VOLTAR

Recuperação do cerrado ganha reforço

Terra da Gente
14 de Set de 2011

Recuperação do cerrado ganha reforço
Agricultores reunidos em Brasília mostram que ainda dá tempo de recuperar um dos biomas mais agredidos do País.

Terra da Gente, com info Ibama/ WWF Brasil/ ISA

O último domingo (11) foi comemorado o Dia do Cerrado. Se pensarmos sobre o que restou deste bioma (veja matéria abaixo), há muito pouco a comemorar. Mas há quem faça a sua parte, mesmo depois de reconhecidamente ter contribuído com sua destruição. Hoje, do outro lado da cerca, dois produtores rurais de Canarana (MT) - Amandio Micolino e Teresinha Goldoni - mostram como se tornaram pioneiros na recuperação de áreas degradadas de Cerrado, utilizando para isso o plantio mecanizado.
Os dois participaram no início deste mês, em Brasília, do Seminário Plantio de Árvores no Cerrado, onde deram seu testemunho em prol da preservação. Participaram do encontro 40 produtores de diversas regiões do País. A intenção era que eles trocassem experiências sobre uma prática que promete, mesmo que a conta gotas, dar uma resposta ao próprio bioma: a de voltar a plantar espécies nativas em suas terras.
Dona Teresinha contou que com sua plantadeira de soja recuperou três hectares na beira da represa do Garapu, localizada em sua fazenda. Já Amandio Micolino vem utilizando, desde 2008, o seu vincón - uma lançadeira de adubo - para recuperar 6,5 hectares de Cerrado que desmatou em sua fazenda quando chegou em Canarana, ainda na década de 1970. "Isso precisa ser divulgado para a população, pois somos chamados de loucos por estarmos plantando árvores", diz.
No encontro, promovido pelo Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) e pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, foram ensinadas técnicas como estaquia, clonagem de árvores, plantio de mudas e pastagens ecológicas. A ideia foi disseminar técnicas mais ecológicas e economicamente viáveis para a recuperação do Cerrado.
Édemo Côrrea, também morador de Canarana, apresentou os avanços que vem obtendo com seu pasto consorciado com pequi. "Quando os pés de pequi estão com mais de dois anos, o gado pode ser colocado na mesma área, pois já não alcança mais a gema das plantas e, por isso, não danifica as árvores", explica.
Corrêa participou da primeira turma de formação de agentes socioambientais, organizada pelo Instituto Socioambiental (ISA), em 2006, e é hoje um dos principais produtores de pequi de sua região. Ele também planta outras espécies nativas do Cerrado, como o murici, cagaita e jatobá e explica a outros agricultores seu sistema silvipastoril de pastagem consorciada com pequi e outras espécies nativas.
As experiências de restauração florestal em Canarana, apresentadas no evento, vêm sendo realizadas em parceria com o ISA, no âmbito da campanha Y Ikatu Xingu. "A iniciativa dos produtores em implementar atividades de restauração dentro de suas propriedades e buscar alternativas mais ecológicas para sua produção é o resultado mais significativo da campanha", avalia Rodrigo Junqueira, coordenador adjunto do Programa Xingu do ISA.
Em cinco anos, mais de dois mil hectares de áreas degradadas na Bacia do Rio Xingu entraram em processo de restauração. A estimativa é que até o fim deste ano mais 300 hectares sejam implantados. As restaurações florestais já estão presentes em 14 municípios de Mato Grosso: Canarana, Água Boa, Barra do Garças, Vila Rica, Gaúcha do Norte, Querência, Bom Jesus do Araguaia, São Félix do Araguaia, Canabrava do Norte, São José do Xingu, Santa Cruz do Xingu, Marcelândia, Cláudia e Nova Mutum.
Pouco a comemorar
Até a década de 1950 era assim: o Cerrado mantinha-se quase como veio ao mundo. Ou seja, com a sua vegetação praticamente inalterada. Mas diante de sua tão vasta diversidade - é formado por o cerradão (com árvores altas, densidade maior e composição distinta), passando pelo cerrado comum do Brasil central (com árvores baixas e esparsas), até o campo cerrado, campo sujo e campo limpo (com progressiva redução da densidade arbórea) - não deu outra: começou a exploração de suas riquezas.
E põe riqueza nisso! Reconhecido como a savana mais rica do mundo em biodiversidade, sua flora conta com mais de 10.000 espécies de plantas, com 4.400 endêmicas (exclusivas) dessa área. Já a fauna apresenta 837 espécies de aves; 67 gêneros de mamíferos, abrangendo 161 espécies (19 delas endêmicas); 150 espécies de anfíbios (das quais 45 endêmicas); 120 espécies de répteis (das quais 45 endêmicas). Só para efeitos comparativos, o Distrito Federal, sozinho, responde por 90 espécies de cupins, mil espécies de borboletas e 500 espécies de abelhas e vespas.
Mas a partir da década de 1960, o progresso começou a correr para dentro do País. Resultado: com a abertura de uma nova rede rodoviária, largos ecossistemas deram lugar à pecuária e à agricultura extensiva, como a soja, arroz e ao trigo. Junto a elas, vieram obras de infra-estruturas viárias e energéticas. A biodiversidade que existia foi gradativamente dando lugar à essa nova fronteira agrícola, usando para consolidá-la três ações básicas para isso: os desmatamentos, as queimadas, e o uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos.
Até 1990, quando governos e diversos setores organizados da sociedade começaram a correr atrás do prejuízo, simplesmente 67% de áreas do Cerrado já haviam sido "altamente modificadas", com o registro de voçorocas, assoreamento e envenenamento dos ecossistemas. Hoje, infelizmente, resta apenas 20% de área em estado conservado, segundo dados do próprio Ibama.
Para dizer que nada foi feito, atualmente o Cerrado - que é distribuído principalmente pelo Planalto Central Brasileiro, nos Estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, parte de Minas Gerais, Bahia e Distrito Federal, abrangendo 196.776.853 hectares - tem dez Parques Nacionais, três Estações Ecológicas e seis Áreas de Proteção Ambiental. A região, há que se dizer, ainda é cortada por três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Tocantins, São Francisco e Prata).

Espaço reservado apenas para comentários. Dúvidas e perguntas, clique aqui

Comentários
Cezar Farias Garcia | 10/09/2011
Já passou da hora desse trabalho de restauração florestal em Canarana, realizado pela parceria ISA-Y Ikatu Xingu ganhar algum prêmio expessivo. Trabalho magnífico.

Terra da Gente, 14/09/2011

http://eptv.globo.com/terradagente/NOT,0,0,367931,Cerrado+comeca+a+ser+…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.