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Reserva indígena abriga 26 tribos isoladas

OESP, Nacional, p. A8
25 de Mai de 2008

Reserva indígena abriga 26 tribos isoladas
População, que não está incluída na contagem da Funasa, pede ajuda aos governantes

Ricardo Brandt

O Vale do Javari é a reserva indígena onde mais há registros de índios que fogem ao contato com a civilização. São 26 tribos isoladas. Seus moradores não fazem parte da contagem de 3.600 índios feita pela Funasa, que considera só aqueles que já passaram por um censo.

Até mesmo as etnias que já conhecem o homem branco e a civilização estão com suas tradições e língua preservadas, talvez por viverem em um local de difícil acesso, na divisa com o Peru. Os marubos são a segunda maior população da reserva. Vivem da caça e plantam para comer. Não existe cesta básica do governo, nem consumo de álcool ou de drogas da cidade.

O português é falado só por alguns caciques e pelos índios jovens, que já foram para Atalaia do Norte (AM), cidade mais próxima, para fazer o supletivo indígena. Mulheres e crianças não falam o português. Alguns jovens dão aula nas aldeias para as crianças e velhos, mas a alfabetização é feita na língua panô.

Os marubos usam roupa, relógio e lanterna. O cacique da aldeia São Sebastião diz que a roupa do branco é boa pois ajuda a afastar o carapanã (mosquito). O cacique-geral dos marubos, Ivinimpapa, explica que as tradições são mantidas, mas as boas coisas da civilização são bem-vindas. "Tudo o que facilitar nossa vida vamos usar."

'ESQUECIMENTO'

Ivinimpapa vive em uma grande maloca na aldeia Maronal, um dos pontos que a reportagem visitou. Em entrevista dada em sua língua, o panô, e traduzida por um índio mais jovem, o cacique afirmou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa dar maior atenção para os povos dali.

"O povo marubo precisa da ajuda do governo. Com a demarcação da terra indígena, o governo fechou nossos povos aqui dentro e nos esqueceu", afirma. "Faz muito tempo que queríamos falar para o governo. Já que moramos num lugar muito distante, é através de vocês que podemos sensibilizar as pessoas que moram em Brasília."

A proximidade da civilização trouxe novas doenças e há a necessidade de abrir a aldeia para médicos. Ele diz que já viu pessoas morrendo de hepatite e teve bastante medo. Ivinimpapa se mostra desconfiado. "Outras equipes vieram, tiraram sangue do povo e nunca voltaram."

Por fim, o cacique relata que ONGs auxiliaram na alfabetização dos índios, mas o governo, reforça, não ajuda.

OESP, 25/05/2008, Nacional, p. A8

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