REDE tem candidaturas indígenas e reconhece importância desses povos

A atitude da Rede Sustentabilidade de sempre reconhecer a importância dos índios na sociedade brasileira em todos os aspectos já traz bons resultados na disputa eleitoral deste ano, quando serão escolhidos os novos prefeitos e vereadores. A valorização se reverteu no lançamento de candidaturas próprias pelo partido, que representam de fato esses povos na campanha. No município de Uiramutã - no norte de Roraima -, a REDE conta com uma chapa toda, composta por candidatos provenientes das comunidades indígenas daquela região.

No total, cinco concorrentes vão concorrer ao pleito na cidade, dos quais dois compõem a chapa majoritária. Os outros três estão na luta por uma das vagas de vereador. Os nomes dos candidatos foram definidos em convenção realizada no dia 29 de julho, no Malocão da Comunidade Indígena de Uiramutã.

O reconhecimento da cultura indígena está previsto nos princípios e valores da REDE. Prova disso é a atuação da legenda na defesa de temas importantes relacionados a essas comunidades. Nessa lista, está a tentativa do partido de barrar a aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 215, que pretende transferir do Poder Executivo para o Legislativo a prerrogativa de oficializar e demarcar terras indígenas.

Dentro dessa postura por parte da REDE, o integrante do povo Patamona Zelandes Alberto Oliveira, de 35 anos, foi escolhido para ser candidato a prefeito pela legenda em Uiramutã. Pela primeira vez numa disputa eleitoral, ele decidiu concorrer ao pleito motivado justamente por essa atitude, adotada desde a fundação do partido e depois reforçada após a aprovação do registro pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

"O fato de valorizar como nós somos de fato me incentivou a aceitar esse desafio de representar os índios na campanha. A partir de agora, eu encamparei a mesma luta de maneira local", conta.

Professor Zelandes, como é conhecido na cidade e na comunidade indígena, foi escolhido para encabeçar a chapa majoritária entre sete nomes indicados pelo movimento indígena. Entre suas ações, ele tem militado ativamente nas ações sociais do município e, sobretudo, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, localizada em Uiramutã e onde vivem o povo indígena da qual faz parte.

"Temos feito diversos encontros com os caciques das comunidades indígenas aqui da região para ouvir e trabalhar por melhorias em favor de todos", declarou Zelandes. Hoje com 35 anos, o candidato a prefeito da REDE em Uiramutã é formado em Gestão em Turismo, com mestrado em Desenvolvimento Sustentável pela UnB (Universidade de Brasília). Já a chapa da REDE para vereador na cidade conta com três candidatos, todos de descendência indígena.

Programa de governo para as comunidades

Para o lançamento das chapas majoritária e proporcional, a REDE no município debateu amplamente com os indígenas da cidade a elaboração de um programa de governo que abranja tanto as demandas desses povos quanto do município em geral. As propostas foram discutidas em reuniões, assembleias, seminários e conferências realizadas diretamente com os índios, que correspondem a 95% da população de Uiramutã.

"Esse plano está dentro da realidade das comunidades indígenas da cidade. Para ficar de acordo com essas necessidades, houve muita conversa e discussão entre nós", esclareceu professor Zelandes. Entre os pontos abordados nesse programa, estão agricultura orgânica e sustentável; energia limpa; gestão ambiental e sustentável; vigilância territorial; controle social e transparência; identidade e cultura; educação; saúde e questão de gênero.

Na diretriz agricultura orgânica, o programa de governo do candidato prevê a implantação de uma política municipal de acesso aos mercados e o apoio à implantação de uma cooperativa regional na cidade. Outra proposta é trabalhar um selo indígena para a farinha serrana. O plano conta ainda com a ideia de incentivar o manejo sustentável do rebanho bovino.

Quanto ao quesito energia limpa, o programa do candidato quer buscar parcerias para implantação de sistemas de geração renováveis nas comunidades indígenas e para os demais moradores da cidade. Já na gestão ambiental e sustentável, o programa estabelece a elaboração de projetos de recuperação e manejo ambiental e reflorestamento dos igarapés. Outra ideia será buscar mecanismos para implementar a lei dos resíduos sólidos.

Para a vigilância territorial, o programa de governo do professor Zelandes prevê a articulação de uma parceria com as instituições fiscais como forma de monitorar as comunidades. Outra ideia é apoiar a formação de uma equipe de vigilância. Ainda inserido nesse item, o plano pretende organizar um acordo entre as organizações indígenas que atuam na cidade para pactuar um acordo ao combate de entrada de pessoas suspeitas, bebidas alcoólicas e drogas nas comunidades.

Na diretriz controle social e transparência, o plano do candidato sugere a criação de uma ouvidoria municipal, a implantação de formas de transparência na gestão municipal com a exposição de orçamentos e obras a serem realizadas. Outra meta será fortalecer o movimento indígena por meio da articulação e comunicação entre as lideranças e comunidades indígenas.

Na questão identidade e cultura, o programa prevê a organização do primeiro festival cultural indígena e de competições com esportes tradicionais no município. Além disso, o candidato vai buscar parcerias para a construção da casa de cultura dos povos indígenas.

Na educação, o plano de governo do candidato quer promover eventos e festivais que estimulem o uso da língua materna dos indígenas, com direito a premiação para as escolas vencedoras. Também dentro dessa temática, a ideia do candidato é promover uma série de oficinas e cursos para os professores que não saibam falar fluentemente esses idiomas. Nessa lógica, a ideia será construir e publicar materiais didáticos e pedagógicos nas línguas macuxi, ingarikó e patamona.

Para a saúde, o programa do candidato da REDE organiza uma política de valorização da medicina tradicional, com parcerias para implantação de hortas nas comunidades, construção de um espaço de referência para a produção e distribuição de medicamentos tradicionais.

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