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Rede Juçara promove encontro e debate alternativas

ISA - www.socioambiental.org
16 de Nov de 2010

Os enfeites da mesa eram feitos com mudas de juçara. O suco oferecido no café era do fruto da juçara. Nas camisetas e nas canecas estavam impressas as palmas da palmeira Euterpe edulis. Para onde quer que se olhasse havia algo de roxo, cor do fruto da palmeira juçara. E, acima de tudo, o assunto da maioria das pessoas era a juçara: formas de plantio, dificuldades na comercialização, lembranças de tempos passados quando eram palmiteiros. Nesse ambiente de camaradagem, mais de 300 pessoas lotaram os espaços do Centro de Educação e Cultura Kaigai Kogyo Kabukushi Kaisha (KKKK), em Registro, entre 9 e 10 de novembro no I Encontro da Rede Juçara, Polpa de juçara e comunidades. No foco dos debates, a palmeira juçara, Euterpe edulis, e por consequência, a diversidade, representada especialmente pelos participantes: agricultores familiares, quilombolas, caiçaras, indígenas, gestores públicos de órgãos estaduais, municipais e federais, técnicos e assessores de organizações não governamentais, associações, cooperativas; pesquisadores, professores, estudantes; representantes de empresas.

Abertura do Encontro em Registro

Mas não só. A diversidade também era de origem: se boa parte dos participantes vinha dos estados onde é mais forte até agora a atuação da Rede Juçara (Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), não faltavam representantes de Minas Gerais, bem como do Pará, que vieram contar um pouco do universo ao redor da prima da juçara, o açaí. A diversidade, finalmente, se fez presente também nas metodologias e enfoques de trabalho tais como: feira de sementes e projetos, oficinas práticas (de culinária com juçara, de coleta dos frutos, de despolpa, de criação de abelha nativa, grande polinizadora da E. edulis), oficinas de troca de experiências e debate, painéis com relatos de destaque e sessão de perguntas.

O I Encontro da Rede Juçara. Polpa de juçara e comunidades foi organizado pelo Instituto de Permacultura e de Ecovilas da Mata Atlantica (Ipema), pelo Instituto Socioambiental, pela Água, pela Fundação Florestal, pela USP/Esalq, todos integrantes da Rede Juçara, em parceria com a Associação dos Bolsistas da JICA (ABJICA). Contou com apoio do PDA (GTZ, KFW), do Ministério do Meio Ambiente, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, da Prefeitura de Registro, do Centro de Apoio Socioambiental (CASA), e da cooperação japonesa (JICA).

Todos os participantes, de alguma forma, se deram conta do marco histórico que o encontro representou. Guenji Yamazoe, da ABJICA, mostrou ao público um artigo que escreveu nos anos 1970, comentando que naquela época quando se falava em plantio de juçara, a reação imediata era apenas sorrisos. Durante o encontro, repovoamento e o plantio são palavras faladas por todos. Yamazoe acrescentou que até poucos anos atrás, em um congresso sobre E. edulis, só se falava de número de policiais ambientais, mas hoje o leque de assuntos se ampliou e o enfoque mudou. Gustavo Martins, da Ação Nascente Maquiné (Anama), destacou a forma isolada como no passado cada grupo, associação, comunidade do domínio Mata Atlântica, lidava com os desafios ligados ao uso múltiplo da juçara. Hoje, o movimento que era local, se tornou nacional. Antonio Jorge, do Quilombo de Pedro Cubas, ao ver a quantidade e a diversidade de pessoas voltadas à um objetivo comum, se sente mais seguro em sua luta pessoal pela conservação e uso sustentável da palmeira. Já Vandir Rodrigues, do Quilombo de Ivaporunduva, afirma que, se antes ainda tinha alguma dúvida, agora constatou que o fruto da juçara pode ser uma saída e uma valiosa alternativa de renda para as comunidades.

Ao final, o encontro deixou um claro recado sobre a relação do homem com a E. edulis: é possível entrar em uma nova fase na qual a condição principal é que as comunidades, as organizações e a rede que as une, se fortaleçam cada vez mais e possam dar respostas apropriadas ao Estado apontando normas e políticas públicas. E batalhar por isso é o compromisso de todos.

http://www.socioambiental.org/noticias/nsa/detalhe?id=3210

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