimarães Rosa, Maureen, de início, deveria fazer uma única visita ao Xingu, em 1973.

No entanto, a fotógrafa diz ter logo percebido que aquele era o início de uma aventura longa, que daria origem a um projeto, embora esboçado em preto e branco, formado por imagens predominantemente coloridas porque, segundo ela, no Xingu, "a cor tem seu apelo".

Assim, entre os anos de 1973 e 1977, Maureen, auxiliada por Orlando e seu irmão Cláudio Villas Bôas, também sertanista, que viviam respectivamente no Ato e no Baixo Xingu, captou com sua lente o modo de vida nas aldeias locais. As visitas à região foram feitas entre os meses de junho e julho, quando a luz era mais intensa e contribuía com a preferência da fotógrafa por fazer a maioria das imagens, usando a iluminação natural que entrava pela abertura das ocas.

Indagada sobre o método usado para transmitir a naturalidade da expressão dos índios nas cenas fotografadas, a artista diz que é importante saber como se "entrosar, sem estorvar". O resultado desse trabalho pode ser visto na exposição Maureen Bisilliat: fotografias, que acontece até dia 04 de julho, na Galeria de Arte do Sesi-SP.

Já se passaram mais de três décadas da ultima visita da fotógrafa às aldeias do Xingu, mas ela voltou à região há cerca de cinco anos, acompanhada de três médicos da Escola Paulista de Medicina (EPM), para seguir o processo de formação de agentes de saúde que passariam a atender as comunidades indígenas da área.

"A força que percebi da primeira vez ainda está lá. O problema mais aparente dos índios é o da água, que fica fora dos limites do parque. As populações temem que essa água seja poluída e assim se estrague a sua maneira de viver com auto-suficiência. A gente também sente que hoje tem mais união entre o Alto e o Baixo Xingu. Antes as etnias eram mais separadas", compara Maureen.

Retrato da exposição

Logo na entrada da sala da galeria, que guarda as imagens feitas por Maureen no Xingu, uma oca, fotografada de dentro, apresenta a arquitetura e a grandeza sóbria de uma moradia tipicamente indígena, convidando o visitante a conhecer outros recantos da vida dos índios. E, de fato, um pouco do cotidiano dessas populações pode ser visto no restante das fotos expostas, que flagram indígenas no convívio dentro das ocas, na prática de uma luta chamada huca huca, ou durante a pesca coletiva no rio.

Os retratos também mostram o índio em contato com a natureza, a beleza sem pudor da mulher indígena, e a relação entre pai e filho criados na aldeia, que é baseada no aprendizado a partir do exemplo. As fotos dos indígenas tiradas de perto revelam tons vibrantes de azul, verde, vermelho, amarelo e laranja, em colares, cocares e pintura sobre a pele. São também essas as imagens que, com mais realismo, apresentam a expressão e o olhar dos personagens.

Nesse mesmo espaço da galeria, uma tela exibe um documentário dirigido por Maureen, que foi rodado na aldeia do Xingu chamada Mehinaku. O vídeo tem como tema a festa do Yamaricumã, celebração indígena que reconstitui uma lenda matriarcal, em que mulheres, por um dia, vivem e lutam como homens.

"É indicado que se faça esse tipo de documentação na época de uma festa porque é quando se reúnem, de uma maneira intensiva e ao longo do tempo, preparações que vão até o dia da festa. Uma celebração assim não é planejada no último momento", explica Maureen.

Ao longo das gravações, a fotógrafa notou uma diferença importante entre a celebração nas aldeias e as comemorações urbanas. "Enquanto na cidade a gente é pressionada por prazo, lá não. Eles estabelecem um período para que a festa aconteça, mas o dia só é marcado quando tudo estiver feito. É o contrário da gente. Tudo é feito passo a passo, os enfeites são preparados, a aldeia é cuidada e os moradores de aldeias vizinhas são convidados. Mas, só vamos saber mesmo qual será o dia da festa quando iniciam a pesca coletiva", conta a artista.

O filme e a fotografia de Maureen, assim como uma canoa e dois cocares feitos pelos índios do Xingu- também expostos no local da mostra-, exaltam a arte desses povos e demonstram o valor de uma tradição que corre o risco de ser destruída.

Confira pessoalmente:

Maureen Bisilliat: fotografias
Local: Galeria de Arte do Sesi-SP - Av. Paulista, 1313 - metrô Trianon-Masp
Horários de visitação: segunda-feira, das 11h às 20h; de terça-feira a sábado, das 10h às 20h; e domingo, das 10h às 19h.
Informações: (11) 3146-7405 / 3146-7406 / www.sesisp.org.br/centrocultural
A entrada é franca.

http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=358997

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