VOLTAR

Registro raro de uma tribo isolada

O Globo, Sociedade, p. 30
23 de Dez de 2016

Registro raro de uma tribo isolada

Eduardo Vanini

RIO - Mudanças de última hora num voo de helicóptero sobre a floresta no Acre proporcionaram ao fotógrafo Ricardo Stuckert um registro raro: ele capturou com riqueza de detalhes uma tribo indígena que vive isolada numa região próxima à fronteira com o Peru.
- Estávamos indo em direção à aldeia Caxinauá, na Praia do Carapanã, mas começou a chover forte e paramos num vilarejo. Quando retomamos a viagem, entramos numa clareira para desviar de mais chuvas e nos deparamos com a tribo - conta o fotógrafo sobre a experiência, vivenciada no último domingo.
Segundo ele, as primeiras "pistas" avistadas foram as plantações de mandioca, depois uma maloca abandonada e, só em seguida, os responsáveis por tudo aquilo.
- Estávamos a uma altura generosa. Então, meu contato foi muito através da câmera. Como tinha um equipamento bom, consegui aproximar as imagens e observar vários detalhes - relata Stuckert, que estava munido de uma poderosa lente 800mm. - Mesmo assim, foi muito difícil. Tive cerca de sete minutos e precisei lidar com o vento e o balanço da aeronave.
Stuckert, que já trabalhou como fotógrafo da Presidência da República e atuou no jornal O GLOBO, viajava para uma sessão de fotos para o seu livro "Índios Brasileiros", no qual reunirá fotos de mais de dez etnias brasileiras. O lançamento está previsto para o Dia do Índio, em abril do ano que vem.
SAIOTES DE ALGODÃO
Junto com Stuckert estava o sertanista José Meirelles, que trabalhou para a Fundação Nacional do Índio (Funai) durante muitos anos. Segundo ele, as fotos revelam vários detalhes sobre a cultura e os hábitos destes moradores da floresta.
- Os homens andam nus, usando apenas uma casca de árvore em volta da cintura, onde amarram o pênis. Já as mulheres usam uma saiotinha feita de algodão tingido, revelando que eles tecem e fiam - destaca ele.
De acordo com Meirelles, foi possível notar uma boa quantidade de algodão no chão, além de plantações de milho, mandioca e banana.
- Também percebemos que eles são mais lânguidos em relação a outras etnias e têm pés grandes - conta o sertanista. - E um fato curioso é que os homens têm cortes de cabelo diferentes. Essa informação é muito relevante, já que, vistos isoladamente, eles poderiam ser interpretados como integrantes de outra tribo.
Algumas fotos mostram olhares desconfiados e curiosos dos índios, que apontavam algumas de suas armas para a aeronave. Por isso, a distância é importante. Uma aproximação exagerada também poderia assustá-los.
- Não sabemos o nome deles, nem que língua falam - comenta Meirelles, sobre a tribo por ora identificada como "Índios do Maitá", em referência ao rio próximo à região.
O sertanista revelou, ainda, ter conhecimento desses índios desde 1989. Ele já sabia, por exemplo, que eles têm o hábito de se mudar num raio de até 10km a cada quatro a cinco anos, quando as malocas ficam velhas, assim como as plantações. Porém, até então, não havia tantos motivos para dar visibilidade a eles, já que viviam em segurança. Agora, as coisas começaram a mudar.
- Eles transitam na fronteira e, quando estão do lado do Peru, ficam expostos à ação de garimpeiros e madeireiros ilegais. Muitas vezes, acabam levando tiros - alerta. - E com as últimas sinalizações do governo brasileiro sobre a revisão de demarcações de terras indígenas e a falta de recursos na Funai, tememos que eles fiquem mais vulneráveis também do lado brasileiro.

O Globo, 23/12/2016, Sociedade, p. 30

http://oglobo.globo.com/sociedade/fotos-mostram-detalhes-de-indios-isol…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.