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Ribeirinho busca identidade

A Critica, p.C7
26 de Nov de 2004

Ribeirinho busca identidade
Durante quatro dias mais de cem ribeirinhos e ribeirinhas de 49 cidades do Amazonas estiveram discutindo sua história e fazendo resgate da sua cultura. Criada há 27 anos no Estado, a Pastoral da Terra luta pelos direitos dessa população
Paulo André Nunes
Especial para A Crítica
A busca de uma identidade e, principalmente, de reconhecimento deram o tom ao 200 Encontro de Ribeirinhos e Ribeirinhas do Estado e o 2o Seminário sobre Identidade Ribeirinha, evento encerrado ontem na Comissão Pastoral da Terra (CPT), na rua São Luís, antiga Maromba, Chapada, Zona Centro-Sul. As discussões e atividades iniciaram na última segunda-feira sob a coordenação da Pastoral e envolveram aproximadamente cem participantes de 49 cidades do Amazonas.
"A finalidade do seminário é discutira identidade ribeirinha e saber quem é de fato esse povo que nós tanto comentamos e falamos, mas que ainda não é definido. Queremos fazer um resgate da cultura desse povo e saber claramente quem são essas pessoas", declara Jorge Luís Mota, vice-coordenador da CPT em Manaus e que dirige a prelazia da entidade no Município de Tefé (a 525 quilômetros de Manaus).
Criada há 27 anos, a CPT do Amazonas é tradicionalmente uma força política e mística a mais entre os movimentos sociais que se mantêm na luta por justiça social no campo e na cidade. No evento, além de representantes da Pastoral e das comunidades, também participaram membros de entidades parceiras e secretarias de Estado, dentre as quais o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama), Instituto de Terras do Amazonas (Iteam) e Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam). 0 apoio é da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca e das ONGs Cordaid e Manos Unidas.
Reconhecimento
Outro objetivo das atividades é integrar e congregar os participantes. "A Pastoral tem promovido esse evento há 20 anos, buscando integração por meio de um intercâmbio nesses encontros, com troca de experiência. Também enfatizamos temas relacionados ao desenvolvimento dos ribeirinhos que estão organizados em comunidades, associações e cooperativas. Portanto, a CPT quer, de fato, assessorar e çonhecer esse movimento e que tenha um protagonismo do povo", explica Jorge Luís Mota.
0 vice-coordenador declara que a busca pelo reconhecimento é uma árdua batalha que os ribeirinhos ainda travam: "Não somos reconhecidos como deveríamos. Nem sempre somos lembrados pelos governantes. E quem deveria atuar como agente de apoio para essas comunidades só se aproxima, na maioria das vezes, para pedir votos. Infelizmente, só somos povo no dia de eleições."

Destaque
Paralelo ao assunto dos ribeirinhos rurais, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) esteve presente ao 200 Encontro e 2o Seminário sendo representado pelo assessor Ademar Bogo, que falou sobre o tema "Compreendendo a Mística do Movimento Social".

Prêmio para colaboradores
A coordenação regional da Comissão Pastoral da Terra (CPT) entregou, durante o encontro, o Prêmio Dom Jorge Masrkell para uma entidade e uma personalidade que contribuíram com as populações ribeirinhas, preservação de lagos na região e com a luta por justiça no campo e na cidade. Foram homenageados a Associação Dom Jorge Masrkelil, do Município de Itacoatiara (a 170 quilômetros de Manaus) e o bispo dom Jesus, da cidade de Lábrea (a 703 quilômetros da capital). "Isto representa uma homenagem a quem trabalha em prol da prelazia de Itacoatiara e de Lábrea", destaca Jorge Luís Lima, vice-coordenador da comissão regional e da prelazia de Tefé.
Um dos fundadores da CPT no Amazonas, dom Jorge Masrkell, foi bispo da prelazia de Itacoatiara por 20 anos. Ele dedicou sua vida aos ribeirinhos, mulheres, crianças e aos trabalhadores rurais e urbanos. 0 religioso morreu em, 1998, deixando um exemplo de quem acreditava em uma vida melhore menos injusta.
0 prêmio foi criado pela Pastoral um ano após a morte do religioso e visando manter presente a memória de Dom Jorge Masrkell. "Ele se fez muito presente e foi um grande lutador e companheiro dessa população, mas especificamente em Manaus e Itacoatiara".

A Crítica, 26/11/2004, p. C7

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