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Reduzir desmatamento é meta do Brasil

O Globo, Ciência e Vida, p. 32
31 de Out de 2006

Reduzir desmatamento é meta do Brasil
País é o quarto maior emissor de gases do aquecimento por conta de queimadas

Dono de uma matriz energética razoavelmente limpa em relação á grande maioria dos países do mundo, o Brasil é o quarto maior emissor mundial de gases do efeito estufa. O paradoxo se explica com as queimadas ilegais de florestas, que representam 75% do C02 lançado pelo país na atmosfera. Para a reunião da ONU sobre clima que acontece na próxima semana, em Nairóbi, no Quênia, o Brasil apresentará uma proposta de mecanismo de redução voluntária de desmatamento mediante compensação.

- O Brasil está numa posição bastante desconfortável por conta das queimadas, mas, ao mesmo tempo, está se mostrando ativo ao levar a Nairóbi essa proposta do governo - analisa Karen Suassuna, especialista em mudanças climáticas do ~-Brasil. - A proposta de redução compensada é um avanço em relação às discussões sobre desmatamento no país. Mas ainda não está claro de onde virá o dinheiro, pois os recursos internacionais já destinados para conter as mudanças climáticas não podem ser desviados. Teria de ser injetado mais dinheiro dos países desenvolvidos especificamente para este mecanismo.

Como país em desenvolvimento, o Brasil não tem a obrigação de reduzir suas emissões de gases do efeito estufa. O Acordo de Kioto estabelece que, por enquanto, apenas as nações ricas (que ao longo dos anos se beneficiaram economicamente da queima de combustível fóssil) devem fazer os cortes.

Para além do posicionamento externo do país sobre o tema desmatamento, analisa Karen, o Brasil precisaria enfrentar um debate interno mais profundo sobre a questão.

- É preciso enfrentar problemas estruturais - alerta a especialista. - O desmatamento passa por questões importantes para o país, como o agronegócio. As queimadas são fruto da expansão das fronteiras agrícolas e pastagens. Seria interessante ter metas internas claras para a redução.

Em artigo publicado ontem no jornal britânico "Independent", os ministros Celso Amorim (das Relações Exteriores), Marina Silva (do Meio Ambiente) e Sérgio Rezende (da Ciência e Tecnologia) afirmam que o Brasil está combatendo o desmatamento e que não abrirá mão de sua soberania sobre a Amazônia. Os ministros sustentam que, nos últimos anos foram alcançadas reduções significativas na velocidade de desmatamento da Amazônia. Eles citam que, entre 2004 e 2005, o ritmo do desmatamento caiu 32% em relação aos doze meses anteriores. "São resultados importantes, mas os esforços em direção a uma redução permanente do desmatamento deve continuar", escrevem.

O Relatório Stern, divulgado ontem pelo governo britânico, levanta ainda outro ponto importante para o Brasil, que diz respeito às emissões do setor elétrico. De acordo com o documento, elas terão que ser reduzidas globalmente em, no mínimo, 60% até 2050. No Brasil, a matriz elétrica é invertida em relação aos demais países, ou seja, a maior parte da eletricidade nacional é gerada através de hidrelétricas.

- Mas o país tem dado sinais claros de que pretende aumentar a parcela de combustíveis fósseis. Isto é estar na contramão da história, temos de continuar sendo exemplo, temos um enorme potencial para tecnologias corno sola e biomassa, sem falar da eficiência energética, forma mais energia - afirmou Karen Suassuna. - É preciso ter metas claras para reduzir drasticamente o desmatamento e investir em renováveis é a nossa lição de casa para contribuir positivamente com o clima do planeta.

O Globo, 31/10/2006, Ciência e Vida, p. 32

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