VOLTAR

Rede Wayuri: o coletivo de jornalismo criado por jovens indígenas que faz toda a diferença na Amazônia

Hypeness - https://www.hypeness.com.br
08 de Mar de 2021

Rede Wayuri: o coletivo de jornalismo criado por jovens indígenas que faz toda a diferença na Amazônia

por: Vitor Paiva

No noroeste do estado do Amazonas, o jornalismo é a arma da Rede Wayuri para combater as fake news, proteger as populações originárias e locais e levar os fatos e as informações até a ponta do mapa, conhecida como "cabeça de cachorro" pelo seu formato. Formada em 2017 por 26 comunicadores de 10 povos diferentes e com correspondentes espalhados por toda a bacia hidrográfica do Rio Negro, a rede trabalha para enviar até a região de São Gabriel da Cachoeira algo que, para quem vive nas grandes cidades, é hoje tão acessível quanto o próprio ar: informações.
Nos arredores da cidade, conhecida como capital indígena, vivem 420 comunidades originárias divididas em 23 etnias com 19 idiomas diferentes - e por isso é tão importante o trabalho da equipe que, em São Gabriel, produzem, redigem, traduzem, gravam, editam e compartilham os boletins em áudios de notícias para a região na floresta Amazônica.

A difusão dos boletins se dá por grandes plataformas como Spotify e SoundCloud mas principalmente por WhatsApp. Muitas aldeias, porém, não possuem acesso à internet, e por isso a "transmissão" se dá de modo bastante mais analógico: muitas vezes a notícia chega em pendrives enviados por barcos que viajam dias para chegar aos destinos. Em cada local, a criatividade e as possibilidades imperam para que a população tenha acesso a informações reais, apuradas e editadas devidamente. "Nas terras indígenas se espalham graças à rádios-postes. É um megafone preso em um poste, ligado à uma mesa de áudio. As pessoas são reunidas para ouvir os boletins e saber o que está acontecendo", afirma Claudia Ferraz Wanano, locutora-repórter-editora da rede, em matéria do site Elástica.

A Rede nasceu com 17 jovem sob o nome de Rede de Comunicadores Indígenas do Rio Negro, mas mudou para Wayuri, que na língua nheengatu, quer dizer "trabalho coletivo, mutirão".

Os boletins são produzidos em português mas também nos idiomas locais, e o símbolo da iniciativa foi desenhado por Feliciano Lara, líder do povo Desana e maior artista da região, mostrando comunicador ao microfone com montanha Bela Adormecida, cartão postal do Alto Rio Negro, ao fundo, e um cocar ao redor - lamentavelmente o artista recentemente faleceu aos 84 anos, vitimado pela Covid-19.

Os boletins também são enviados diariamente pela radiofonia da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foim) e até por carros de som - e foi por esse trabalho exemplar que a Rede Wayuri recebeu, em 2020, o prêmio "Heróis da Informação", junto de outras iniciativas internacionais, pela ONG francesa Repórteres sem Fronteiras.

É prêmio justo, pois cada passo dado para que a boa informação se espalhe por uma Amazônia pouco conectada exige muito trabalho, dias de viagem, esforços difíceis de se imaginar para jornalistas de uma grande cidade - e um compromisso verdadeiramente especial com a verdade, com a vida, com a importância dos fatos e do jornalismo, que faz da Rede Wayuri um exemplo para qualquer pessoas ou organização que tenha apreço pela verdade e pela liberdade.

Vitor Paiva
Escritor, jornalista e músico, doutorando em literatura pela PUC-Rio, publica artigos, ensaios e reportagens. É autor dos livros Tudo Que Não é Cavalo, Boca Aberta, Só o Sol Sabe Sair de Cena e Dólar e outros amores.

https://www.hypeness.com.br/2021/03/rede-wayuri-o-coletivo-de-jornalism…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.