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Recuperar as florestas do Brasil custaria R$ 52 bilhões em 14 anos

Época - http://epoca.globo.com
Autor: Alexandre Mansur
02 de Jun de 2016

Estudo inédito avalia quanto custa regenerar as florestas cortadas ilegalmente na Amazônia e Mata Atlântica. Quem vai pagar a conta?

Quanto custa recuperar as florestas desmatadas ilegalmente no Brasil? Essa conta precisa ser feita. Agora ela é ainda mais oportuna por dois motivos. Primeiro porque o governo brasileiro se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030 como contribuição voluntária para reduzir as emissões responsáveis pelas mudanças climáticas. Esse compromisso faz parte do Acordo de Paris, firmado no ano passado. O segundo motivo são os resultados preliminares do Cadastro Ambiental Rural (CAR). Eles apontam que os fazendeiros do país desmataram além da conta e têm uma área em torno de 12 milhões de hectares para recuperar dentro do programa de regularização ambiental.

A crise hídrica deixou ainda mais evidente a importância da preservação e recuperação das florestas. Já há alguns esforços em curso, principalmente na região da Mata Atlântica, para recuperar florestas em áreas de mananciais.

A pergunta atual é quanto custa recuperar as florestas perdidas pelo Brasil. Para responder a essa questão, o Instituto Escolhas reuniu economistas e engenheiros florestais. O levantamento foi encomendado pela Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, que junta mais de 100 associações empresariais, empresas, centros de pesquisa e organizações civis.

Segundo o estudo, recuperar as florestas custa de R$ 52 bilhões a R$ 31 bilhões em 14 anos. A diferença depende do quanto se estima que a floresta consegue se recuperar sozinha. O investimento inclui a criação e o plantio de mudas de espécies nativas. O estudo foi coordenado por Roberto Kishinami e Shigueo Watanabe Jr., do Instituto Escolhas. O conhecimento de engenharia florestal foi dos pesquisadores Eduardo Gusson e Girlei Costa da Cunha, da Biodendro Consultoria Florestal. Os economistas foram Andrea Lucchesi (EACH/USP), Keyi Ussami (FIPE), Paula Pereda e Maria Alice Móz Christofoletti (FEA/USP).

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Em termos de ganhos econômicos, os pesquisadores fizeram um cálculo conservador. Só levaram em conta os possíveis lucros com a venda da madeira. Não incluíram possíveis lucros com outros produtos florestais, como açaí, castanhas, frutas e essências naturais. Não contaram ganhos com turismo. Não levaram em conta reembolso com créditos de carbono. Também não consideraram uma possível remuneração pela recuperação de mananciais.

O primeiro desafio para fazer essa conta é imaginar que o Brasil nunca fez uma empreitada desse tamanho para recuperar florestas. "Se você olhar o que a gente já fez perto do que a gente precisa fazer, é uma desproporção muito grande", diz Sérgio Leitão, diretor do relacionamento com a sociedade do Instituto Escolhas. "A conta foi feita criando grandes clusters de recuperação. Juntar grandes áreas. Não é para pensar na fazenda de cada um. Precisa de um processo industrial. A partir do CAR, o responsável por essa recuperação vai aglutinar grandes áreas contínuas e investir na recuperação em larga escala desses grandes blocos, com os fazendeiros."

Recuperar 12 milhões de hectares é como reflorestar toda a Inglaterra. O desafio não é só físico. Além de criar mudas e viveiros, será preciso formar os técnicos e engenheiros florestais, além de aprimorar as técnicas existentes. O estudo detalha oito abordagens conhecidas para recuperar Mata Atlântica e Floresta Amazônica. Esses modelos de restauro têm diferentes formas de correção do solo, de vegetação original, de forma de plantar e de cercar a área.

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A pesquisa não considerou o Cerrado por falta de conhecimento técnico sobre a recuperação do bioma. E isso é dramático, considerando que o Cerrado é o bioma mais atingido pelo desmatamento das últimas décadas.

O grande mérito do estudo é dar uma dimensão do dinheiro necessário para a recuperação florestal que o Brasil precisará de uma forma ou de outra encarar. A próxima pergunta é quem pagará essa conta. "Essa discussão terá de ser feita. Isso é resultado de um passivo que foi construído ao longo de décadas", diz Sérgio Leitão. "Pelo menos com os números na mesa podemos começar a discutir isso de forma mais objetiva."

http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-planeta/noticia/2016/06/…

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