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Reserva de emergência

O Globo, Rio, p. 10
16 de Jan de 2015

Reserva de emergência
Presidente da Cedae prevê uso inédito do volume morto de Paraibuna ainda este semestre

EMANUEL ALENCAR emanuel.alencar@oglobo.com.br

O novo presidente da Cedae, Jorge Briard, disse ontem que, ainda este semestre, o Rio poderá entrar no volume morto do reservatório de Paraibuna, cujo nível chegou a 0,38%. Apesar da crise, ele descartou aumento de tarifa para quem gasta mais. A crise hídrica que atingiu em cheio São Paulo nos últimos meses está prestes a alcançar um novo recorde negativo, com reflexos no abastecimento do Estado do Rio. O maior reservatório do Rio Paraíba do Sul, localizado em Paraibuna, no Vale do Paraíba paulista, está com apenas 0,38% de sua capacidade. Se o regime de chuvas na região continuar abaixo das estimativas dos meteorologistas, não haverá outra saída a não ser utilizar o volume morto - também chamado de reserva técnica - do Paraibuna ainda no primeiro semestre. O novo presidente da Cedae, Jorge Briard, afirmou que a empresa já consultou Light, Furnas e Companhia Energética de São Paulo ( Cesp) sobre a qualidade das águas dessas reservas até hoje não exploradas. Especialistas estimam que o volume morto do reservatório de Paraibuna - que opera desde 1978 e é considerado o "coração do sistema" - tenha 400 milhões de metros cúbicos, o que seria suficiente para garantir o abastecimento de cidades de São Paulo, Rio e Minas por até três meses.
Briard ressalta que a situação hídrica da Região Metropolitana do Rio ainda é confortável, mas reconhece que técnicos esperavam um volume maior de chuva de outubro a novembro passado, o que não aconteceu. A seca exigirá soluções criativas e novos estudos de engenharia nos próximos meses, destaca o novo presidente da Cedae.
- A utilização dos volumes mortos não nos assusta. Vamos ter mais dificuldades, e estamos estudando, junto com outros atores, tecnologias para soluções alternativas de captação de água. Precisamos estar preparados para novos cenários de crise. Vamos prolongar a vida útil desse sistema o máximo possível - diz Briard, que pediu apoio da população contra o desperdício. - Não temos perspectiva, em 2015, de problemas de abastecimento de água no Grande Rio. Entretanto, é importante que a população seja parceira. O sentimento de que a água é um bem finito deve ser de todos. A falta de chuva está prolongada. A Cedae vai fazer a sua parte. Vamos estabelecer um prazo menor para atender a denúncias de vazamento - diz.
Na avaliação do pesquisador Paulo Carneiro, da Coppe/UFRJ, especialista em recursos hídricos, "tudo aponta que medidas de racionamento precisarão ser tomadas", inclusive no Rio. Ele acrescenta que o uso de volume morto de barragens do Paraíba do Sul não é uma operação tão simples:
- As válvulas de fundo do reservatório de Paraibuna não foram projetadas para esse tipo de uso. Além disso, o uso do volume morto pode adiar o problema para 2016.
MUDANÇAS NA CAPTAÇÃO DE SEIS CIDADES
Briard volta a afirmar que uma mudança tarifária da Cedae, estabelecendo alívio nas contas de quem consome de forma mais racional, não está entre as prioridades da empresa. O novo critério foi defendido pelo secretário estadual do Ambiente, André Corrêa. Atualmente, 75% dos cerca de dez milhões de clientes da Cedae consomem até 15 metros cúbicos de água por mês, e, por isso, pagam uma tarifa básica fixa.
- Nosso sistema já pune fortemente quem ultrapassa o volume mínimo. Vamos implementar um trabalho forte em recadastramento de clientes e instalação de hidrômetros. A recuperação comercial da empresa virá acompanhada da melhoria de abastecimento - diz Briard.
O novo presidente da empresa de saneamento acrescenta que a companhia deverá investir aproximadamente R$ 6 milhões em obras de melhoria na captação de água nas cidades de Barra do Piraí, Vassouras, Paraíba do Sul, Sapucaia, São Fidélis e São João da Barra. A vazão baixa do Rio Paraíba do Sul tem dificultado o abastecimento de municípios localizados em suas margens.
Briard diz ainda que não espera usar este ano a reserva estratégica de água da represa de Ribeirão das Lajes, em Piraí:
- As águas de Lajes têm alta qualidade, e o reservatório tem um tempo de recomposição de volume muito lento, pois é abastecido por um único túnel, ligado ao Rio Piraí. Não pensamos em mexer este ano. Lançar mão de Ribeirão das Lajes hoje é uma temeridade, seria colocar a carroça na frente dos bois.
O presidente da Cedae afirma também que a Secretaria estadual de Obras fará nova licitação das intervenções necessárias para reduzir a poluição nos rios do Sistema Guandu. Mas as obras só devem ficar prontas em 2018.

O Globo, 16/01/2015, Rio, p. 10

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