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Reservas mais desmatadas que assentamentos

O Globo, O País, p. 8
04 de Nov de 2008

Reservas mais desmatadas que assentamentos
Imazon: Floresta Amazônica perdeu 22 km² em áreas de proteção ambiental, enquanto sem-terra devastaram 19,8 km

Bernardo Mello Franco

Novos dados sobre o desmatamento da Amazônia mostram que o ritmo da devastação está mais acelerado nas reservas ambientais, cuja proteção cabe ao Ministério do Meio Ambiente, do que nos assentamentos da reforma agrária. Relatório divulgado ontem pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) afirma que o corte raso em áreas protegidas fez desaparecerem, em setembro, 22,1 km² de floresta, o equivalente a 6,3% da devastação no período. Nos assentamentos, a destruição foi de 19,8 km², ou 5,7% do total.

Para o pesquisador Adalberto Veríssimo, um dos coordenadores do estudo, os resultados são preocupantes tanto nas reservas quanto nos assentamentos. No entanto, ele afirma que as áreas protegidas deveriam estar totalmente imunes ao avanço das motosserras:
- É esperada tensão nos assentamentos, onde a maioria dos agricultores ainda se baseia no modelo de corte e queima.

Mas as unidades de conservação ambiental foram criadas para proteger a floresta e deveriam ter desmatamento zero.

Há um mês, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, abriu polêmica no governo ao divulgar uma lista em que seis assentamentos lideravam o ranking dos cem maiores desmatadores da Amazônia. A lista irritou o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, que acusou o colega de divulgar dados incorretos e jogar a culpa pelas derrubadas na reforma agrária.

Minc disse ter divulgado a lista sem conhecer seu conteúdo, mas depois afirmou que os números estavam certos.

Terras griladas e particulares concentram 87,1% do desmate
Segundo o Imazon, a destruição nas reservas ambientais atingiu o índice mais alarmante na Floresta Nacional do Jamanxim (PA), onde foram derrubados 4,8 km² em setembro. Em segundo ficou a Floresta Nacional do Bom Futuro (RO), com 4,2 km² de devastação. Em terceiro, empatadas, aparecem as florestas nacionais de Altamira (PA) e Saracá-Taquera (PA), com 3,8 km² destruídos.

O resultado nessas quatro reservas foi pior que o registrado no assentamento Terra Nossa, em Altamira (PA), onde os satélites flagraram a derrubada de 3,4 km² de florestas. Em seguida aparecem os assentamentos Campos do Pilar, em Alenquer (PA), com 3,1 km² devastados; e Mercedes-Benz, em Tabaporã (MT), com 2,7 km².

Mas o relatório indica que as terras griladas e particulares ainda são as grandes vilãs do desmatamento da Amazônia.

Nessas áreas, a devastação foi de 303 km², ou 87,1% do total. A destruição em terras indígenas foi de 2,8 km² (0,8%).

Minc disse que vai anunciar amanhã a criação de 40 planos de manejo para unidades de conservação. O ministro do Meio Ambiente voltou a culpar a gestão anterior pela vulnerabilidade das reservas federais:
- Recebemos um quadro de unidades muito abandonadas.
A maioria não tinha gestor nem fiscal, e o dinheiro da compensação ambiental não estava sendo aplicado corretamente.
A direção do Incra evitou polemizar com Minc. Em nota, o órgão informou apenas que a proteção do meio ambiente é prioridade da reforma agrária.

Esta foi a primeira vez em que o Imazon também divulgou números sobre a devastação progressiva da Amazônia. Somando essas áreas com as de corte raso, o instituto registrou um desmatamento total de 693 km² em setembro. O resultado é 18% maior do que os 87 km² constatados oficialmente pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) semana passada.

O Globo, 04/11/2008, O País, p. 8

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