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A "Revista Sem Fronteira"

Eliane Potiguara
Autor: Eliane Potiguara
12 de Abr de 2003

A "Revista Sem Fronteira" abre um espaço para esse tema tão importante que é uma das bandeiras da propriedade intelectual indígena, onde a literatura oral e escrita é um instrumento de conscientização e de libertação para Povos Indígenas. A revista enfatiza as obras literárias de Daniel Munduruku, Kaká, Jacupé, Eliane Potiguara, além dos escritores de obras coletivas.
" Autores individuais representam a autonomia indígena" enfatiza a escritora de descendência indígena Graça Graúna que acabou de defender tese sobre o assunto na UNPE( Recife).Graça reclama do descrédito e da falta de atenção para esse tema.
Acreditamos nesta frente de conscientização, que representa uma porta aberta para a criatividade, conscientização de nossa lutas, além de dar os primeiros passos para uma real autonomia: O PENSAMENTO INDÍGENA BRASILEIRO.Temas polêmicos causam mal-estar em alguns conservadores, mas foi assim que somamos na visibilidade de alguns assuntos que permeiam a questão indígena, como o resgate papel da mulher indígena, questão de violência, gênero, discriminação racial entre outros temas da maior importância.Por isso tudo acreditamos nesta VOZ. A luta continua!!!! Eliane Potiguara

Obrigada a Escritora Graça Graúna pela força

Brasil: Literatura indígena

Novidade no mercado dos livros: cresce no Brasil o número de autores
indígenas que buscam resgatar as raízes culturais e espirituais de
seus povos

Yaguaré Yama, Queila da Glória e crianças Saterê-Maué

Há alguns anos, vem aumen- tando no Brasil a publicação de livros
escritos por autores indígenas. É uma novidade, já que o normal era,
e ainda é, ver os mitos e lendas dos povos tradicionais documentados
e divulgados por antropólogos e outros estudiosos não-índios.

Esse movimento, digamos, político e literário está se manifestando de
duas formas. Uma delas é uma vasta produção de obras didáticas,
escritas por professores indígenas e destinadas originalmente à
alfabetização nas aldeias. A outra é uma geração de escritores
indígenas com uma vivência mais urbana, que produzem livros voltados
também para o público em geral.

Entre esses últimos, um nome que se destaca é Kaka Werá Jecupé, um
tapuia que se converteu à mística guarani e que combina o trabalho de
escritor com a atividade terapêutica de pajé. Com vários livros
publicados por editoras comerciais, Kaka elogia os projetos de
educação que estão sendo desenvolvidos em vários Estados, mas lembra
também que o foco do treinamento dos professores ainda vem sendo o
ensino elementar, voltado para a alfabetização. Segundo ele, faltam
iniciativas voltadas para os professores, de modo a melhorar a
transmissão dos valores de cada povo. "A principal diferença entre
escritores - como eu e outros colegas - e os professores indígenas é
que nós viemos de aldeias dentro de grandes centros urbanos e tivemos
uma convivência diferenciada com a cultura vigente. Sofremos grande
pressão da sociedade. No meu caso, tive uma preocupação de descobrir
estilos, entender as técnicas de comunicação, uma coisa específica da
literatura que eu busquei."

OBRAS COLETIVAS - Outro escritor indígena publicado por editora
comercial é Daniel Munduruku. Originário de Belém, ele veio para São
Paulo estudar filosofia na Universidade de São Paulo (USP) e diz que
sempre trabalhou contando histórias nas escolas não-indígenas,
levando para as crianças e jovens da cidade um pouco do modo de vida
de seu povo.

O interesse por esse tipo de literatura aumentou depois que a
Constituição de 1988 garantiu aos povos indígenas o direito à
educação por meio de processos próprios de aprendizagem. "Houve uma
mudança na sociedade - diz ele - que gerou a necessidade de tratar o
tema de forma mais coerente, dando um verdadeiro sentido à existência
desses povos."

Daniel explica que os cursos ministrados aos professores indígenas
exigiam criação de subsídios didáticos e que esse material,
geralmente produzido coletivamente, acabou sendo publicado pelos
governos estaduais. Além disso, uma norma federal que obrigava as
escolas do ensino médio a tratar da questão indígena também levou as
editoras brasileiras a lançarem títulos sobre o assunto.

Professora formada em Letras, a escritora Eliane Potiguara é
fundadora da organização indígena Grumin e está terminando seu
terceiro livro, Metade Cara, Metade Máscara, em que narra a história
das mulheres indígenas no País. Para Eliane, a literatura indígena
cumpre, hoje, a função de ser instrumento de conscientização
política. "Pode cumprir um papel transcendental na mente da sociedade
não-indígena, que é o resgate da alma humana e o fortalecimento
interior por meio da busca das raízes culturais, éticas e
espirituais." A escritora informa que esse e outros temas serão
abordados durante a Conferência Internacional de Literatura Indígena,
prevista para acontecer na Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(UERJ), em novembro deste ano.

Existem hoje no Brasil cerca de 3.200 professores indígenas e mais de
1.500 escolas diferenciadas. São cerca de 350 mil estudantes que,
além do Português, falam cerca de 180 línguas diferentes.

LIVROS E CARTILHAS - A exigência do treinamento de professores
indígenas para que eles produzissem o material didático utilizado nas
aldeias fez com que, durante os anos 90, surgissem muitos livros
produzidos pelas próprias comunidades indígenas, recuperando suas
histórias. Estudiosa dessa literatura, a professora Maria Inês de
Almeida conta que justamente por causa da necessidade de produzir
esse tipo de material, até 1999, algo como quarenta povos indígenas
já haviam publicado seus textos em livros e cartilhas. Ela afirma
que, em suas pesquisas, teve a oportunidade de conhecer cerca de 100
títulos de autoria indígena publicados durante duas décadas,
geralmente por órgãos oficiais ou por Organizações Não-
Governamentais. E a produção vem aumentando. Em julho de 2002, por
exemplo, o Ministério da Educação (MEC) anunciava o lançamento de
onze livros didáticos produzidos por professores indígenas de 23
etnias dos Estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do
Sul, Acre e Amazonas. Entre 1995 e 2001, o MEC patrocinou a
publicação de 35 livros produzidos por professores indígenas de todas
as regiões brasileiras, cujos conteúdos em muitos casos foram
pesquisados por professores e alunos junto aos idosos de suas etnias.

Outra pesquisadora da literatura indígena é a potiguar Graça Graúna,
que está desenvolvendo uma tese de doutorado sobre o assunto na
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Ao contrário de Maria Inês, Graça dá prioridade para os autores
individuais, como Kaka Werá e Daniel Munduruku. Ela diz que a
literatura indígena contemporânea começou no Brasil nos anos 70, com
os trabalhos de Eliane Potiguara, que se inspirou no movimento de
poesia marginal do Rio de Janeiro.

Graça reconhece a importância de textos pioneiros elaborados por
professores indígenas, como é o caso de Antologia da Floresta, ou do
Livro das Árvores do Povo Ticuna. Ela ressalta, porém, que o trabalho
de autores individuais é que representa a autonomia indígena, já que,
nesse caso, não existe uma subordinação aos funcionários do governo
ou aos dirigentes de uma ONG.

Flávio Carrança

Redação: (11) 3722-4733

Algumas das principais obras de autores indígenas do Brasil:

As Serpentes que roubaram a noite e outros mitos, de Daniel Munduruku
(Editora Peirópolis)

Irakisu - o menino criador, de Renê Kithãulu (Editora Peirópolis)

Puratig - O reino sagrado, de Yaguará Yamã (Editora Peirópolis)

A terra dos mil povos, de Kaka Werá Jecupé (Editora Peirópolis)

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